O médico português Luis Horta, que atuou como consultor internacional da ABCD até o início dos jogos Rio 2016, afirmou em entrevista a Agência estadão que O Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico do Brasil (COB) dificultaram o controle de doping de atletas do País às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio e "sufocaram" a operação de combate às irregularidades no esporte.
Segundo ele, autoridades chegaram a exigir que os nomes dos atletas que seriam testados fossem revelados com antecipação para o Ministério do Esporte, assim como local e hora do exame, que deveria ser uma surpresa. O médico também revela como, depois de treinar dezenas de técnicos para realizar os testes de doping na Rio-2016, os organizadores dos Jogos ignoraram os esforços feitos com dinheiro público e optaram por chamar "desconhecidos" para trabalhar no evento olímpico.
Doutor em medicina esportiva e professor universitário, Horta foi presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) e presidente da Comissão de Laboratórios da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Em sua avaliação, o doping no Brasil é algo "gravíssimo" e o médico diz que decidiu expor os problemas no País justamente para "ajudar o esporte brasileiro".
Horta disse, que conforme foi se aproximando a data dos Jogos Rio 2016, os entraves sobre o seu trabalho começaram a surgir, via COB e depois via ministério do esporte, com o novo ministro do governo Michel Temer, Leonardo Picciani: "Começamos a sentir que cada vez era mais difícil conseguir viagens para que os nossos oficiais de controle fizessem os testes em atletas. Tínhamos problemas também para transportar os nossos materiais.Fazíamos um plano de controle para uma semana e não conseguíamos cumprir por conta dos entraves logísticos. Chegou a um ponto que o Ministério do Esporte passou a exigir que, com o pedido de viagem, fosse anexado o local, o dia e a hora dos testes e o nome dos atletas."
Após a exoneração de Marco Aurélio Klein, secretário nacional da ABCD, Horta decidiu voltar para Portugal e denunciou a situação afirmando que o comitê Rio 2016 colocou oficiais de antidoping totalmente desconhecidos da ABCD. Durante os Jogos Rio 2016, a Wada fez duras críticas ao sistema de antidoping dos Jogos.
Em nota, o ministério do esporte nega ter ocorrido ingerência sobre exames e restrição a viagens e o comitê Rio 2016 afirma ser equivocada a ideia de que tenha elaborado listas por iniciativa própria.
foto: Doug Mills/ New York times
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