Quando o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) anunciou, no último dia 8, os 25 convocados para o Mundial de Atletismo de Londres,
um importante nome da modalidade precisou ficar de fora. Mais uma vez
se recuperando de um procedimento cirúrgico, Verônica Hipólito desta vez
não estará com os companheiros, que brigam pelos títulos na pista e em
campo entre 14 e 23 de julho. No entanto, a paulista de São Bernardo do
Campo garante que se sentirá representada pela equipe e que já direciona
a preparação para alcançar mais medalhas nos Jogos Paralímpicos de
Tóquio, em 2020.
“Estou me recuperando bem. Tenho que ir de mês em mês nos médicos,
fazer vários exames, mas estou bem. Estou com saúde, viva, e agora é
voltar a correr bem”, conta a atleta, medalhista de prata (100m T38,
para atletas com paralisia cerebral) e de bronze (400m T38) nas
Paralimpíadas do Rio, no ano passado.
Para chegar aos pódios que hoje coleciona, Verônica precisou vencer
uma sequência de desafios na saúde: um tumor no cérebro descoberto em
2008, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que afetou os movimentos do
lado direito do corpo, o diagnóstico de uma síndrome rara, a Polipose
Adenomatosa Familiar, às vésperas dos Jogos Parapan-Americanos de
Toronto, em 2015. Ali, determinada a seguir na carreira, competiu no
Canadá, trouxe três ouros (100m, 200m e 400m T38) e uma prata (salto em
distância T20/37/38) para casa e, só então, enfrentou a cirurgia para
retirada de parte do intestino grosso.
O procedimento no cérebro, por sua vez, ficaria para depois das
conquistas no Rio de Janeiro. “Depois de Toronto, operei o intestino e
segurei a da cabeça. Em janeiro deste ano fiz a cirurgia para retirar o
tumor. Fiquei três meses parada, depois passei mais um mês em
fisioterapia e só treinei por uma semana na pista para voltar a competir
no Circuito Nacional”, conta. No dia 3 de junho deste ano, Verônica fez
a reestreia durante o Circuito Loterias Caixa de Atletismo, em São
Paulo, já faturando o ouro nos 100m e nos 200m T38.
O resultado, contudo, ainda não foi o suficiente para assegurar a
convocação para o Mundial de Londres, do próximo mês. Desta vez, o CPB
estabeleceu altos índices baseados nas primeiras colocações do ranking
de 2016 de cada prova e classe. “Cheguei a 95% do índice para o Mundial,
mas amigos muito queridos estarão lá. Tenho certeza de que vão
representar bem o país e estou me sentindo lá com eles”, comenta
Verônica. “Não vou para o Mundial, mas voltei a correr e já estou feliz
com isso. O ano não acabou, e as minhas medalhas das Paralimpíadas do
Rio me dão muito ânimo. Quero ter excelentes resultados ainda este ano”,
avisa.
A saúde debilitada e em recuperação já ganhou uma nova perspectiva.
“Mesmo com tantas cirurgias e a saúde mais fraca que a dos outros,
continuo ganhando medalhas em todas as competições de que participo”,
argumenta, com serenidade, a paulista de apenas 21 anos, sempre
impulsionada pelos pódios que alcançou nos Jogos do ano passado. “As
medalhas são as minhas queridinhas. Se elas fossem pessoas, estariam
sempre comigo”, brinca.
“Tive momentos bem difíceis antes, com lesões, cirurgias, e ter
conquistado uma prata e um bronze na minha primeira Paralimpíada, com 20
anos, no meu país, foi espetacular. Essas medalhas me deram muita força
para continuar sempre querendo mais e mais. Tóquio para mim já está aí,
e quero ganhar o ouro”, projeta a velocista.
É com o foco em 2020 que ela cria forças para, mais uma vez, se reerguer
e retomar a performance nas pistas. “Quero ter uma saúde muito boa para
não parar em mais um ciclo. Vou dar o meu melhor, meu máximo. Quero dar
orgulho ao Brasil em Tóquio, e acredito que vou, assim como muitos
companheiros meus. Estou animada”, empolga-se.
Foto: Heusi Action/Brasil 2016
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