Renato Rezende cruzou a linha de chegada das quartas de final do
ciclismo BMX frustrado. Com os pés no chão em vez de nos pedais, a
bicicleta a seu lado e de cabeça baixa, o brasileiro viu os Jogos Rio
2016 acabarem enquanto caminhava pelos últimos metros da pista e era
aplaudido pelos torcedores no Parque Radical, em Deodoro. Uma queda na
última curva da terceira corrida e um pneu furado na segunda encerrraram
as possibilidades de classificação para a semifinal.
Os sinais da queda eram visíveis na manga esquerda rasgada, no braço
esfolado e nas lágrimas que Renato não conseguiu segurar. Muito
emocionado com o desfecho das três corridas que definiram os
semifinalistas dos Jogos Olímpicos, sem Renato entre eles, o brasileiro
lembrou dos percalços pelos quais passou até chegar ali. O atleta
quebrou a clavícula este ano e revelou outro problema que o atormentou
antes do evento.
“É um sentimento muito difícil. Foi um ano difícil. Me superei.
Cheguei aqui andando de igual para igual depois de duas lesões, uma que
eu não coloquei em público, nas costas, enquanto treinava nos Estados
Unidos. Foram poucas vezes que treinei sem dor. Depois de tudo isso
quase me classifiquei. É muito doloroso”, lamentou Renato, que via os
Jogos Olímpicos como uma boa oportunidade para divulgar e difundir a
modalidade.
“Essa era minha maior motivação. O BMX no Brasil tem suas
dificuldades como muitos outros esportes, mas está passando por uma fase
difícil. Queria muito ter ido bem para melhorar isso e para que mais
crianças se empolgassem e começassem a praticar. Agora estou na torcida
pela Priscilla. Acredito muito nela”, comentou Renato, citando Priscilla
Carnaval, atleta do Brasil que compete na semifinal feminina nesta
sexta-feira (19.08).
Pneu furado e queda
No BMX, as quartas de final reuniram 32 atletas, divididos em quatro
baterias. A programação previa que todos fizessem três corridas, com um
sistema de pontuação de um a oito de acordo com as posições dos
ciclistas, sendo um para o primeiro e oito para o oitavo. Ao fim das
três corridas, os quatro que tivessem a menor pontuação avançariam para a
semifinal.
Aos 25 anos de idade, Renato Rezende entrou na primeira bateria e
completou a primeira prova na sexta posição, somando seis pontos. Foi
uma das únicas descidas do dia em que nenhum atleta sofreu acidente.
Para o azar de Renato, as duas seguintes acabaram o tirando da disputa.
Depois de uma boa largada na segunda corrida, o brasileiro ocupava a
terceira posição quando alcançou a penúltima das quatro curvas do
circuito. Ao saltar a rampa, ele acabou batendo muito forte com a roda
no chão e o pneu furou. O brasileiro teve que passar caminhando com a
bicicleta e só não terminou em último por que dois outros atletas
ficaram pelo caminho por causa de acidentes mais sérios.
“Os caras que estavam na minha frente não pularam. Na entrada da
rampa eu bati braço com alguém e minha bicicleta praticamente parou. O
mais certo seria eu ter freado, mas eu não freio antes de rampa”,
explicou o ciclista, que chegou à última das três corridas com 12 pontos
somados e chance de classificação.
Para avançar, Renato teria que terminar à frente do holandês Niek
Kimmann, que tinha 11 pontos, e do letão Edzus Treimanis, 10. Após uma
largada ruim, o brasileiro fez uma ótima corrida de recuperação. Ele
entrou na última curva em terceiro e muito perto do segundo colocado,
mas acabou batendo justamente em Kimmann e ficou pelo caminho.
“Estava na minha linha, não sei o que aconteceu. Na hora que ele
bateu em mim ou eu bati nele eu estava sem a roda da frente no chão e
perdi todo o controle. É difícil falar agora. O Niek é meu amigo, sei
que não é maldade ou nada disso, é o BMX. A gente estava mais ou menos
empatados nos pontos e fico feliz que ele tenha conseguido passar. Mas
ao mesmo tempo eu imagino que poderia ter sido eu”, disse Renato.
Descanso e Tóquio 2020
Visivelmente chateado com o resultado, Renato Rezende lembrou da
intensa preparação que precedeu sua participação nos Jogos Rio 2016 e
deixou claro que vai dar início a outro ciclo olímpico visando aos Jogos
de Tóquio 2020. Antes, no entanto, ele quer passar um tempo afastado de
sua companheira de trabalho.
“Quero surfar durante uns dias, esquecer um pouquinho a bike. Esse
ano dei o meu melhor, foquei e abdiquei de tudo. Foi o meu jeito de me
dedicar e me concentrar da melhor forma. Agora quero relaxar um pouco.
Sei que a medalha era difícil, mas meu foco era estar na final. Agora é
descansar. Com certeza venho para o próximo ciclo olímpico”, afirmou o
ciclista, que em Londres também parou nas quartas de final após sofrer
um sério acidente durante a prova.
Embora o resultado não tenha sido o desejado, Renato agradeceu o
carinho do público, que o incentivou do começo ao fim e o aplaudiu muito
enquanto ele caminhava pela linha de chegada ao fim da terceira
corrida.
“Independentemente do resultado, sei que eles estão comigo. Sem
palavras para essa torcida, nunca vi nada igual”, agradeceu Renato.
“Tinha certeza que eu ia passar para amanhã (semifinal) e ia estar muito
maior. Fui para o tudo ou nada, infelizmente não deu”, acrescentou.
Foto: Getty Images
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