Na região portuária do Rio de Janeiro, sob o olhar de uma nativa Mursi - grupo étnico originário da Etiópia -, o paulista Carlos Eduardo Fernandes Leo, o Kobra, posa para foto com um turista italiano e arrisca diálogo em inglês. Embora dure alguns segundos, a cena dá uma boa ideia do conceito que o artista imaginou para o mural de quase 3 mil metros quadrados que encanta quem passa pelo Boulevard Olímpico, na altura do Armazém 3.
“A gente pinta para mostrar a beleza da união dos povos. Eu busco, por
meio dos murais, de alguma forma conscientizar as pessoas do respeito
entre as culturas. A proposta é pintar pela paz, mostrar que qualquer
tipo de intolerância, seja ela política ou religiosa, não justifica a
violência, a guerra. E a Olimpíada é o momento de celebração de tudo
isso. A integração dos povos é algo que as Olimpíadas proporcionam”,
afirma Kobra.
Batizado de “Somos todos um” e apelidado de “Etnias”, o
mural faz parte do projeto de revitalização da zona portuária para os
Jogos Rio 2016 e vai ficar como legado cultural para a cidade. A vocação
turística fica clara diante do fluxo de pessoas que param para tirar
fotos e apreciar a obra. “Eu passei aqui antes e teve uma recuperação
bem interessante da área. Realmente se tornou mais um ponto turístico do
Rio o Boulevard Olímpico. Estou impressionado com a quantidade de
visitantes no Museu do Amanhã (na Praça Mauá), e também veio muita gente
ver o mural. Teve repercussão no mundo inteiro”, conta Kobra.
Continentes
O conceito do trabalho remete ao espírito olímpico,
simbolizado pelos aros que representam os cinco continentes. No mural,
Kobra pintou os rostos de cinco nativos escolhidos entre os povos
originários de cada uma das regiões. No centro, está um brasileiríssimo
índio Tapajó, que representa as Américas. Para a Oceania, Kobra escolheu
a tribo Hulis, de Papua Nova Guiné. O rosto asiático retrata os Karens,
grupo étnico da Tailândia. Na Europa, os Chukchis, povo nômade
originário da Sibéria. E por fim a nativa Mursi, citada no começo da
matéria, representa a África.
O intenso colorido característico do trabalho de Kobra
também guarda um detalhe: faixas verdes e amarelas nos olhos de cada um
dos rostos ligam os povos de todo mundo ao Brasil, país-sede dos Jogos
Olímpicos. “A ideia foi unificá-los pelo verde e amarelo que passa pelos
olhos, pela questão de que todos os povos vão estar presentes aqui e de
todas as pessoas do mundo inteiro que o Rio já recebe”, conta o artista
paulista.
Superlativos
Após mais de 30 dias de trabalho, três mil latas de spray,
100 galões de 18 litros de látex acrílico e 150 galões de 3,6 litros de
esmalte sintético, o mural será oficialmente inaugurado em 4 de agosto,
véspera da abertura dos Jogos Olímpicos. Ao final, pode ser referendado
pelo Guinness Book como o maior mural do mundo com a obra de um só
artista, já que o recorde hoje é de 2 mil metros quadrados.
Como tem trabalho agendado nos Estados Unidos, Kobra não
poderá comparecer. O retorno caloroso das pessoas nessa reta final, no
entanto, dá a certeza ao artista de que o objetivo foi cumprido. “É um
contato intenso. Nos últimos dias, se eu descer do andaime, não consigo
trabalhar. Acho que as pessoas já estão animadas para as Olimpíadas e
entenderam a proposta. Eu busco isso, fazer algo que qualquer pessoa
compreenda. Nas ruas há todo tipo de classe social, então o trabalho tem
que ser democrático. Conforme a pessoa vai caminhando, ela entende que
está aí a questão da paz, que é o que a gente espera, que essa Olimpíada
seja marcada pela paz”, encerra.
Foto: Brasil 2016
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