Em 2015, a ginástica artística masculina alcançou o feito
inédito de classificar toda a equipe para os Jogos Olímpicos. A
conquista do grupo foi durante o Mundial de Glasgow, na Escócia, em
outubro, quando os brasileiros terminaram a competição com o oitavo
lugar na final. Ainda que sem superar a sexta colocação alcançada na
China em 2014, os atletas e técnicos celebraram o objetivo cumprido. Já
para os Jogos Olímpicos, as metas são outras.
“Antes eram dois ou três ginastas, como em Londres, classificados por
aparelhos. Agora conseguimos o que já buscávamos há anos”, afirma o
técnico da seleção masculina, Renato Araújo. “Também tivemos bons
resultados individuais com o Lucas e o Nory, que terminou em quarto na
barra fixa”, relembra. Lucas Bitencourt e Arthur Nory avançaram para a
final no individual geral.
Atingida a principal meta do ano, a comissão técnica precisa, agora,
definir a estratégia para convocar a seleção para os Jogos Olímpicos.
“Vamos escolher os cinco e mais um reserva a partir de avaliações, com
um critério bem amplo. Até o fim de junho precisamos decidir”, explica
Renato. Só então serão traçados os objetivos dos brasileiros no Rio de
Janeiro e a pontuação esperada para o elenco.
O técnico, contudo, não esconde a expectativa por medalhas
individuais. “Dá para conseguir uma ou duas. O Arthur Zanetti tem
chances e o Diego Hypolito, se estiver na equipe, é porque entrou com
muita chance de medalha. Temos também a volta do Sérgio Sasaki, no salto
e no individual geral. O Nory está crescendo muito e pode melhorar
ainda mais o resultado na barra e até disputar medalha”, exemplifica.
Sasaki, uma das esperanças da equipe, ficou de fora das competições de
2015 devido a lesões e cirurgias no joelho e no ombro direito, mas deve
voltar a representar o Brasil a partir de março, em um torneio na
Alemanha.
“Temos um leque de opções para bons resultados. Uma medalha por
equipes não é impossível, mas muito difícil. Vamos ao menos melhorar
nosso resultado se comparado a mundiais”, acrescenta Renato Araújo.
“Todos os países estão correndo atrás e não vai ser fácil, nem mesmo o
bronze. Pode não vir nenhuma medalha, mas a gente tem chance de duas
pelo menos. Lógico que todo mundo quer o ouro, mas medalhar é mais
importante”, avalia o treinador.
Evento-teste
Com a equipe assegurada nos Jogos Olímpicos, a comissão técnica
pretende aproveitar o evento-teste de abril, entre os dias 16 e 20, na
Arena Olímpica do Rio, para testar séries de dois dos principais nomes
do Brasil. “É importante que o Sasaki faça uma boa competição em abril.
Devemos colocar o Zanetti também porque ele vai estar com mudanças na
série, e é importante, como atual campeão olímpico, ele já competir com
público e no ginásio das Olimpíadas”, acredita Renato.
O treinador espera ainda que o fator casa seja positivo para os
brasileiros. “Como técnico-chefe, tenho que passar para os atletas a
experiência positiva que sempre tivemos de competir em casa. Se
perguntarmos a qualquer atleta de futebol se ele prefere jogar no
Maracanã ou na Rússia, ou em outro país, todos vão falar Maracanã. Para a
gente é a mesma coisa”, compara. “Claro que ninguém vai virar
super-homem só porque está no Brasil, não existe milagre. Tudo é
treinado para ser feito na hora como é nos treinos. É o que a gente
espera deles”, aponta.
Bicampeonato
Cauteloso, à espera da lista dos nomes que irão ao Rio de Janeiro,
Arthur Zanetti diz estar a serviço da equipe para competir nos aparelhos
que a comissão técnica julgar necessários. “Ainda não sabemos qual será
o objetivo, mas estou disposto a tudo. Se precisar fazer outros
aparelhos pela equipe, eu faço. Se for para competir só nas argolas,
faço também”, afirma o campeão olímpico de 2012.
Zanetti sabe, contudo, que treinar com foco em um único aparelho
facilita o caminho para o pódio. “Competir em um só é mais tranquilo,
até porque a quantidade de horas de treino dá uma diminuída”, explica.
Nas classificatórias do Mundial de Glasgow, o atleta precisou se
apresentar também no solo e no salto. Nas argolas, acabou com a nona
posição, distante do título mundial de 2013 e das pratas de 2012 e 2014.
“O objetivo não era buscar medalha individual e sim ajudar ao máximo a
equipe. Quando não é um objetivo, a medalha não é a prioridade”, define.
Mesmo sem o pódio, Zanetti não deixou de comemorar em 2015, já que
conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, a medalha que
faltava em seu currículo. Ele também festeja a presença do elenco
completo nos Jogos Olímpicos. “É maravilhoso ter a equipe completa, e
não mais apenas dois ou três atletas. Antes cada um competia num dia.
Agora todos estarão juntos, ao mesmo tempo e no mesmo rodízio, dando
dicas e palavras de apoio na hora, o que é sempre bem-vindo”, acredita.
Depois de duas semanas de férias dos treinos e de uma viagem para
descansar em Balneário Camboriú (SC), o ginasta retomou as atividades no
último dia 4 com um foco definido. “Meu objetivo principal é defender
meu título. Essa é a prioridade no momento para mim, até saber qual será
o objetivo da seleção”, avisa. “Estamos treinando puxado para voltar à
forma física e à força normal. Depois é começar a fazer partes das
séries principais para se preparar para as próximas competições”,
explica o ginasta.
A comissão técnica ainda divulgará o calendário de eventos até agosto
e os representantes brasileiros em cada um deles. Além dos campeonatos,
serão realizados períodos de avaliação com os atletas no Brasil.
Feminino
Por apenas uma posição no Mundial de Glasgow, a seleção feminina não
conseguiu a classificação direta para os Jogos Olímpicos. Agora, a meta
da equipe é carimbar a vaga coletiva durante o evento-teste, em abril,
quando mais quatro seleções se garantirão para o Rio de Janeiro. Além do
Brasil, disputarão o evento-teste feminino França, Bélgica, Alemanha,
Rússia, Austrália, Coreia do Sul e Suíça.
“A gente terá uma equipe um pouco diferente porque, no Mundial, a
Flavinha estava se recuperando de lesão na perna, a Jade estava entrando
em forma depois de uma operação no joelho, e a gente estava sem a
Rebeca. A gente acredita que a equipe estará mais forte no evento-teste e
mais ainda nos Jogos”, avalia a coordenadora da seleção feminina,
Georgette Vidor.
A nova geração tem sido a aposta do grupo, já que Lorrane Oliveira e
Flávia Saraiva, estreantes no Mundial, conseguiram avançar para as
finais do individual geral. Além delas, a equipe espera contar com o
retorno de Rebeca Andrade, que não competiu na Escócia em função de
lesão no joelho direito. “Primeiro precisamos da classificação. Depois,
queremos ficar entre as oito do mundo para entrar na final por equipes.
Também queremos duas ginastas no individual geral e ao menos uma entre
as dez melhores do mundo. Pode ser a Jade, a Lorrane, a Flávia ou a
Rebeca. As quatro têm condições de chegar a essa pontuação”, calcula
Georgette.
A coordenadora acredita ainda em bons resultados nas disputas por
aparelhos. “Temos boas traves e cinco solos fortes. No salto, temos a
Jade e precisamos ver como estará a potência da Rebeca”, explica. Antes
da lesão, Rebeca era vista até mesmo como chance de medalha para o
Brasil. “Se ela estiver com todas as condições de antes, eu esperaria
muita coisa dela, mas ainda não sabemos. A Jade, se continuar como está,
pode ter chance no salto ou na trave”, acredita. “Não queremos colocar
essa expectativa de medalha, e sim de finalistas. Se elas chegarem à
final, entre as oito do mundo, tudo pode acontecer.”
Foto: CBG
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