Pés no chão, ambição, planejamento e trabalho. Os destaques do
treinador da seleção juvenil, Hideo Yamamoto, poderiam definir com
clareza o atual momento do tênis de mesa brasileiro no cenário
internacional. De volta após o Mundial da categoria, na França, em que a
equipe feminina se consolidou como uma das dez melhores do mundo, o
técnico analisou a participação brasileira no torneio, ressaltando a
importância da postura e do aprendizado dos mais jovens diante de fortes
adversários.
“Chegar entre os dez primeiros do mundo não é fácil, mas acredito que o
mais importante foi a maneira como encaramos os melhores adversários,
de igual para igual, com chances de vencer. Hoje o Brasil é um
adversário de respeito no cenário mundial. Nossos atletas estão
recebendo investimento, conseguindo jogar com os melhores jogadores do
mundo e isso a longo prazo nos dará muitas alegrias”, apostou.
A equipe feminina de Bruna Takahashi (13ª colocada no ranking mundial
juvenil), Letícia Nakada (39ª), Martina Kohatsu e Alexia Nakashima,
igualou o melhor resultado brasileiro na história da competição, em
2006, quando Karin Sako, Marianny Nonaka, Jessica Yamada e Gabriela Kock
também ficaram com o décimo lugar. Na primeira fase, elas bateram Egito
e Austrália por 3 partidas a 0; entretanto, não conseguiram chegar às
quartas de final, caindo diante da Coreia do Sul por 3 a 1 e da Alemanha
por 3 a 0 na sequência. Na disputa de 9º ao 12º lugar, venceram a
Bielorússia por 3 a 1 e, em seguida, foram superadas pela Coreia do
Norte pelo mesmo placar.
No masculino, o Brasil foi representado por Gustavo Yokota e Matheus
Shimoki, que disputaram as duplas masculinas e mistas, além do
individual, em que pararam na fase de grupos. Juntos, estrearam com
vitória de 3 sets a 1 (8/11, 12/10, 11/7 e 11/4) sobre os russos Maksim
Kiselev/Andrey Semenov (172º). Na fase seguinte, no entanto, foram
vencidos por 3 a 0 (11/7, 11/1, e 11/4) pelos chineses Liu Dingshuo/Zhu
Cheng (50º no sub-21), que viriam a conquistar a medalha de prata.
“Por ser a primeira experiência deles no Mundial, acredito que o
desempenho foi positivo. Os dois ficaram um pouco tensos devido à
grandeza do evento e poderiam render mais. Ainda assim, ambos tiveram
chance de avançar à chave principal no individual, mas pecaram em alguns
momentos decisivos”, avaliou Yamamoto.
Campeã do Desafio Mundial de Cadetes, em outubro, o primeiro título
mundial do Brasil na história da modalidade, Bruna Takahashi foi a única
brasileira a começar a disputa já na chave principal. Na primeira
rodada, acabou superada por Zhang Xuan (45ª) por 4 sets a 2, parciais de
11/5, 10/12, 7/11, 11/6, 11/7 e 12/10. Ela já tinha enfrentado a
espanhola em outras duas ocasiões: a fase de grupos do Mundial de 2014 e
o Aberto da Espanha este ano. Em ambas, a rival levou a melhor.
“Zhang é canhota e joga muito bem com a disputa rápida que a Bruna tem.
É o típico jogo que se encaixa perfeitamente para a adversária.
Faltaram para a Bruna variações de lugar, efeito e ritmo de seu ataque
durante a disputa para conseguir finalizar. Ela tentou isso de todas as
formas, mas como não é o seu normal, acabou levando desvantagem na troca
de bolas”, avaliou o treinador.
Leticia Nakada, por sua vez, enfrentou a francesa Leili Mostafavi
(80ª), que conseguiu triunfar por 4 a 1 (11/7, 11/6, 8/11, 11/8 e
12/10). Hideo destacou a dificuldade no chaveamento e o aprendizado das
brasileiras ao fazerem boas partidas contra adversárias de qualidade.
“No feminino, talvez tenha ficado a sensação de que poderíamos ter
avançado um pouco mais. Logo que saiu o sorteio, vi que tínhamos
confrontos muitos difíceis no nosso caminho. Leticia também jogou contra
uma canhota, de saque muito bom, com grandes variações de efeito.
Apesar de lutar bastante, ela não conseguiu encontrar soluções para
recepcionar melhor e atacar, não conseguindo impor seu jogo. Em ambas as
partidas, as adversários tiveram todo mérito, mas as derrotas foram um
grande aprendizado para elas”, afirmou.
Em parceria que rendeu o primeiro título feminino do país numa etapa
adulta de Circuito Mundial – o Aberto do Chile, em setembro -, Bruna e
Letícia estrearam com vitória nas duplas sobre as canadenses Alicia Cote
(183ª)/Justina Yeung (256ª). Nas oitavas de final, foram eliminadas
pelas sul-coreanas Dayeon Kang (53ª)/Haeun Kim: 3 sets a 0, parciais de
11/4, 11/7 e 11/8.
“Chegar entre as 16 melhores não é fácil. Tivemos um jogo
complicadíssimo contra o Canadá e pegamos a Coreia do Sul em seguida. O
ritmo era muito mais rápido e elas não conseguiam se manter equilibradas
durante as trocas de bolas. Era um jogo em que realmente sabíamos da
dificuldade e chegamos onde podíamos. Mas, sem dúvida, que é uma
excelente dupla para o Brasil agora e nos dará muitas medalhas no
futuro”, afirmou Hideo.
Diferentemente da edição passada, em que parou na fase de grupos,
Alexia Nakashima conseguiu chegar à chave principal. Na estreia, fez um
jogo duro contra a francesa Marie Migot (29ª), perdido por 4 a 1 (11/7,
11/7, 11/6, 10/12, 11/8), e depois se recuperou com bela vitória sobre a
alemã Jennie Wolf (131ª) - 4 a 3, parciais de 11/9, 9/11, 11/4, 11/7,
8/11, 4/11 e 11/9). Já nas eliminatórias, caiu para a sul-coreana Dayeon
Kang (4 a 1 -11/7, 11/9, 11/3, 9/11 e 11/6). Por isso, o desempenho da
catarinense também foi alvo de elogios do técnico.
“A Alexia caiu em um grupo difícil no individual e conseguiu boas
vitórias ao longo do Mundial, inclusive sobre uma jogadora da Alemanha.
Ela mesma disse que conseguiu jogar melhor, de forma mais competitiva,
com mais chance de vencer do que no ano passado. Ela saiu muito feliz
pelo desempenho alcançado este ano, pela melhora significativa de um ano
para o outro”, revelou o treinador.
Campeã brasileira da categoria em Lauro de Freitas (BA), justamente
contra Alexia, Martina Kohatsu chegou a virar a partida contra a russa
Maria Malanina (93ª), mas acabou superada por 4 a 3 (11/6, 6/11, 9/11,
11/6, 11/8, 9/11 e 11/7). Na sequência, a sueca Fillipa Bergand levou a
melhor por 4 a 1 (11/8, 11/5, 11/5, 9/11 e 11/7), conquistando a segunda
vaga do grupo 5 nas eliminatórias.
“Foi a primeira participação da Martina no Mundial, e ela também caiu
num grupo difícil, em que teve chance real de vencer a Maria, que é
muito forte. Depois perdeu para uma jogadora da Suécia nos grupos e
acabou não chegando à chave principal, mas teve uma vitória muito boa
nas disputas por equipes em cima da Bielorrússia. Acredito que, para uma
primeira participação, ela foi muito bem, e conseguiu um triunfo muito
importante para estarmos entre os 10 melhores do mundo”, afirmou
Yamamoto.
Diante dos grandes resultados em competições internacionais e do alto
investimento em intercâmbios, a temporada levou as seleções de base a
outro patamar. Tendo isso em vista, Hideo acredita que os campeonatos
das categorias mais jovens devem ter as medalhas e títulos como meta,
mas sem nunca perder de vista a evolução técnica.
“Eu acredito que estamos em um degrau acima de pensar só no
aperfeiçoamento. Temos de ir a esses torneios com o objetivo de vencer
ou tentar chegar mais longe possível, e o aprendizado e a experiência
serão consequências disso. Temos que usar todas as nossas ferramentas
para tentar ganhar, e, se não conseguirmos, precisamos ter sabedoria
para absorver as lições e evoluir no dia a dia”, concluiu.
Foto: Divulgação
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