Foto: Autor Desconhecido |
Durante as Olimpíadas de 1920, Antuérpia sentiu o perfume de Suzanne Lenglen. Ainda não lhe chamavam de "Diva", mas a sua imagem era já marcante. Pelo estilo e pela ousadia. Quando em 1905, May Sutton ganhou Wimbledon jogando com uma saia pouco acima do joelho choveram nos jornais ingleses críticas por tamanha ousadia. Escândalo maior estouraria 14 anos volvidos, quando a francesa, eletrizante, desafiou a visão patriarcal que impunha até o modo de vestir das mulheres num dos espaços sagrados da moral vitoriana.
Antes de si, e excepção feita ao arrojo de Sutton, as tenistas disputavam as partidas com longas saias por baixo de apertados corpetes. Após Suzanne Lenglen, tudo mudou. Levantou as bainhas, descobriu os braços e só usou meias da cor da pele para se proteger do frio. Nesse ano de 1919, veio sua primeira vitória em Wimbledon, num duelo empolgante com Dorothea Chambers — e depois um domínio incontestável até 1926. Sete anos em que, para além do título olímpico, não permitiu que as adversárias por junto e atacado lhe ganhassem mais de cinco jogos.
E perdeu apenas dois torneios — em 1921, no US Open, foi para o court com quase 40 graus de febre, não aguentou a doença e desistiu, oferecendo a vitória à americana Molla Mallory; em Wimbledon, em 1926, desistiu na terceira rodada, por lesão num braço. Iniciara-se no tênis em 1913 e no ano seguinte sagraria-se logo campeã mundial no saibro. Foram os anos da Guerra que a impediram de alargar ainda mais a fantástica lista de títulos, recheada de vitórias em Wimbledon, Roland Garros, U. S. Open — e, mais que isso por uma fascinante forma de atuar, dando ao jogo beleza e charme como nunca tivera, nunca se imaginara que pudesse ter.
Suzanne Lenglen foi a primeira grande jogadora profissional de ténis. E por isso já não pôde estar nos Jogos Olímpicos de Paris, quatro anos depois da vitória em Antuérpia. Foi a grande mágoa dos franceses. A sua popularidade galgara já pelo mundo inteiro. Em Inglaterra era tal que antes de Wimbledon a publicidade se fazia com imagens suas nos painéis publicitários dos tradicionais autocarros londrinos e uma simples palavra como íman: Suzanne!
Foi por ela que se construiu em Wimbledon uma quadra de 14 mil lugares. Fama e glória conquistadas, passou a viver em Nice, montou o seu clube de ténis, por lá passavam, alardeando-se, artistas, políticos, reis, rainhas, príncipes, princesas, marajás.
Esta matéria é uma adaptação de reportagem da série "O Século XX do Desporto", do jornal português A Bola.
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