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Surto História - O drama de Pietri Dorando na maratona olímpica

Foto: Autor Desconhecido
Foi a primeira maratona com 42.195 metros simplesmente para que uma das princesas pudesse ver a partida da janela do palácio real. Essa foi a distancia do ponto de partida até ao Estádio Olímpico. À beira da meta, em estado de exaustão, coberto de pó e de suor, cambaleante, semi-inconsciente, um italiano, chamado Pietri Dorando.

Em ziguezagues se foi arrastando pela pista. A cinco metros da meta, a cinco metros do sonho, desfaleceu. Tentou levantar-se vezes sem conta mas em vão. Nas bancadas os ingleses tinham os corações palpitando por si.

Um homem que estava na arquibancada acompanhando toda a cena o ajudou a cruzar a linha de chegada. Era Arthur Conan Doyle, famoso autor das histórias de Sherlock Holmes. Por ter recebido ajuda externa foi desclassificado. E o título olímpico entregue ao americano Johnny Haynes. Mas Dorando Pietri não deixou de ser um herói olímpico, nem sequer a mais lendária figura desses Jogos de 1908. No dia seguinte a rainha Alexandra pediu que subisse ao seu camarote real. 

Ele foi, embrulhado na bandeira italiana. Emocionada, a rainha da Inglaterra disse: "Não tenho medalha nem diploma nem coroa de louros para lhe dar, senhor Pietri, mas para que não leve só más recordações de Inglaterra receba esta taça de ouro, como prova da nossa admiração pelo seu comportamento, pela sua heroicidade que tanto me comoveu". O Daily Mail abriu de imediato uma "vaquinha", que rendeu mais 300 libras a Dorando. A sua fama alastrou de tal forma que o chamaram para os Estados Unidos, tornando-se um profissional. Por isso não pode voltar a competir nos Jogos Olímpicos. Por duas vezes venceu a Maratona de Nova Iorque, consolidando seu nome entre os grandes da maratona em todos os tempos.

Muito dinheiro arrecadou. Voltou a Capri, onde já vivia, mas um irmão, sabe-se lá o motivo, lhe tomou toda sua fortuna e Pietri Dorando acabaria por morrer sem grande riqueza, aos 56 anos.

As repercussões:

Arthur Conan Doyle: "Era horrível e ao mesmo tempo fascinante, a luta entre a vontade e a exaustão de um homem a enfrentar o seu destino"

Johnny Haynes: "Parecia aquela lenda da maratona, do soldado grego a morrer ao chegar à cidade... Arrepiava ver aquele drama do italiano, apesar de eu quase já não ter força para continuar... Cometi um grande erro ao não comer nem beber durante a maratona. Antes da partida fiz o desjejum, duas onças de bife, duas torradas e uma xícara de chá... Ao longo dos 42 quilômetros apenas molhei a cara com água e fui gargarejando a garganta com brandy (conhaque), sem nunca engolir. E foi assim que ganhei a maratona — ou melhor, só ganhei porque aconteceu aquela tragédia ao italiano..."

Esta matéria é uma adaptação de reportagem da série "O Século XX do Desporto", do jornal português A Bola.

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