Últimas Notícias

Atletas mostram preocupação com condições das águas do Rio em 2016

A poluição das águas que serão palco das competições da vela e do remo das Olimpíadas de 2016, assunto de uma reportagem do Washington Post na última quarta-feira, faz parte da rotina de atletas que treinam na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas. Destaques brasileiros desses esportes reconhecem que as condições são longe de ser ideais, mostram preocupação com a situação, mas também indicam um exagero da imprensa americana ao apontar o alto perigo de doenças para os atletas

Principal nome da remo brasileiro, a campeã mundial Fabiana Beltrame teme que uma mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas afete a disputa dos Jogos em 2016. Nos últimos anos, isso aconteceu algumas vezes, provocando um forte cheiro no local e atrapalhando os treinos dos remadores.
   
- Não vejo melhora alguma na limpeza da lagoa, mas também nunca fiquei doente por conta da água. Acho que a maior preocupação é ter uma mortandade de peixes durante os Jogos. Seria um desastre. Não gostaria que pessoas do mundo todo viessem para cá e saíssem com uma imagem ruim do país. Mas não dá para esconder a realidade - disse a atleta. 

Se em 2007, nos Jogos Pan-Americanos, soluções paliativas como redes nas saídas de esgoto e correntes de boias trouxeram melhorias durante as disputas da vela, a esperança de quem conhece bem o local é que, desta vez, um legado permanente fique para a cidade: a despoluição da Baía de Guanabara.

Na semana passada, o campeão mundial da classe Finn deste ano, Jorge Zarif , quase bateu em uma árvore grande que estava boiando nas águas turvas da Baía de Guanabara. As condições são bem difíceis em dias pós-chuva, quando a sujeira desce dos morros das cidades ao redor, ou dependendo da corrente marítima. Ele já ouviu relatos de companheiros que precisaram desviar de um cavalo morto na água. Zarif teme que as regatas sejam prejudicadas.       

- Dependendo da semana, você pode dar sorte de estar muito bom ou péssimo. A vela nas Olimpíadas normalmente dura 12 dias. Então, a chance de pegar todos os dias bons é pequena. Há um risco das regatas serem prejudicadas, mas ainda dá tempo de melhorar. É difícil você se preparar durante quatro anos e uma bobeira dessa acontece.  Com certeza não é uma coisa legal para o país. O mundo todo vai ver as Olimpíadas, e a gente vai mostrar o que nós somos.  

O governo do estado planeja reduzir a poluição da Baía de Guanabara em até 80% até 2016. Zarif frequenta o local há dez anos e não percebe muitas mudanças. Garrafas pet são comuns. Às vezes, sacos plásticos ficam presos no leme dos barcos. Situação habitual dentre os brasileiros, mas que irrita os estrangeiros.

- No Pan deu uma melhoradinha. Mas a gente está organizando uma Olimpíada e se fala muito no legado. Seria bacana deixar isso, não só para o Rio, mas para as várias cidades no entorno da Baía: São Gonçalo, Niterói. Botar rede em volta da saída de esgoto foi jogar a sujeira para debaixo do tapete. Como brasileiro, eu torço para que a despoluição aconteça. Agora, 80% é um numero muito alto e uma missão difícil. São cento e poucos rios que desembocam na baía. Por enquanto, não estou vendo muita coisa mudar. Falta menos de três anos. Só se começar hoje...

Medalha de bronze ao lado de Lars Grael nos Jogos de Seul 1988, Clínio Freitas não compete mais, porém continua velejando na Baía de Guanabara. Já viu sofá e, recentemente, um barco de um amigo teve o casco quebrado ao se chocar em um pedaço de madeira. Ele teme que novamente se apele às soluções paliativas em 2016.

- A coisa não é nada boa. A gente só consegue ver alguma melhoras por causas naturais, quando temos marés variáveis e intensas. Aí há uma renovação de água. E quando há uma estiagem de chuva. Fora isso, cada dia é pior. Para começar, a água tem um aspecto turvo e escuro. Tem dia que está esverdeado, parece um pântano. Para a vela, seria ótimo fazer as Olimpíadas em Búzios. Mas a gente deixaria passar uma oportunidade para despoluir a Baía. Seria o maior legado para a cidade. Se abrirmos mão, isso não vai acontecer.

Aos 49 anos, Freitas, porém, acredita que os riscos de doença citados pelo Washington Post são exagerados.

- Eu sou saudável. Engulo água desde os 10 anos. Cair na água, beber e passar mal é um pouco de exagero. De qualquer forma concordo que a qualidade da água é ruim.

Zarif também nunca ficou doente por causa das águas da Baía de Guanabara. Nem soube de alguém que tenha ficado. Mas lamenta o fato de não poder usufruir da melhor maneira possível de um dos cartões-postais do Rio de Janeiro.

- Nunca ninguém veio reclamar comigo, mas é desagradável não poder pular na água porque é muito suja. Já devo ter engolido um pouco de água. Mas não é aconselhado.
 
Em relação à poluição da orla carioca, também citada pelo jornal americano, a campeã mundial de maratona aquática Poliana Okimoto não demonstra muita preocupação. Para a brasileira, o mar de Copacabana, onde será disputada a modalidade, é um dos melhores locais do mundo para praticar o esporte.

- A minha primeira prova de maratona aquática foi no Rio de Janeiro, em 2005, e eu nunca tive qualquer problema de saúde ou nada parecido. Além disso, tenho certeza de que a organização dos Jogos Olímpicos do Brasil está trabalhando para melhorar, ainda mais, as condições da cidade, que já são ótimas. Por outro lado, eu já competi em diversos países em que as condições das águas eram precárias. Também já tive que nadar em mares com muitos galhos e objetos estranhos que poderiam ter me causado danos físicos. Se for comparar, o Rio de Janeiro é um dos melhores lugares para nadar - garantiu.


Foto: Agência o Globo
Fonte: Globoesporte.com

0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar