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Prata no Mundial Juvenil, Vitor Hugo sofre com estrutura precária de treino







Nascido e criado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Vitor Hugo Silva Mourão dos Santos saiu do anonimato. O flamenguista de família modesta conquistou, na semana passada, a medalha de prata no Mundial Juvenil de Atletismo nos 200m, disputado em Donetski, na Ucrânia. Em clima de festa e com desejo de comida brasileira, o jovem foi recebido em casa com almoço especial e muitos cumprimentos dos vizinhos.

- Ganhar a medalha no Mundial Juvenil foi demais, às vezes ainda me questiono se é verdade. Foi maravilhoso e muito cansativo, mas estou muito feliz. Chegar em casa foi ainda melhor, quando comi arroz, feijão e frango à parmegiana da minha mãe. A comida lá é muito diferente. Os meus vizinhos me assistiram pela televisão e foi engraçado chegar e ser reconhecido na rua – declarou o garoto de 17 anos .


Vitor Hugo é o homem da casa onde mora com a mãe Márcia Cristina, as irmãs Juliana e Gabriela e a sobrinha de um ano de idade. Com a mãe desempregada, ele ajuda nas contas da casa com a bolsa salário da sua equipe, a  BRF, no valor de R$ 600 mais R$ 1.500 do patrocinador. Recém-inscrito no programa Bolsa Atleta, do Governo Federal, o atleta que dorme na sala da casa da família espera ansioso para saber se será contemplado pelo beneficio, para ajudar da reforma da casa.

- Temos ajuda do patrocinador da equipe, mas não se estende a minha família. Sonho conquistar uma medalha nas Olimpíadas, mas para realizar esse sonho preciso me dedicar e não consigo trabalhar. Moramos em casa própria, mas precisamos fazer uma reforma para minha mãe e comprar uma casa para mim – declarou o atleta.

No alto de seus 1,90m, Vitor é tímido. Estudante do 1º ano do Ensino Médio, pensa em fazer faculdade mas não sabe qual área deseja cursar. Por ser o único homem da casa, o jovem aproveita as "mordomias" e não precisa se empenhar nas atividades domésticas. Seu dia a dia se resume aos estudos e aos treinos, onde encontra a namorada Thais Vides, de 19 anos, integrante da mesma equipe.

- Depois que ele começou a correr, se soltou mais. Era muito tímido. E, ao mesmo tempo, muito determinado. A princípio, ele sempre soube que não seria fácil, chegou ali e viu que nada era impossível. Chegou até a final, e eu já sabia que ele estaria no pódio - afirmou a mãe do velocista, Márcia Cristina.

Apesar de rubro-negro, Vitor Hugo nunca se interessou por futebol. A corrida é uma inspiração de família. Motivado pelo tio e pela irmã mais velha, que também se aventuraram nas pistas. Depois da medalha de prata nos 200m no Mundial sub-17 com o tempo de 20s67, ele sonha quebrar o recorde do ídolo Usain Bolt na categoria. Em 2003, o jamaicano correu os 200m em 20s16. A próxima tentativa do brasileiro será em Medellín, na Colômbia, durante o Pan-Americano de Juvenis, de 23 a 25 de agosto.
- Este é o meu último ano na categoria  juvenil. No meu calendário este ano, ainda tenho o Campeonato Brasileiro, o Sul-Americano e o Pan-Americano na categoria para atletas de 17 anos. Ainda tenho essas oportunidades para tentar quebrar a marca do Bolt - disse, otimista, Vitor Hugo.

Determinado e com objetivos claros, Vitor é uma promessa do atletismo brasileiro. Mas assim como centenas de outros jovens valores, pode ficar pelo caminho pela falta de apoio e condições adequadas de treino. A equipe BRF treina diariamente na Vila Olímpica de Jacarepaguá. Mas as condições são precárias, com equipamentos velhos e antigos, até mesmo fora dos tamanhos e padrões olímpicos. Vitor e sua equipe são orientados pelo treinador Paulo Servo, conhecido por revelar e alavancar a carreira de nomes como Rosângela Santos, ouro no Pan- Americano 2011 em Guadalajara nos 100m com apenas 20 anos, e Bárbara Leôncio, atleta campeã dos 200m no Mundial Juvenil de 2007.


- As condições de treino são muito precárias. A pista que deveria ter 7mm de espessura está no piso cru. Os emborrachados já não existem. Não temos equipamentos mínimos para treinar os atletas. Com os nossos recursos, tentamos estar o mais próximo possível do que eles vivem nas competições, mas é muito difícil – revelou o treinador da equipe Paulo Servo.

Comentarista de atletismo do SporTV, Lauter Nogueira reforça o discurso de que é preciso mais atenção e investimento ao atletismo brasileiro. E destaca que o Rio de Janeiro, cidade que vai receber os Jogos Olímpicos de 2016, não possui estrutura para os atletas. Recentemente, a Cidade Maravilhosa perdeu o Célio de Barros por causa das reformas no Maracanã para a Copa de 2014 e viu o Engenhão ser interditado.

- Vitor Hugo é carioca e não tem uma pista decente para competir e treinar. É a casa do Rio 2016, e Vitor é um atleta que teima em virar herói da resistência. Se não conseguir estrutura no Rio, vai acabar arrumando a mala e vai se mudar para outro lugar para então treinar melhor- alertou Lauter Nogueira.

Rosângela Santos, companheira de equipe de Vitor Hugo, acredita muito no potencial e no futuro do jovem atleta.
- Não acho nem um pouco difícil ele se classificar para o Rio 2016. Assim como acho muito possível ele quebrar esse recorde do Bolt em Medellín. Lá, a pista é propicia à quebra de marcas. A pista tem um vento geralmente favorável, e a altitude ajuda - disse a medalhista pan-americana.

Ela considera que além de rápido, Vitor Hugo é também um atleta forte mentalmente.

- Vitor é muito cabeça firme. Asafa Powell foi recordista nos 100m e nunca conseguiu uma medalha em Mundial ou Jogos Olímpicos nesta prova. Sempre teve uma cabeça fraca para competição. Vitor é determinado. No Troféu Brasil, ele desbancou muitos adultos e tem que ser assim mesmo. Tem que ir para cima, não poder respeitar, não. O respeito fica fora das pistas - declarou a empolgada Rosângela.


Fonte e imagem: globoesporte.com

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