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Sergei Bubka entrou na disputa. Em setembro, o ucraniano concorre com, até o momento, cinco outros candidatos pela presidência do Comitê Olímpico Internacional. Se fosse no salto com vara, os outros caras poderiam tremer ou desistir, tanto faz, mas como a coisa se decide no voto, o desafio de Bubka é grande. E, se vencer nas urnas, o desafio será gigantesco.

Juan Antonio Samaranch recebeu o COI, em 1980, com a missão insólita de não deixar o movimento olímpico morrer. O prejuízo da prefeitura de Montreal, por causa das Olimpíadas de 1976, afugentou muita gente que pretendia receber o evento. Mas os Jogos de Los Angeles/84, primeiros de verão realmente organizados pela administração do espanhol, foram um sucesso econômico (graças a um novo sistema para vender cotas de patrocínio) e garantiram que cidades mundo afora continuassem cobiçando o direito de hastear a bandeira dos cinco anéis. Ele também compreendeu que o esporte profissional não poderia continuar alijado da competição, fosse porque o mais atraente para o público era ver uma competição entre os melhores de fato, fosse porque o esporte amador, na prática, não passasse de fachada fajuta. Seja lá como for, Samaranch começou por admitir jogadores de futebol profissional, ainda que sub-23, em 1984, depois admitiu jogadores do circuito profissional de tênis, em 1988, até que, finalmente, abraçou, junto com a Fiba, os craques da bola ao cesto da NBA.

Quando passou o chama da presidência do COI para Jacques Rogge, em 2001, Samaranch deixava de herança um comitê olímpico que oferecia um produto atraente, mas envolto em desconfiança. O caso de suborno na escolha de Salt Lake City, em 1995, para sede dos Jogos de Inverno de 2002 pôs em xeque as eleições olímpicas. Curiosamente, sob o comando do belga, o COI elegeu Londres para os Jogos de 2012, quando a disputa parecia entre Paris e Madri, e escolheu o Rio de Janeiro para 2016, quando muita gente achava que Chicago, com discurso de Obama e tudo mais, não perderia a disputa – até onde se sabe, sem indícios nem denúncias de irregularidades, diga-se.

De qualquer forma, com Rogge, se desenrolaram duas das melhores Olimpíadas modernas da história dos Jogos – em termos de organização, é claro. A quase imbatível edição de Pequim, em 2008, e as Olimpíadas de Londres, ano passado, mereceram palmas, porque, depois do fiasco estrutural de Atlanta/1996, o medo de outra olimpíada mal planejada sempre vem à tona. O danado é que, justamente no ponto mais alto do comando do belga está o problema que os candidatos à presidência do COI estão encarando.

A suntuosidade das praças esportivas e as obras de infraestrutura na cidade custaram, para Pequim, cerca de US$ 44 bi. Londres, com uma conta bem mais modesta, gastou 8,92 bilhões de libras, ou US$ 13,5 bi. Valor consideravelmente menor, mas nada que tenha deixado o contribuinte britânico animado.

O fato é que, hoje, se governos, empreiteiros e multinacionais vibram com a possibilidade de receber as Olimpíadas, na era Rogge, a coisa ficou cara. O risco não é de que, de um dia para o outro, candidaturas a sede olímpica fiquem pelo meio do caminho, mas, sim, é de que os Jogos Olímpicos se tornem um evento non-grato, antipático, meramente supérfluo, e o cidadão pense duas vezes antes de comemorar a vitória numa eleição assim e encare o dever de receber os melhores atletas do mundo como maldição das cidades derrotadas.

Quando a Grécia foi à bancarrota, houve quem recordasse que, em 2004, Atenas gastou cerca de 11 bilhões de dólares para organizar a festa do esporte mundial. Mesmo com a ressalva de que outros países entraram em crise e não tiveram de sediar olimpíadas recentes, é preciso que o próximo presidente do COI, sendo saltador com vara ou não, tenha em mente que atribuírem a falência dos pais do olimpismo, em parte, às Olimpíadas é um sinal de alerta. Um sinal vindo do olimpo.

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