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Papa Francisco e o esporte: paz, inclusão e fraternidade

Papa Francisco foi um grande defensor do esporte como agente de transformação (Foto: Reprodução / Vatican News)
Papa Francisco foi um grande defensor do esporte como agente de transformação (Foto: Reprodução / Vatican News)

Que o Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, é apaixonado por futebol, muitos já sabem. Desde os tempos de infância, jogando partidas nas ruas de Buenos Aires, até o carinho declarado pelo seu clube do coração, o San Lorenzo, o esporte sempre fez parte da sua vida. Mas a influência do pontífice vai muito além dos gramados. Você sabia que Francisco também construiu uma sólida relação com o movimento olímpico e outras modalidades esportivas?

Ao longo dos anos, Francisco adotou uma visão progressista sobre o esporte. Em suas falas, destacava o potencial transformador das práticas esportivas, que via não apenas como exercício físico, mas como expressão de liberdade, espiritualidade e conexão com a natureza.

Essa perspectiva dialoga com seu compromisso de aproximar a fé das realidades humanas, especialmente das juventudes e dos mais vulneráveis.

Neste texto, vamos explorar como o Papa enxergava o esporte como instrumento de paz, fraternidade e inclusão social: uma extensão de sua missão espiritual e humanitária.

Discursos que marcaram

Encontro do Papa no Vaticano com os membros da Associação Esportiva Athletica Vaticana. (Foto: VATICAN MEDIA Divisione Foto)Encontro do Papa no Vaticano com os membros da Associação Esportiva Athletica Vaticana. (Foto: VATICAN MEDIA Divisione Foto)
Encontro do Papa no Vaticano com os membros da Associação Esportiva Athletica Vaticana. (Foto: VATICAN MEDIA / Divisione Foto)

O Papa utilizou diversas ocasiões para valorizar os princípios esportivos. Em 2014, celebrou em Roma a “Missa dos Desportistas” e o centenário do Comitê Olímpico Italiano (CONI), exaltando o lema “Citius, Altius, Fortius” como símbolo de superação e solidariedade.

Em 2022, durante o encerramento da cúpula internacional do esporte, o Papa Francisco reforçou a importância da presença de atletas de alto rendimento no combate à cultura do descarte, especialmente por serem referências para os mais jovens. Segundo o pontífice, o esporte voltado para a formação pode resgatar a dignidade das pessoas mas, quando perde esse propósito, corre o risco de se transformar em uma engrenagem voltada apenas ao lucro e ao espetáculo.

Fora dessa lógica corre-se o risco de cair na ‘máquina’ do business, do lucro, de uma espetacularidade consumista, que produz ‘personagens’ cuja imagem pode ser explorada. Mas isso não é mais esporte. O esporte é um bem educativo e social, e deve permanecer assim! Por isso, temos a responsabilidade de garantir que ele seja acessível a todos.

Em janeiro de 2024, durante encontro com membros da Athletica Vaticana e seus familiares, afirmou:

Espero que o esporte possa construir pontes, derrubar barreiras e promover relações pacíficas num mundo em crise.

No mesmo ano, em carta ao Corriere dello Sport, chamou o esporte de “hino à vida”, ressaltando a fraternidade em campo:

Joga-se juntos, sabendo que se é adversário somente em campo, nunca inimigos.

Olimpíadas: um sinal de esperança

Papa Francisco recebeu participantes da cúpula internacional sobre esporte (Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane)
Papa Francisco recebeu participantes da cúpula internacional sobre esporte (Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane)

Francisco também deixou sua marca no universo olímpico. Ele escreveu o prefácio do livro Jogos de Paz – A alma das Olimpíadas e Paralimpíadas, no qual defende que os Jogos podem ser uma “trégua olímpica” em tempos sombrios:

Hoje a minha esperança é que o apelo por uma trégua, desencadeada pela linguagem popular olímpica, compreensível em todas as latitudes, possa ser aceito.

Segundo ele, o espírito olímpico, com suas histórias de redenção, superação e fraternidade, pode funcionar como “canal diplomático original” e “antídoto contra a violência”.

Em 2021, o Comitê Olímpico Internacional adicionou a palavra Communiter (“Juntos”) ao lema olímpico. A mudança, que foi bem recebida pelo Papa, reforça a dimensão coletiva da competição: “Mais rápido, mais alto, mais forte – juntos.

Ainda sobre os Jogos, Francisco:

  • Elogiou atletas paralímpicos e refugiados como “construtores da paz” (Pequim, 2022);
  • Enviou carta aos atletas de Paris 2024, definindo o esporte como uma “jornada pela vida” que ensina humildade na vitória e dignidade na derrota.
Curiosidade: quando Roma se candidatou a sede das Olimpíadas de 2024, cogitou-se que a prova de tiro com arco fosse realizada na Praça São Pedro, e a candidatura recebeu o apoio formal do Papa.

Iniciativas esportivas no Vaticano

Rien Schuurhuis participoi do campeonato mundial de ciclismo de 2022 representando a Athletica Vaticana (Foto: Reprodução / Vatican News).
Rien Schuurhuis participoi do campeonato mundial de ciclismo de 2022 representando a Athletica Vaticana (Foto: Reprodução / Vatican News).

Como chefe de Estado do Vaticano, Francisco também promoveu ações concretas no campo esportivo. Em 2019, apoiou a fundação da Athletica Vaticana, primeira equipe esportiva da Santa Sé, reconhecida oficialmente pelo CONI. O clube reúne padres, freiras, guardas suíços e funcionários que treinam modalidades como corrida, ciclismo, canoagem e futebol.

A equipe já participou de competições internacionais com atletas como:

  • Rien Schuurhuis (ciclismo), que representou o Vaticano em três Mundiais;
  • Sara Carnicelli (atletismo), que conquistou bronze nos 5.000m do Campeonato dos Pequenos Países da Europa - embora a medalha tenha sido simbólica, já que o Vaticano ainda não possui federação oficial reconhecida.
O monsenhor José Sanchez de Toca y Alameda, considerado o “ministro dos Esportes” da Santa Sé, afirma:
Nosso comitê olímpico seria acima de tudo simbólico. Mas mostraria que os valores do Olimpismo podem ser compartilhados pelos cristãos.
Para ser reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o país precisa ter pelo menos cinco federações filiadas a entidades internacionais e esse número está crescendo. Atualmente, o Vaticano já integra federações internacionais como:
  • UCI (Ciclismo),
  • World Taekwondo,
  • Federação Internacional de Padel,
  • e estuda adesão à World Athletics.

Surfe: fé, liberdade e comunhão

Papa Francisco participou da fundação do movimento Scholas Occurrentes na Argentina (Foto: Reprodução / Instagram @escuelademaryplaya)
Papa Francisco participou da fundação do movimento Scholas Occurrentes na Argentina (Foto: Reprodução / Instagram @escuelademaryplaya)

Um capítulo à parte na relação de Francisco com o esporte é o surfe. Através da organização Scholas Occurrentes, fundada por ele enquanto ainda era arcebispo na Argentina, o Papa se aproximou de projetos sociais ligados ao surfe como Surfers Not Street Children e Tofo Surf Club (Moçambique).

Durante congresso pela paz no Vaticano (2016), Francisco recebeu e autografou pranchas como símbolo de apoio a surfistas e educadores sociais. Na JMJ 2023, em Portugal, lançou uma metáfora potente:
“Sejam surfistas de coração! Encarem os altos e baixos da vida com coragem, equilíbrio e fé.”

Futebol: a primeira paixão de Papa Francisco

O jogador Ronaldinho ao lado do Papa Francisco e de José María del Corral, presidente da Fundação Scholas Ocurrentes (Foto: EFE)
O jogador Ronaldinho ao lado do Papa Francisco e de José María del Corral, presidente da Fundação Scholas Ocurrentes (Foto: EFE)

Naturalmente, o futebol nunca ficou de fora. Em 2014, foi realizada a Partida Inter-religiosa pela Paz no Estádio Olímpico de Roma, com craques como Ronaldinho Gaúcho, Maradona e Messi. A proposta era unir atletas de diferentes religiões em nome da fraternidade e da paz.

Em abril de 2025, após o falecimento do Papa, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, anunciou a realização de um jogo beneficente com lendas do futebol em sua homenagem:
Ele acreditava que o futebol podia unir o mundo. Vamos honrar esse legado.

Um legado que ecoa: o que se sabe sobre o Papa Leão XIV?

Papa Francisco deixou um legado esportivo inédito entre os pontífices. Mais do que um torcedor apaixonado, ele foi um líder que compreendeu o poder do esporte como ferramenta de transformação social, espiritualidade prática e instrumento de paz. O esporte, para Francisco, era mais do que competição: era um território de valores, comunhão e esperança.

O Chicago White Sox homenageia o Papa Leão XIV no placar antes de um jogo de beisebol contra o Miami Marlins em 8 de maio (Foto: David Banks/AP)
O Chicago White Sox homenageia o Papa Leão XIV no placar antes de um jogo de beisebol contra o Miami Marlins em 8 de maio (Foto: David Banks/AP)

Natural dos Estados Unidos, o Papa Leão XIV é torcedor assumido do time de beisebol Chicago White Sox e é fã do time de basquete da Universidade Villanova, onde estudou Matemática. No futebol, seu time do coração seria o Alianza Lima, do Peru, país onde viveu por muitos anos como bispo em Chiclayo. Sua principal prática esportiva é o tênis, que jogava regularmente com outros religiosos nas quadras do Jockey Club local. Ele se define como “tenista amador” e, em entrevistas, lamentou não conseguir jogar com frequência desde que deixou o Peru.

Antes de ser eleito papa, Robert Prevost já havia sido visto em grandes eventos esportivos, como a World Series de 2005, em Chicago. Em 2025, teve sua imagem exibida durante um torneio Masters de tênis em Roma, e participou de uma partida dias antes do Conclave. Após sua eleição, sua ligação com o esporte foi celebrada por torcedores, com homenagens no estádio dos White Sox e produtos vendidos em sua homenagem.

Apesar da forte afinidade pessoal com o esporte, até agora não há registros de que Leão XIV tenha promovido projetos esportivos institucionais. Sua relação com o esporte é mais simbólica e cultural do que formal ou programática.

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