Primeiro ouro de Rebeca Andrade em Paris. Foto: Alexandre Loureiro/COB |
Com informações de Laura Leme, de Paris.
Do quarto lugar na final da trave à reverência de Simone Biles e Jordan Chiles após o título no solo. Após uma manhã de muitas emoções, que terminou com a medalha de ouro e o título de maior atleta da história do Brasil, Rebeca Andrade deu entrevista coletiva para falar sobre o legado que deixa – não só na ginástica, mas para todos que desejam realizar sonhos.
Estou muito feliz e honrada estar nessa posição. A gente treina bastante, luta e bate diversas vezes no 'quase'. Às vezes não acontece. É uma honra poder representar e mostrar que é possível. Quando você tem uma equipe que luta pelo mesmo sonho e as mesmas coisas que você, as coisas acontecem. A vontade de querer fazer acontecer, mesmo nos dias ruins, com medo e sem medo. É normal, faz parte do ser humano, mas tem dias que são mais leves.
Biles e Chiles, que fizeram dobradinha para os Estados Unidos com a prata e o bronze, reverenciaram a brasileira. Rebeca entende essas imagens ficam para as próximas gerações.
Elas são as melhores do mundo. Ver uma cena como esta significa muito para mim. Me sinto muito honrada e a gente está sempre torcendo pelo melhor. A gente sabe como é difícil estar aqui dentro, uma final que foi difícil para todo mundo.
Primeiro pódio totalmente negro da história dos Jogos Olímpicos. Foto: Ricardo Bufolin/CBG |
Outra imagem que fica para a história é o pódio da ginástica artística composto por três atletas negras na história dos Jogos Olímpicos.
Tínhamos feito isso no Mundial e poder repetir agora, em uma Olimpíada, onde o mundo inteiro está vendo a gente, é mostrar a potência dos negros. Mostrar que independente das dificuldades, a gente pode fazer acontecer. Ou as pessoas aplaudem, ou elas engolem. A gente está aqui mostrando que é possível. Eu me amo, eu amo a cor da minha pele. É poder incentivar e continuar mostrando que talvez seja um pouco mais difícil para você, mas é o teu sonho, ninguém tem o direito de te falar 'não'. Então vai atrás porque você consegue. A gente conseguiu provar isso.
Rebeca lembra também que a história não começou a ser escrita agora, nem terá um ponto final. Ela foi influenciada pela geração de Daiane dos Santos e entende a responsabilidade que carrega.
Ela [Daiane dos Santos] foi abrindo as portas para que a gente pudesse conquistar as nossas coisas. A Daiane é uma grande referência para mim porque era com quem me identificava. Ela sempre me tratou perfeita desde pequenininha e é muito bom quando a gente tem referência e quando a gente tem um espelho. Uma hora a gente tem que passar uma bastão, mas não que eu espere uma nova Rebeca, eu espero uma nova pessoa com a personalidade dela, com o jeito dela, porque somos pessoas diferentes e espero que ela seja gigante também.
E a construção do legado passa também por superar o 4º lugar conquistado minutos antes na trave.
Não era para acontecer e está tudo certo. Eu sou a quarta melhor do mundo [da trave]. Não foi a minha melhor série, mas também não foi uma série ruim. Eu queria ter feito todas as minhas ligações e toda a minha série para qual me preparei. Mas são coisas que acontecem. O quadril sai da posição, uma reversão balança um braço e você não consegue puxar e está tudo certo. Se tivesse feito uma série ruim, ficaria triste, mas sei que fiz o meu melhor. Isso é o suficiente. Fui para o solo para fazer o meu melhor, fiz o meu melhor e foi suficiente.
O Brasil fecha a participação com o bronze na final por equipes, além das quatro medalhas de Rebeca Andrade. Ela também comentou sobre o desempenho do Brasil, principalmente no duelo dela contra Simone Biles.
Foi missão cumprida. Estou muito orgulhosa de todos os nossos resultados e de tudo que o Brasil fez nessa competição. O futuro a Deus pertence, né? A gente não sabe as coisas que vão acontecer mais para frente. Eu vou ter outros sonhos, vou querer buscar outras coisas também. Eu estou feliz. Não era só sobre vencer a Simone, era sobre vencer a mim mesma. A minha briga tá aqui na minha cabeça, não nas outras pessoas. Para conseguir fazer minhas grandes apresentações, eu preciso controlar minha cabeça e o meu corpo. Essa é a briga. Porque eu com a Simone, a gente se incentiva, a gente quer fazer o melhor, quer dar o nosso máximo. Então a minha briga é sempre comigo mesma. É uma honra estar ao lado dela, competir com ela e e mostrar o quão grande nós somos.
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