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Surto Opina - Espaço na grade para o esporte paralímpico é uma grata surpresa da Globo

Surto Opina - Espaço na grade para o esporte paralímpico é uma grata surpresa da Globo
Foto: Alessandra Cabral/CPB

Por Lucas Felix

No último domingo (5), a Globo fez história ao constatar uma obviedade que há tempos já pedia passagem: o esporte paralímpico não pode ser resumido na Paralimpíada propriamente dita. A exibição do amistoso entre Brasil e França no futebol de cinco, disputado entre atletas cegos, foi um novo marco depois das transmissões da semifinal e da decisão da categoria nos Jogos de Tóquio, em 2021.


Com narração de Luis Roberto, o número 1 da emissora atualmente na função, o clássico fez o matinal ter audiência maior do que nos quatro domingos anteriores, sendo que o quinto programa antecedente nessa cronologia foi ajudado pela intensa cobertura do jornalismo do canal sobre a prisão dos suspeitos de serem mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. O locutor fez dupla com o comentarista Ricardinho, numa boa transmissão em que ambos conseguiram contextualizar o cenário competitivo para o público, incluindo mesmo a existência organizada de disputas entre clubes no Brasil.

O retorno foi significativo para um jogo que, como o nome indica, tinha o peso de um treino de luxo na preparação da equipe pentacampeã paralímpica. A priorização de eventos em que há um controle absoluto da emissora sobre o horário e a comercialização é uma questão que atinge também os esportes olímpicos, vale lembrar. São várias exibições do circuito brasileiro de skate ao longo do ano, enquanto as disputas mundiais, como da liga de street e de campeonatos das duas modalidades olímpicas, acabam praticamente confinadas ao SporTV. É uma contradição esportiva em que ainda há margem para um equilíbrio melhor entre os interesses, porém não se trata de uma especificidade imposta aos paralímpicos.

Mas há também aprendizados positivos possíveis com a cobertura dos olímpicos, como a realização de flashes na programação durante o megaevento quadrienal. No Japão, embora tenha levado dois jogos do futebol paralímpico ao ar, a emissora não transmitiu em tempo real nem mesmo provas do atletismo realizadas instantes depois deles. Tanto na mais antiga das modalidades quanto na natação, esportes ditos nobres dos Jogos, o Brasil possui uma variedade de chances de medalhas em provas curtas, que não exigiriam nenhum cancelamento da grade de programação. E que seriam muito mais valorizadas com as conquistas narradas enquanto acontecessem e não apenas condensadas em boletins no intervalo comercial mais próximo.


Foto: Alessandra Cabral/CPB


O esporte paralímpico, afinal, se trata de um segmento em que há uma chance bem acima da média geral do término prova ser feliz para o público nacional. Alguns podem chamar de resultadismo, outros de meritocracia… Mas o fato é que há pleno sentido em falar aquela máxima afirmativa sobre como “o brasileiro gosta é de ganhar”. E essa premissa não apresenta nenhum problema conceitual. É de se pressupor que suíços, sérvios e espanhóis tenham acompanhado o tênis com mais atenção nos últimos anos, assim como os neerlandeses provavelmente voltaram suas atenções à Fórmula 1 como nunca antes. Nada além de um processo natural de reconhecimento dos seus campeões. A própria Globo viu suas manhãs de domingo trocarem as mudanças de pneus do automobilismo pelas rodinhas do skate, num processo corroborado pelo interesse do público em escala nacional nas modalidades referidas.

Dentro dessa lógica legítima, inclusive potencialmente no âmbito comercial, os atletas paralímpicos representam uma multiplicidade de oportunidades excelentes para que a vinheta “Brasil.mp3” seja acionada no ar. Suas histórias de superação seguem merecendo toda a cobertura nos telejornais, mas a instantaneidade no ápice da glória, ao menos para aqueles super favoritos, é uma opção que não deveria ser desprezada diante da facilidade da curta minutagem de boa parte das conquistas nas pistas e piscinas.

Em meio às fortes chuvas no Rio Grande do Sul, a partida de domingo fez até menos barulho do que poderia gerar em circunstâncias mais habituais. A decisão pela transmissão, contudo, evidentemente estava tomada desde antes do agravamento da situação. E não foi o duelo a impedir que o Esporte Espetacular dialogasse com o jornalismo para uma cobertura mais robusta dos acontecimentos, algo que a Globo deveu em toda a sua grade de rede até a manhã do dia seguinte. Após o apito final da goleada brasileira no Centro Paralímpico, o programa ainda manteve normalmente VTs sobre “pets espetaculares” e aventuras de atletas amadores.

Asteriscos de lado, o fato mais concreto é que a transmissão foi um marco significativo. O ciclo paralímpico também não é paralisado em nenhum instante, incluindo a realização de vários Mundiais de cada modalidade. Com a boa audiência entregue, fica a confiança de que não será um momento tão isolado assim quando a contagem regressiva for direcionada para Los Angeles.

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