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Foto: Divulgação/BBC |
O atleta queniano reconhece ter perdido 90% de seus amigos e denuncia o abuso nas redes sociais que o relacionava ao acidente do recordista mundial.
Eliud Kipchoge, que aspira a se tornar o primeiro homem a ganhar três maratonas olímpicas em Paris 2024, admitiu que temia pela vida de sua família após receber inúmeras ameaças nas redes sociais ligando-o à morte do recordista Kelvin Kiptum.
O bicampeão olímpico se emocionou durante uma entrevista à BBC, relatando como se tornou vítima de uma campanha de abuso online que especulava sobre seu envolvimento na morte de seu compatriota em fevereiro. Kelvin Kiptum, recordista mundial de maratona (2:00:35, Chicago), faleceu em 11 de fevereiro como resultado de ferimentos sofridos em um grave acidente de trânsito em uma estrada perto de sua casa no Quênia.
"O que aconteceu fez com que eu não confiasse em ninguém, nem mesmo na minha própria sombra. Fiquei surpreso que as pessoas nas redes sociais estavam dizendo 'Eliud está envolvido na morte desse cara'", explicou Kipchoge em uma entrevista à BBC Sport Africa. "Me disseram coisas piores: que queimariam o campo de treinamento, que queimariam meus investimentos na cidade, que queimariam minha casa, que queimariam minha família. Foi a pior notícia da minha vida."
Kipchoge relembra as precauções que tomou ao ver insultos e ameaças preencherem a internet: "Eu não tenho poder para ir à polícia e dizer que minha vida está em perigo. Então, minha preocupação foi dizer à minha família para ficar especialmente cautelosa. Comecei a ligar para muitas pessoas."
"Eu fiquei muito assustado pelos meus filhos quando iam e voltavam da escola. Às vezes, eles andam de bicicleta, então tivemos que pará-los, porque nunca se sabe o que pode acontecer. Começamos a buscá-los de manhã e a buscá-los de tarde", relata o atleta de 39 anos. "Minha filha estava em um internato, isso foi positivo porque ela não tinha acesso às redes sociais, mas é difícil para meus filhos ouvirem 'Seu pai matou alguém'", relembra.
E foi nesse momento que Kipchoge se emocionou ao recordar uma ligação para sua mãe. "Meu pior momento foi quando tentei ligar para minha mãe. Ela me disse 'Apenas cuide-se' e 'Muitas coisas têm acontecido'. Eu venho de uma área muito local. E com a idade da minha mãe, eu realmente percebi que as redes sociais podem chegar a qualquer lugar. Mas ela me incentivou. Foi um mês difícil."
O segundo homem mais rápido a correr uma maratona (2:01:09, Berlim, 2022) explica que manteve suas rotinas de treinamento, e surpreende ao lembrar que o ocorrido o fez perder "cerca de 90%" de seus amigos: "Foi muito doloroso perceber até mesmo minha própria gente, meus companheiros de treinamento, aqueles com quem tenho contato, e as palavras ruins vêm deles. Aprendi que a amizade não é para sempre."
O atleta queniano não eliminou suas contas das redes sociais, mas parou de compartilhar mensagens para evitar que a campanha de abusos se espalhasse. "Se eu excluir minhas contas, então mostra que estou escondendo algo", explicou durante a conversa com a BBC Sport África. Depois, explicou um dos motivos de seu desempenho abaixo do esperado na Maratona de Tóquio, realizada em 3 de março, onde teve seu pior resultado desde que estreou na distância em 2013. "Fiquei três dias inteiros sem dormir, dia e noite." Terminou em 10º lugar, dois minutos e meio atrás do vencedor, Benson Kipruto.
Agora, Kipchoge tem uma motivação extra para os Jogos Olímpicos de Paris, após conquistar o ouro no Rio de Janeiro e em Tóquio: "Quero entrar para os livros de história, ser o primeiro humano a ganhar três vezes seguidas".
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