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Foto: Reprodução |
Sobrevivente ao apetite da Record em sua fase olímpica há pouco mais de uma década e ao caos das renegociações pandêmicas, o acordo entre o Grupo Globo e a Volleyball World (mais conhecida por aqui ainda como FIVB) foi renovado sem que a notícia por si só fosse causadora de muita surpresa. O anúncio da extensão do contrato por mais um ciclo olímpico com meses de antecedência pode ser lido como um sinal de satisfação mútua das partes com o trabalho que está sendo realizado.
A Globo preenche a programação do SporTV 2 pelos meses da janela de seleções com um conteúdo capaz de fazer o canal, que possui apenas 60 minutos semanais de produção própria inédita além dos eventos, figurar colado na ESPN no ranking de audiências da TV por assinatura. E a federação internacional garante um grau de capilaridade, habilidade e prioridade que dificilmente seria visto de forma equivalente em alguma concorrente. Em tese, afinal, nenhum outro país entrega um número absoluto tão alto de telespectadores para os seus eventos quanto o Brasil.
Se a exibição na TV por assinatura parece pacificada em uma relação de ganha-ganha, ainda há muito a evoluir na relação entre outras plataformas e o segundo principal esporte do Brasil. Na internet, a VBTV (de responsabilidade da federação) possui um alcance incipiente se comparado ao de modalidades que ascenderam já na era digital, como o skate e o surfe. E o Globoplay tampouco direciona algum cuidado exclusivo ao vôlei, se limitando a retransmitir de forma simultânea o que já vai ao ar no SporTV em seu pacote “+ canais”.
Embora virtualmente não existam impedimentos para que partidas relevantes sejam pontualmente abertas a não assinantes, como ocorre com o Multishow em festivais e a GloboNews em coberturas urgentes, essa opção não é acionada. E tampouco os pagantes de assinatura do streaming ganham a abertura de sinais exclusivos de todos os jogos possíveis, mesmo que sem narração, como habitualmente ocorre no concorrente Star+ e a própria Globo fará durante os Jogos Olímpicos de Paris. O caminho para o prestígio na internet, ambiente em que o vôlei costuma dominar trending topics com facilidade durante a exibição dos jogos, está pronto para ser ampliado.
A TV aberta também demanda mais atenção em um ciclo que terá uma quantidade dobrada de Mundiais da modalidade - edições para ambos os gêneros em 2025 e 2027. A expectativa natural é de que o tratamento dado seja melhor do que para os realizados em 2022, quando a Globo exibiu apenas a final feminina numa tarde de sábado. E fazendo o anúncio apenas depois de imensa pressão nas redes sociais diante do triunfo brasileiro na semifinal - que, aliás, teve uma cobertura na grade significativamente menor do que a dedicada à do tênis em Roland Garros em 2023, mesmo que o esporte individual não seja tão popular atualmente.
É muito pouco mesmo com as ressalvas naturais sobre os desafios da grade de programação. Nas últimas edições dos Mundiais masculinos de futsal e futebol de areia, a emissora transmitiu os jogos do Brasil em todas as etapas. Na mais recente disputa feminina no campo, levou ao ar quatro jogos sem a participação da Seleção Brasileira.
A programação vespertina, aliás, é constantemente derrubada para incursões futebolísticas de menor relevância, como amistosos das comandadas de Arthur Elias ou jogos de base, a exemplo da Copa São Paulo de Juniores. Para o vôlei, contudo, o espaço parece restrito ao que coincidir com a faixa do Esporte Espetacular. Deve ser novamente assim em 2024 durante as etapas brasileiras da Liga das Nações, consolidando a perda de duas das raras semanas do ano regular (sem Olimpíada) em que a modalidade ampliava sua presença no ar. É a perda de uma chance de habituar o público num fuso provavelmente similar ao das competições olímpicas de poucos meses depois.
Se um (provável) bom desempenho esportivo e de audiência durante os Jogos em Paris será capaz de alterar esse “novo normal”, mesmo que os recordes sucessivos do vôlei em Tóquio não tenham sido suficientes, é a história que saberemos durante os quatro anos seguintes.
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