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Carol Santiago projeta Paris 2024: "Nadar o maior número de provas e chegar na melhor forma para conseguir brigar pelo pódio"

Carol segurando uma medalha do Mundial de Natação
Douglas Magno/ CPB


Carol Santiago se tornou o grande nome do esporte paralímpico neste ciclo de Paris. A nadadora de 38 anos desde que surgiu no cenário internacional na categoria S12 (para pessoas com baixa visão) vem acumulando medalhas no mundiais de natação e após as cinco medalhas conquistadas em Tóquio, ela avisa: vai nadar o maior número provas que puder para estar em diversos pódios na Paralimpíada de Paris.

Em entrevista exclusiva ao Surto Olímpico por e-mail, a nadadora contou que está em um ótimo momento físico e técnico e o que ela precisa melhorar até Paris, além dos desafios em nadar muitas provas de se tornar 'a cara' da natação paralímpica do Brasil. confira abaixo a conversa na íntegra:


- Faltando menos de um ano para os Jogos Paralímpicos, como você se vê tecnicamente e fisicamente? O que acha precisa melhorar até os jogos de Paris?

A gente esteve agora no Campeonato Mundial e lá foi a melhor competição da minha vida em termos de resultados. Foi a vez que a gente chegou com a melhor forma física, mais forte. E essa preparação para o Campeonato Mundial foi a melhor. Não tivemos nenhuma lesão, não perdemos nenhum dia de treino, foi bem completa mesmo e chegamos bem. Isso muda completamente o parâmetro para os próximos meses de treinamento até os Jogos. Claro que o Campeonato Mundial é, vamos dizer assim, o último passo mais importante antes dos Jogos. E isso diz que a gente está no caminho certo na preparação. Eu tenho muitos vícios ainda de natação, eu ainda tenho muitos erros de fundamento, minha saída tem muito a melhorar, as minhas viradas têm muito a melhorar. 

Hoje mesmo [29 de agosto] o biomecânico, Augusto Barbosa, estava lá no meu treino pela manhã fazendo ajustes do nado. Então, com certeza, a equipe técnica espera mais e eu também espero. Apesar de termos atingido a nossa melhor performance, a gente ainda tem muito a melhorar e acreditamos nisso. E é por isso que vamos trabalhar muito para que nos Jogos a gente consiga apresentar uma performance ainda melhor do que nesse Campeonato Mundial.

Todas as medalhas da Carol no último mundial de Natação paralímpica (foto: Douglas Magno/CPB)


- Como você avalia sua participação no último mundial, onde você foi o principal destaque do Brasil em quantidade de medalhas?

Essa nossa participação foi muito boa. Foi exatamente assim o que a gente estava esperando, que eu conseguisse chegar lá o mais preparada possível em todas as áreas para a gente nadar ali muito próximo do melhor ou até o melhor. Avaliamos que foi muito bom esse Mundial. Que a nossa preparação deu certo. O nosso grande desafio era fazer o programa durante toda a competição e que a última queda na água fosse tão boa quanto a primeira. E isso aí a gente conseguiu, a gente passou pelos sete dias de competição, competindo todos os dias, tendo resultados dos mais variados. E mesmo assim, o foco totalmente voltado para competição, isso foi muito importante, foi mais um treinamento. Porque essas competições muito longas exigem demais da gente, fisicamente e psicologicamente, e às vezes, um vacilo no psicológico bota metade da competição a perder e esse foi mais um degrau que a gente subiu nesse caminho para os Jogos no ano que vem.

Eu queria muito medalhar em todas as provas. Quando a gente saiu com a possibilidade de nadar oito provas, o Léo Tomasello [técnico] me perguntou se eu realmente queria nadar o medley no último dia. Era um dia que eu não tinha mais provas. Então, era um dia que eu ia ficar lá, tendo a possibilidade de cair na água mais uma vez. Foi algo que eu senti na Madeira [último mundial antes de Manchester], que eu estava lá no último dia, tinha a prova dos 200m medley para nadar e eu não nadei. Então, eu quis nadar essa prova. Eu quis nadar até o último dia, porque eu sabia que existia uma possibilidade de conseguir medalhar. Se eu realmente baixasse o meu tempo, nadasse super bem, a gente conseguiria uma medalha. Então, eu fui decidida a isso e No final das contas, toda a comissão técnica, os tappers, eu, saímos muito felizes.


- Como é sua preparação para encarar essas maratonas de provas em uma grande competição? Como consegue dosar o cansaço de disputar provas que exigem muita velocidade?

Eu sou um atleta de velocidade, pra mim é muito mais fácil nadar os 50m livre e imprimir a velocidade, sem respirar, do que nadar os 100m livre ou os 200m medley. É muito mais fácil para mim a prova de velocidade. Então, para mim, na verdade, não é muito complicado as provas de velocidade. Seria mais complicado se fosse 400m livre, 200m livre, para mim seria muito pior.

O programa grande é um desafio. A competição é muito longa. Tem sete dias de competição e em alto nível. Todas as meninas estão se especializando nas provas. Então, é difícil fazer um programa onde a gente consiga nadar em alto nível todas as provas, nadando no melhor tempo ou muito próximo do melhor tempo, de repente bater um recorde. É muito difícil e a adrenalina também fica muito grande. Só que a gente treina muito isso, então, antes do Campeonato Mundial, o Léo levou a Seleção Brasileira, para competir duas competições na Europa. Fomos para a Itália e depois para Sheffield. E em cada uma dessas competições eu nadei todas as provas. Então, eu nadei muito mais provas em três dias do que eu nadei agora em sete. Isso foi muito treinado, a gente treinou tudo, desde a parte toda de nutrição, da suplementação. 

Essa minha parte de nutrição foi completamente diferente nessa preparação para o Campeonato Mundial. Tem toda a parte psicológica que é um treinamento tão parecido quanto você está treinando mesmo dentro da água. Treinando o seu físico, você também treina o seu psicológico para as provas, para cada parte das provas, para cada momento que você está no balizamento, para o pós, para a hora que você vai pegar a medalha, quando você sai da medalha, o que você faz, o que você pensa, enfim, isso tudo é muito passado e a gente se prepara o máximo que a gente consegue para estar antecipando qualquer situação que vai acontecer na competição. 

Então, essa questão de dosar o cansaço, ela não vai existir. Porque a gente já fez coisas muito piores antes de chegar lá. O que a gente tem que fazer é estar o tempo todo controlado, estar o tempo todo dentro daquilo que você treinou e só terminar quando realmente for a última prova ali e você encerrar. Então, o meu Campeonato não é mais de algumas provas, ele é o campeonato como se a minha prova começasse no primeiro dia e fosse terminar só no último.


- Você estreou em paralimpíadas em uma edição atípica por conta da pandemia, mas conseguiu cinco medalhas. Como foi essa experiência em Tóquio?

Tóquio foi incrível. Foi uma experiência diferente de qualquer outra. Nada que eu vi até hoje se assemelha com a participação naquela competição. É algo grandioso mesmo. É um negócio que é além do esporte. É uma coisa incrível. É o fim, né? É o que encerra o seu maior objetivo, os Jogos Paralímpicos. Então, foi uma coisa grande, grande demais, que mexeu muito comigo. E foi uma edição diferente. As outras pessoas, os outros nadadores que já participaram de outras edições disseram o quanto foi diferente por conta da pandemia. Foi uma competição muito mais sensível.

Porque teve toda aquela parte que você não podia interagir muito, de ter que ficar de máscara, mesmo na vila. Não pudemos conhecer nada do Japão. Então, realmente, assim, foi uma coisa diferente e que eu senti como se todo mundo estivesse vivendo aquilo ali pela primeira vez. E para mim foi pela primeira vez em tudo. Não só pela pandemia, mas por ser a primeira vez que eu participava de uma edição dos Jogos. E foi algo, assim, fora da realidade de qualquer coisa que eu pudesse ter pensado que poderia ser. Tudo que eu senti, seja na aclimatação, na competição, na vila... Enfim, foi uma coisa grandiosa. 

Carol conquistou cinco medalhas na última paralimpíada (foto: Ale Cabral/CPB)


Quando a gente voltou, a medalha era muito mais do que só uma medalha, tinha mexido com as pessoas. Todo mundo via algo naquele resultado, algo que motivava, algo que incentivava. Então, isso foi grandioso, muito especial para mim.


- Ser a maior medalhista em grandes competições te faz uma referência técnica e principal nome para público e mídia. Como você lida com essa importância que lhe é dada, como um grande nome do esporte paralímpico?

Eu entendo que depois de fazer algo como a gente vem fazendo nessas competições importantes, tem uma exposição maior na mídia, e a gente vire o grande nome. E de repente todo mundo quer saber o que a gente está pensando para a próxima competição, se vai trazer medalha ou não, se vai trazer o ouro...As pessoas ficam esperando para assistir às provas, e eu realmente vejo como um grande incentivo para que eu me dedique ainda mais para fazer uma competição bonita, brigando pelo melhor resultado, brigando pelas medalhas, tentando bater os recordes, tendo uma atuação digna de se parar e de se olhar. Eu vejo dessa forma, eu vejo as pessoas quererem acompanhar, as pessoas quererem saber, como um grande incentivo para mim, como se realmente estivessem torcendo para que a gente possa realmente, como o Brasil, trazer um maior número de medalhas.



- Você ficou muito tempo sem competir antes de voltar definitivamente e se dedicar ao esporte paralímpico. porque você ficou tanto de fora das competições? Chega a sentir um certo arrependimento de não ter voltado a competir antes e disputado outras paralimpíadas?

Eu não tenho nenhum tipo de arrependimento, nem fico pensando se eu deveria ter feito assim ou diferente. Eu acho que foi na hora certa, no momento certo. Eu acredito que tudo o que aconteceu até eu chegar no esporte paralímpico me preparou para esse momento e que ali em 2018, desde que eu comecei a viver o movimento paralímpico, além de eu ser uma pessoa muito melhor agora. Depois que eu entrei para o paralímpico, eu acredito que eu comecei a viver os melhores anos da minha vida. Viver no esporte de alto rendimento para mim é um grande privilégio e poder desempenhar do jeito que a gente vem desempenhando me deixa muito mais feliz ainda.

Douglas Magno/CPB

- O etarismo é outro tema muito em voga hoje em dia e você com 38 anos mostra que sua velocidade na piscina independe da idade. Como você se vê como um exemplo de que a idade é só um número, principalmente no esporte de alto rendimento, onde alguns acham que tem limite de idade para atletas de certas modalidades?

Ah, eu não vou dizer que é fácil ter 38 anos e estar praticando um esporte de alto rendimento. Eu vou dizer que é bem difícil. Eu tenho várias preocupações que, com certeza, quando eu tinha meus 18 anos, 15 aninhos, eu não tinha. Eu tenho uma preocupação muito maior com a minha recuperação, com a minha saúde. Eu preciso estar o tempo todo me prevenindo para não ter lesões, muito mais do que antes, muito mais mesmo. Então, isso virou um ponto imensamente importante na nossa preparação. É um grande desafio a gente fazer um treino muito forte num dia e chegar pronta para fazer novamente um treino super forte no outro. 

O treino de velocidade é um treino que dói bastante, porque você está treinando o tempo todo na velocidade da prova. Então, é difícil eu conseguir me recuperar para na próxima sessão de treino, estar pronta para dar aquele meu 100 % novamente. Mas a gente vem trabalhando isso, eu venho me preocupando com isso. É algo que você precisa estar com muita disposição para fazer e precisa aguentar tudo o que for preciso mesmo ali, em questões de dores, estresse psicológico, muito estresse físico para aguentar um novo treinamento, aguentar o programa inteiro e treinar tudo o que você precisa treinar para poder chegar em uma competição e fazer aquilo que é preciso fazer.


- Como está sua expectativa para os jogos Parapan-americanos em Santiago? Os jogos são um bom teste para os Jogos paralímpicos?

Eu estou bem animada para o Parapan. É uma competição muito importante para o Brasil. É uma competição onde praticamente todo mundo da Seleção nada muito bem , a gente traz bastante medalha. O formato é mais parecido com os Jogos, com vila dos atletas e a maioria dos esportes que teremos nos Jogos. É bem legal assim. Eu fico bem animada mesmo de ir. A gente também vai utilizar os Jogos Parapan-Americanos para, de repente, testar alguma estratégia que a gente ainda não testou. Ou, de repente, colocar em prática mais uma vez alguma estratégia que a gente já fez para ver se realmente vai dar certo desse jeito lá nos Jogos de Paris.

Ale Cabral/CPB


- Qual é sua expectativa para a paralimpíada? Você já projeta provas, medalhas que pretende conquistar ou deixa isso para mais perto dos jogos?

Desde que a gente voltou das Paralimpíadas de Tóquio, já começamos a projetar as Paralimpíadas de Paris. Fizemos um balanço do que tinha dado certo e do que não tinha dado tão bem nas Paralimpíadas de Tóquio e o que se precisava reajustar ou, de repente, deixar para lá, para Paris. A gente já sabe o programa que vai fazer, a gente vem testando esse programa e tudo que é possível para Paris desde a primeira competição, pós Tóquio. Eu não vou contar ainda quais são as provas, mas uma coisa eu posso garantir: a gente vai nadar o maior número de provas possível, naquelas que a gente possa brigar pelos melhores resultados, brigar por um pódio, com certeza.

A ideia é chegar na melhor forma para conseguir brigar. Porque a gente não consegue controlar o resultado do outro competidor, mas a gente consegue controlar aquilo que a gente vai fazer. Então, a nossa ideia é chegar lá o mais preparada possível mesmo, depois de a gente ter passado por tudo que era preciso e ter feito tudo o que tinha que fazer para chegar lá.


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