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Pigossi e Stefani refletem sobre vitória histórica para o tênis brasileiro



*Direto de Tóquio

Numa quadra 1 do Complexo de Tênis Ariake sem espectadores para os Jogos Olímpicos de Tóquio, o clima era de uma mini Copa Billie Jean King, com membros da delegação e jornalistas apoiando as tenistas de suas nacionalidades para a decisão do bronze de duplas femininas entre Laura Pigossi e Luisa Stefani, do Brasil, e Elena Vesnina e Veronika Kudermetova, representando o Comitê Olímpico Russo.

Durante o começo do match tie-break decisivo, a torcida russa vibrava muito. Mas nada comparado ao sentimento de êxtase da pequena mas barulhenta presença brasileira que a partir do 5-9 abaixo foi elevando o tom ponto a ponto, primeiro para incentivar suas jogadoras, até explodir em gritos e berros de comemoração e abraços quando após um jogo duro de rede, a dupla russa jogou a bola para fora e a medalha de bronze era brasileira.

Se os brasileiros foram do desespero ao júbilo, o que passou na cabeça de Stefani e Pigossi quando as russas chegaram a 9-5, tendo quatro match points? "A gente não pensou muito, somente no que podíamos fazer e íamos pensando nisso ponto a ponto. No 9-5 eu pensei 'já fiz isso, eu consigo fazer' e fomos assim", revelou Pigossi.

E após o 11-9? Segundo Pigossio primeiro sentimento após a vitória foi de alívio. "Estar aqui com a Luísa é incrível, ela acreditando no meu sonho, eu acreditando no sonho dela. Eu achava que a gente merecia, (no início do torneio) sentamos para conversar e vimos como cada uma pode colaborar", comentou.

Para Luisa Stefani, a vitória representou "um sentimento de paz, de felicidade, de conquista, de atingir um objetivo. A medalha vai ficar para sempre, mas também as memórias dessa semana, de tudo o que eu vivi aqui, de todos os sentimentos, acho que todo dia eu passei o dia arrepiada de tanta emoção, de tanta motivação, de tanta inspiração. Esse sentimento incrível é o que eu não vou apagar da memória nunca".

Stefani, melhor duplista desde Maria Esther Bueno na história do tênis feminino e que se mostra muito calma e tranquila, ainda revelou um pouco como foi seu sábado antes do jogo. "Passei o dia com muita motivação, passando pela Vila, vendo todo o Time Brasil nos apoiando e o pessoal em casa".

Derrotada, Vesnina revelou que não conhecia Pigossi antes do torneio e parabenizou muito o Brasil pela medalha. "Para nós é uma pena, tivemos nossas chances mas não as usamos. O tie break estava indo ao nosso caminho e nossas oponentes estavam muito nervosas no começo".

Para a russa, o que fez a diferença foi que "elas estavam jogando muito bem durante toda a partida, lutando, demonstrando um espírito enorme, não só hoje, mas durante toda a campanha. Foi uma semana dos sonhos para elas", afirmou a tenista russa que retorna em quadra para a partida final de individual no domingo.

E depois de Tóquio?

Para a maioria dos atletas brasileiros, após sua participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, uma pergunta típica é: "e Paris 2024?". Já com o tênis, que vive de um intenso e midiático circuito durante todo o ano, os Jogos Olímpicos não são o fim de um ciclo, mas um evento disputado entre dois Grand Slams importantes. Stefani, por exemplo, deverá jogar o US Open em algumas semanas. Sua parceira habitual, Hayley Carter, 25ª do mundo, está machucada e ainda não se sabe quando a dupla retornará a jogar junto. Enquanto isso, Pigossi deverá retornar mais motivada ao circuito ITF. 

De qualquer maneira, tudo isso ainda está muito longe para as tenistas, que afirmaram que a ficha ainda não caiu para terem feito história, especialmente porque a cerimônia de medalhas acontece somente 24 horas depois, após a final.  "Não tem sentimento igual a representar o Brasil, nenhum momento pode se comparar", comentou Stefani reiterando uma provável visibilidade que sua conquista possa dar ao tênis do Brasil. 

A visibilidade do tênis no brasil é uma das maiores conquistas. Pode ser uma responsabilidade mas é uma motivação para tentar trazer mais meninas para o (tênis no) Brasil. Eu sei o quanto o tênis me formou, me proporcionou. Quanto mais meninas e crianças puderem viver essa experiência que eu tive vai ser ótimo.  Eu quero ver o brasil crescer, o tênis crescer, dar uma alegria de rosto das pessoas. E o esporte ensina tanto 

Pigossi também comentou que a conquista nos Jogos Olímpicos era uma coisa com que "sempre sonhei, sempre quis, mas acho que quando você consegue, demora um pouco (a cair a ficha). Talvez porque ainda não recebi, depois quando eu tiver no peito o sentimento vai ficar assim".

Ela ainda lembrou de todas as dificuldades que passou para ser uma jogadora de tênis, salientando os esforços para realizar o sonho. "Ainda estou sem palavras, tudo o que eu fiz até agora, tudo que eu abri mão, todos os treinos, valeu a pena. Eu sempre amei o tênis, é uma coisa maravilhosa, todos os treinos, tudo sempre valeu a pena e agora ainda mais. Esporte é uma coisa maravilhosa, você se entrega e recebe de volta, inspira todo o Brasil. Não tenho palavras", comentou Laura.

Ainda sobre a reverberação do seu feito apra o país, ela revelou ter ficado emocionada ao ver uma imagem de muitos jovens assistindo ela jogar. "Me lembrou quando eu assistia ao Guga e me emocionou muito essa mensagem, me fez pensar como é jogar para toda uma nação".

Há chances de Luisa Stefani e Laura Pigossi jogarem mais torneios juntas?

E #LuLau vai continuar? Apesar de amigas, elas disputaram apenas quatro torneios como duplas antes da aventura em Tóquio. Como o tênis não exige que as duplas sejam da mesma nacionalidade ou mesmo fixas por um período, em geral uma parceria apenas vira fixa, se obter sucesso constante, caso de Luisa Stefani, 23ª do ranking ,e a norte-americana Hayley Carter, 25ª. Já Laura Pigossi, 188ª de duplas e que ainda se dedica a simples, joga torneios com várias colegas.

A chance delas para entrar em torneios importantes é pequena, porque o ranking combinado é alto. Em geral, jogadores de tênis jogam campeonatos com outros duplistas de ranking parecido. Mas as duas não fecharam portas para formarem parcerias outras vezes. "Acho que com certeza a gente pode jogar mais torneio juntas, e me ajudar a subir um pouquinho no ranking né, e a gente se ajuda", brincou Laura.
Foto: Júlio César Guimarães (COB)

Mesmo com melhor ranking, Stefani valorizou muito Pigossi como fundamental para a medalha. "O nível de jogo que ela trouxe, a energia e a confiança em cada ponto, isso foi o que trouxe a gente até aqui. Tinha muita gente achando que não chegaríamos longe. Talvez eu tenha uma confiança mais reservada, mas tudo o que ela trouxe para esse time, confiou, e chamou a responsabilidade para ela, me inspirou e vou levar para a vida. Aprendi muito com ela e com o time essa semana", declarou.

Amigas de infância, Pigossi ainda revelou um episódio após a derrota na semifinal em que o apoio de Luisa Stefani foi essencial. "Ela me apoiou. No ônibus, quando eu soube que não jogaríamos no dia seguinte, eu falei 'então espera um pouquinho porque preciso chorar' e chorei de soluçar", revelou em meio a muita risada. Stefani continuou a história: "eu falei 'eu acredito, vamos conseguir essa medalha, isso não acabou, eu prometo'".E quais planos tem Luisa Stefani?

Comemorar agora. No momento é cada momento. Curtindo aqui, com o Time Brasil. Isso é muito louco, isso é muito novo, surreal. Aproveitar o momento agora e o resto a gente vê, eu aviso quando a gente souber"
Foto de capa: Rafael Bello / COB

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