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Os Jogos Olímpicos na Televisão Brasileira: Atlanta 1996, SporTV





Narração: Luiz Carlos Jr., Deva Pascovicci, Lucas Pereira e Sérgio Maurício

Comentários: Nielsen Elias (futebol masculino/futebol feminino), Bernard (vôlei masculino), Dulce Thompson (vôlei feminino/vôlei de praia), Byra Bello (basquete masculino/basquete feminino) e Emanuel Mattar (judô)

Apresentação: Renata Cordeiro

Participação: Armando Nogueira


Se a cobertura de Barcelona-1992 ainda fora muito pequena, quase incipiente, em 1996 o canal esportivo da Globosat já mostrava mais força. Já tinha uma equipe mais incrementada. Já tinha uma relativa tradição olímpica – até por mostrar também os Jogos Olímpicos de Inverno (exibira Albertville-1992, e também Lillehammer-1994). E por último, mas nunca menos importante, já tinha o nome com o qual até hoje é conhecido: em 1994, deixara de ser Top Sport para virar SporTV. A partir disso tudo, o planejamento para a cobertura em Atlanta já poderia ser mais ambicioso. Para começo de conversa, enfim a emissora teria enviados a um grande evento esportivo – em 1994, a cobertura da Copa do Mundo de futebol ainda fora feita dos estúdios no bairro carioca do Rio Comprido.


E ter gente (13 enviados) no centro de imprensa em Atlanta era algo celebrado pelo diretor do canal à época. Falando à Folha de S. Paulo, em 7 de julho de 1996, Armando Augusto Nogueira, o popular “Manduca” Nogueira (que já tinha a experiência olímpica pela “emissora-mãe” Globo em Moscou-1980), comemorava: “Para nós é uma conquista mais expressiva do que quando o homem chegou à Lua. Psicologicamente, essas 13 equivalem a 150 pessoas”. Pois bem: liderados por Jorge Luiz Rodrigues – que já chefiara a cobertura em 1992 -, os 13 enviados trabalhariam nos programas e nas transmissões das disputas olímpicas que o SporTV exibiria em apenas um canal.


Para “guiar” o dia olímpico ao longo da programação, haveriam alguns programas no canal. Às 12h de Brasília, o Diário de Atlanta era o principal noticioso sobre os Jogos, exibindo o que de melhor ocorrera na manhã e trazendo reportagens sobre as principais competições. Ao longo da tarde e no início da noite (15h, 17h e 19h), o Boletim da Olimpíada trazia atualizações do que ocorria em Atlanta e cidades vizinhas, durante poucos minutos. E para finalizar o dia naquela cobertura, entre 19 de julho e 4 de agosto, das 20h30 de Brasília à meia-noite, o Show da Olimpíada já era um programa mais amplo no SporTV: trazia reportagens históricas sobre os Jogos, mostrava compactos dos eventos mais marcantes no dia de disputas, exibia debates e análises.


Por sinal, análise era o que fazia um dos mais prestigiados entre os enviados daquela cobertura: Armando Nogueira (1927-2010), novamente vinculado às Organizações Globo, como convidado especial do canal chefiado pelo filho Manduca. Já então apresentando no canal o Esporte Real, programa de entrevistas - e também espaço para leitura de seus poéticos textos -, Armando se equilibrava com a participação simultânea na cobertura da TV Bandeirantes: aparecia com um comentário diário sobre o que mais lhe impressionava naqueles Jogos (como já fizera pelo SporTV na Copa de 1994, por sinal). Outro convidado especial do canal estaria comentando os jogos de futebol nos torneios olímpicos, masculino e feminino: o ex-goleiro Nielsen Elias, que treinara os arqueiros da Seleção Brasileira na Copa de dois anos antes.


Mas os comentaristas restantes do canal para aquelas Olimpíadas já teriam vivência maior nas quadras e campos. Como o técnico de judô Emanuel Mattar, que analisaria as lutas no Georgia World Congress Center. Ou o professor Byra Bello, iniciando naqueles Jogos Olímpicos uma longa trajetória comentando basquete no SporTV. Ou mais ainda, Bernard Rajzman, talvez o grande símbolo da “Geração de Prata” dos anos 1980, que comentaria o torneio olímpico de vôlei masculino para a emissora esportiva da Globosat. Finalmente, um nome convidado para aquela cobertura viraria sinônimo de comentários nas transmissões do SporTV para o vôlei feminino, durante vários anos: a ex-jogadora Dulce Thompson, com passagens pela Seleção Brasileira na década de 1980, que estaria nas partidas olímpicas de vôlei das mulheres.


(Entrega das medalhas após a decisão do torneio de vôlei feminino, nos Jogos Olímpicos de 1996, na transmissão do SporTV, com a narração de Deva Pascovicci e os comentários de Dulce Thompson. Postado no YouTube por Bruno Cabral)


Para apresentar os programas noticiosos, como Diário de Atlanta e Show das Olimpíadas, uma jornalista que fizera testes na Globosat com a intenção de entrar no canal de notícias que a operadora a cabo iniciava – a Globo News, lançada naquele mesmo 1996 -, mas que foi convidada para aquela cobertura por Manduca Nogueira, viajou para Atlanta e ficou de vez no SporTV: Renata Cordeiro. Finalmente, entre os narradores, se Luiz Carlos Jr. e Sérgio Maurício fariam sua segunda cobertura olímpica, o SporTV teria duas novidades em Atlanta: o paulista Devair Paschoalon, vulgo Deva Pascovicci (1965-2016), que chegara ao canal em 1995, vindo da TV Manchete, e o carioca Lucas Pereira, que passara por várias rádios do Rio de Janeiro (Tupi, Guanabara, Nacional) antes de aportar no canal da Globosat, em maio de 1996. Ambos dariam voz a várias competições nos Jogos.



Contudo, a grande inovação do SporTV para aquela cobertura não estaria em nenhum dos enviados. Nem era humana. Foi a abordagem na cobertura das competições: ao contrário do que vinha sendo habitual, na tevê aberta ou na fechada, viria a aposta em transmitir as disputas mais marcantes no canal, com ou sem atletas brasileiros. A bem da verdade, Manduca Nogueira já indicava isso, na supracitada matéria da Folha: “Vamos evitar estar junto com as emissoras abertas, mesmo que isso signifique não dar [transmitir] Brasil. Vamos correr paralelamente”.


Já com os Jogos Olímpicos em andamento, Alberto Pecegueiro, diretor geral da Globosat desde 1994 (e até 2019), que acompanhava a coordenação da cobertura a partir da sede no Rio de Janeiro, confirmou na prática a abordagem, conforme comentou à Biografia da Televisão Brasileira feita por Flávio Ricco e José Armando Vannucci (São Paulo, Matrix, 2017): “No primeiro dia, tinha um jogo de futebol do Brasil [nota: na verdade, o jogo era de vôlei] e simultaneamente estava jogando no basquete o time americano, o Dream Team. Eu tinha várias televisões, vários monitores na minha sala, e eu olhei e vi quatro sinais iguais transmitindo o mesmo jogo”.


Na hora, naquele 20 de julho de 1996, Pecegueiro pegou o telefone, ligando para o ramal do coordenador da cobertura. Perguntou se a vitória do Brasil (3 sets a 0) no Peru, no vôlei feminino, era realmente a única alternativa de competição olímpica a ser mostrada naquela hora. Teve a resposta: não, havia outros eventos simultâneos que poderiam ser exibidos pelo SporTV. O diretor-geral da Globosat, então, apostou: “Por que a gente não vai para o jogo do basquete americano?” Dito e feito: o canal esportivo deixou a participação brasileira no vôlei feminino, para exibir o 96 a 68 dos Estados Unidos na Argentina, na estreia de ambos pelo bola-ao-cesto olímpico masculino. E uma linha editorial estava definida para as coberturas de grandes eventos que o SporTV fizesse, segundo Pecegueiro – principalmente se o evento fosse os Jogos Olímpicos: “A partir dali, do primeiro até o décimo quarto dia de competições, o SporTV se contraprogramou em relação ao que as emissoras abertas estavam fazendo. Às vezes, era mais importante um esporte de ponta, de nível, com grandes nomes do esporte mundial, ainda que o Brasil não estivesse competindo, do que assistir a um esporte em que o Brasil estivesse competindo, mas coberto pelas outras redes”.


A decisão de 20 de julho foi elogiada aqui e ali. Na Folha de S. Paulo, em 22 de julho de 1996, Juca Kfouri comentou, mencionando as dificuldades que os norte-americanos haviam tido no basquete: “A SporTV está fazendo uma cobertura inteligente dos Jogos. É quem mais dá opção aos telemaníacos [sic], fugindo do que está no ar nos outros canais, coisa que as redes abertas menores, como a Record e a Manchete, também poderiam fazer. Enquanto nossas meninas do vôlei arrasavam as peruanas, por exemplo, a SporTV mostrava que a diferença entre o time americano de futebol e o argentino é menor, pasme, que a diferença entre o ‘Dream Team 3’ e a seleção argentina de basquete”. No mesmo jornal, Matinas Suzuki Jr. também elogiou a cobertura do SporTV, em 25 de julho, lembrando os curtos boletins que a emissora mostrava no decorrer do dia olímpico: “(...) Também é correta a estratégia do SporTV de procurar a programação alternativa, além de "ancorar" o dia-a-dia da Olimpíada, para quem quer ficar plugado no lance o tempo todo”.


Claro, os principais eventos acabavam tendo espaço na grade do SporTV: coube a Deva Pascovicci, por exemplo, narrar o marcante 4 a 3 da Nigéria no Brasil, na semifinal do futebol masculino. E a decisão do ouro e da prata brasileiros no vôlei de praia feminino teve Sérgio Maurício narrando e Dulce Thompson comentando. Mas o canal esportivo das Organizações Globo já mostrava: se tivesse mais espaço, mostraria tudo que fosse possível, nos Jogos Olímpicos. Em Sydney-2000, já teria mais espaço. E mais canais...

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