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Os Jogos Olímpicos na Televisão Brasileira: Barcelona 1992, Manchete






(Vinheta de abertura das transmissões da TV Manchete para os Jogos Olímpicos de 1992. Postada no YouTube por Alexandre Negreiros)


Narração: Paulo Stein, Osmar Santos e Alberto Léo

Comentários: Ênio Figueiredo (vôlei), Wlamir Marques (basquete), Adhemar Ferreira da Silva (atletismo) e Fernando Brochado (ginástica)

Reportagens: Isabel Tanese, Antônio Petrin, Viviane Lima e Paulo Lima

Apresentação: Alberto Léo, Márcio Guedes e Paulo César Andrade


Naquele começo de década de 1990, o poder de investimento da TV Manchete começava a cair. O ano de 1990 marcara o ápice da emissora, em vários campos – e a face mais conhecida desse auge foi, claro, Pantanal, a ambiciosa novela de Benedito Ruy Barbosa que desafiou (e em algumas vezes, venceu) o reinado de audiência da TV Globo no horário nobre da televisão brasileira. E nos esportes, a cobertura da Copa do Mundo de 1990 mantivera a emissora carioca em alta, após os bons desempenhos no Mundial de futebol em 1986 e nos Jogos Olímpicos de 1988. Tanto que, no fim daquele ano, se chegou a cogitar a contratação de ninguém menos que Galvão Bueno. Não passou de sondagem, mas era um sinal de que a Manchete ainda tinha poderio.

Poderio que começou a se esvair rapidamente, naquele ciclo entre 1990 e 1992. Algumas dívidas da Manchete começaram a crescer - por exemplo, com o Banco do Brasil. Houve outros investimentos fracassados do canal carioca: por exemplo, a novela Amazônia (1991) recebeu todo o dinheiro que pudesse dar a ela o mesmo sucesso de Pantanal, mas teve audiência baixíssima, e a falta de retorno foi determinante para o início da derrocada do conglomerado de mídia liderado por Adolpho Bloch (e seu braço-direito, Pedro Jack Kapeller, o Jaquito). Por sinal, Adolpho já via dificuldades para manter a televisão – e, em 10 de julho de 1992, foi concretizada a venda de 49% das ações dela ao empresário Hamilton Lucas de Oliveira, dono da IBF Formulários.

Em meio a essa barafunda financeira, a duras penas, a Manchete seguia mantendo alguma relevância na cobertura esportiva. Continuava mantendo o noticiário Manchete Esportiva, em duas edições. No futebol, exibira a Supercopa da Libertadores, em 1991. No tênis, seguia mantido o acordo com a Koch Tavares, que a fazia exibidora exclusiva dos torneios do Grand Slam, notabilizando as narrações precisas e elogiadas de Rui Viotti (1929-2009). Finalmente, havia ainda O Mundo dos Esportes, programa semanal (era exibido nas manhãs dos domingos) produzido pela Gillette, com o que se pudesse imaginar em matéria de modalidades, mundo afora.

Mais importante: a Manchete seguiu pagando as anuidades à OTI. Esforçou-se, e conseguiu pagar a parcela que lhe cabia na compra dos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos de 1992. Resultado: apesar do processo de troca de controle entre Adolpho Bloch e Hamilton Lucas de Oliveira, o canal carioca poderia transmitir normalmente os 15 dias de competição em Barcelona. Para isso, a equipe enviada à cidade espanhola seria menor do que nas duas coberturas olímpicas anteriores: apenas 25 enviados iriam a Barcelona. Entre eles, Alberto Léo (1950-2016) seria nome fundamental, como já fora na cobertura da Manchete para Los Angeles-1984 e Seul-1988.

Diretor de esportes do canal, Alberto coordenaria os trabalhos no centro de imprensa. Apresentaria os boletins noticiosos sobre o que ocorria em Barcelona. Narraria várias competições: natação, atletismo, ginástica. Inclusive, Alberto estava bem entusiasmado nas transmissões das disputas olímpicas de ginástica artística e ginástica rítmica. E comentou ao Jornal do Brasil de 25 de julho de 1992, data da cerimônia de abertura, sobre a ênfase que a Manchete daria às exibições das ginastas no Palau dels Esports (Palácio dos Esportes), em Barcelona: “A ginástica olímpica sempre é a recordista na venda de ingressos e sem dúvida é o esporte mais bonito das Olimpíadas, capaz de agradar pessoas de todas as idades, e quando é exibido na televisão não perde a plasticidade”.


(Boletim de notícias apresentado por Alberto Léo, do centro de imprensa em Barcelona, e Paulo César Andrade, dos estúdios da TV Manchete no Rio de Janeiro, na cobertura dos Jogos Olímpicos de 1992, em 25 de julho, dia da cerimônia de abertura. Postado no YouTube por Êgon Bonfim)

Se Alberto Léo já era um símbolo das coberturas esportivas da Manchete, Paulo Stein (1947-2021) não deixava por menos. Outro dos enviados a Barcelona, o narrador carioca seria a voz da emissora nas cerimônias de abertura e encerramento, além de fazer a locução das partidas nos torneios olímpicos de vôlei e basquete, por exemplo. Haveria ainda a participação de três repórteres para se revezarem no acompanhamento dos atletas e equipes brasileiros. Um desses repórteres viera da TV Globo: Paulo Lima. Outro ainda iria para ela: Viviane Lima, do jornalismo geral, focada em reportagens sobre o contexto social de Barcelona. E ainda haveria os trabalhos de Isabel Tanese, já elogiada pelas reportagens na cobertura da Manchete para a Copa de 1990, e Antônio Petrin.

E se havia um bom motivo para a cobertura olímpica da Manchete em 1992 passar incólume pela crise que o canal vivia, era a conservação de boa parte da sua já tradicional “Equipe de Ouro” de comentaristas. Praticamente todos os presentes em Seul voltariam às cabines da emissora da família Bloch (ou de Hamilton Lucas de Oliveira?) em Barcelona. Comentando as competições de ginástica que Alberto Léo narrava, estava o professor e árbitro Fernando Brochado, um remanescente de 1988. Ênio Figueiredo também retornava à Manchete, nos comentários dos torneios olímpicos masculino e feminino de vôlei. Os outros dois da “Equipe de Ouro”, então, já eram estandartes do canal em Jogos Olímpicos: afinal, tanto Adhemar Ferreira da Silva (comentarista do atletismo) quanto Wlamir Marques (comentarista do basquete) haviam trabalhado pela Manchete em Los Angeles-1984 e Seul-1988.

Trabalhando na retaguarda, nos estúdios em São Paulo e Rio de Janeiro, a Manchete também tinha nomes experientes na cobertura dos Jogos de Barcelona. O principal e mais famoso deles, na narração: Osmar Santos estava de volta. Após narrar cinco partidas (quatro da Seleção Brasileira) na Manchete durante a Copa de 1990, o locutor paulista passara rapidamente pela TV Record, no ano de 1991. No começo de 1992, Osmar já retornava – e por meio de sua produtora, a TVN, ajudaria as coberturas esportivas do canal, comprando os direitos de transmissão do Campeonato Paulista de futebol, e sendo o principal narrador da emissora no estado bandeirante a partir de então. Exatamente pela transmissão dos jogos do Paulista, Osmar teve de ficar em São Paulo. Apareceu apenas em algumas provas das disputas olímpicas. E acabou, indiretamente, sendo a voz de uma gafe nos trabalhos da Manchete para os Jogos Olímpicos.

No mesmo 25 de julho de 1992 em que Paulo Stein e Alberto Léo apresentaram a cerimônia de abertura dos Jogos, no Estádio Olímpico Lluis Companys, no bairro de Montjuich, Osmar estava a postos para narrar Sãocarlense x Corinthians, pelo Campeonato Paulista, na cidade de São Carlos, transmissão exclusiva da Manchete em São Paulo para televisão aberta. A festa em Barcelona começaria a partir das 15h de Brasília; o jogo de futebol em São Carlos, às 16h. Eis que, às 16h, a Manchete simplesmente interrompeu a transmissão das festividades no Lluis Companys, para começar a transmissão da vitória corintiana (2 a 0 sobre a Sãocarlense). E não retornou a Barcelona, depois. Só num VT noturno os espectadores da Manchete puderam ver a íntegra da festa de abertura em Montjuich – incluindo a histórica ocasião em que o paratleta catalão Antonio Rebollo acendeu a pira olímpica, atirando uma flecha em chamas até a torre do estádio olímpico.

Fora essa gafe, a Manchete pôde continuar com sua cobertura. Não era tão ampla quanto a de anos anteriores: apenas os jogos dos esportes coletivos (vôlei e basquete) e as competições de ginástica eram exibidos na íntegra ao vivo, com os outros esportes ficando restritos a boletins extraordinários. Para arredondar a cobertura, havia três programas. Dois deles, com uma hora de duração: as 8h30 de Brasília, o Manhã Olímpica antecipava o que viria no dia olímpico em Barcelona, e o Noite Olímpica, às 22h30, encerrava a cobertura diária. Nos dois, Alberto Léo ancorava do centro de imprensa em Barcelona, com Paulo César Andrade também apresentando, dos estúdios do Rio de Janeiro. Finalmente, para os “madrugadores”, a Manchete disponibilizava um resumo das grandes competições do dia em Barcelona, à 0h30. E a Manchete conseguiu concluir bem a terceira cobertura olímpica de sua história, com Paulo Stein narrando, Ênio Figueiredo comentando e Antônio Petrin reportando o ouro da seleção masculina de vôlei em 9 de agosto, no Palau Sant Jordi (Palácio São Jorge).


(Reportagem de Antônio Petrin para o Jornal da Manchete de 10 de agosto de 1992, sobre a medalha de ouro do Brasil no torneio olímpico de vôlei masculino, nos Jogos Olímpicos de 1992)

Em meio aos problemas da troca de comando entre Adolpho Bloch e Hamilton Lucas de Oliveira, a editoria de esportes da emissora do bairro carioca da Glória conseguiu passar quase ilesa.

Muito caos ainda ocorreria na turbulenta fase final da história da Manchete. Mas ela voltaria em Atlanta. A duras penas.

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