Últimas Notícias

Parada das Nações Tóquio 2020 - Uruguai



A República Oriental do Uruguai tem uma história de independência singular, mas que parte do mesmo ponto que vários outros países da América do Sul: as campanhas militares lideradas por Napoleão Bonaparte na Europa. E como contamos no texto da Parada das Nações da Argentina, em 1816, surgiram as Províncias Unidas da América do Sul (ou do Rio da Prata, como preferir). O território uruguaio fazia parte deste ‘conglomerado’ de países (com Argentina e Bolívia). 

O problema é que as Províncias Unidas travaram um período de muitos conflitos (pelo Uruguai) com o Brasil, que na época sequer era independente. Outro interessado naquele território era José Artigas, um militar que acreditava na capacidade de autonomia da área e de seu povo. Inclusive, ele é considerado por muitos como o pai da nacionalidade uruguaia. 

Uma das reviravoltas vividas nesta história ocorreu em 1821, quando o território uruguaio foi simplesmente anexado ao Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves, ficando sob comando do nosso velho conhecido, D. João VI. Com isso, a região foi batizada como Província Cisplatina. 

Mas as ações do grupo revolucionário chamado Trinta e Três Orientais, liderados por Juan Antonio Lavalleja e Manuel Uribe, causaram uma grande rebelião, que culminou na assinatura da declaração de independência do território que se tornaria o Uruguai, em relação ao Brasil e às Províncias Unidas, em 1825. 

Mesmo com sua independência declarada, os uruguaios seguiram sofrendo com os combates. Dessa vez era a Guerra da Cisplatina, ainda em 1825, que novamente colocou o Brasil contra membros das Províncias Unidas e o próprio Uruguai, que se dividia entre aqueles que queriam ser completamente ‘emancipados’ e os que desejavam fazer parte do grupo formado pelas ex-colônias espanholas. 

E é agora que entra a figura do diplomata britânico John Ponsonby, enviado para tentar colocar um fim na Guerra da Cisplatina. O Reino Unido, claro, estava sentindo os efeitos financeiros do conflito, já que não podia comprar e nem vender matéria prima na região da Bacia do Prata. 

Após várias tentativas frustradas, Ponsonby conseguiu convencer os envolvidos de que o melhor era a independência total do Uruguai, botando um ponto final na guerra em 1828. Dois anos depois, finalmente o território ganhou uma constituição, finalmente passando a ser chamado pelo nome que todos nós conhecemos. 


Poucos, mas belos frutos do esporte olímpico 




Quase cem anos após sua declaração de independência, o Uruguai formou um Comitê Olímpico Nacional, reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), ainda em 1923. A primeira participação do país numa Olimpíada foi em Paris-1924, aparecendo em todas as edições a seguir, com exceção, do famigerado Moscou-1980, alvo de vários boicotes. Essa história você pode ler clicando aqui

E no caso do Uruguai, sua história olímpica se confunde com a do futebol. Isso porque as duas únicas medalhas de ouro da nação foram exatamente nesta modalidade, com a lendária ‘Celeste Olímpica’, extremamente dominante entre as décadas de 20 e 30. 

Em dez anos, a seleção uruguaia de futebol conquistou quatro títulos de Copa América (1920, 1923, 1924 e 1926), duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos (Paris-1924 e Amsterdã-1928), numa época em que esse era o principal torneio de futebol entre países. Por fim, a Celeste fechou seu ciclo de domínio com a taça da primeira Copa do Mundo FIFA, disputada em casa, no ano de 1930. 

Seleção uruguaia de futebol nos Jogos Olímpicos de Amsterdã, 1928. Foto: Wikipédia Commons

Mas apesar do início dourado em sua trajetória, o Uruguai por pouco não foi aos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932. Sem a presença do futebol no evento, coube a Guillermo Douglas carregar uma nação em seus braços. O remador da categoria skiff individual não decepcionou e ficou com a medalha de bronze, atrás apenas do australiano Bobby Pearce e o estadunidense William Miller. 

Dentro das modalidades esportivas, Douglas foi o único uruguaio em Los Angeles-1932. Porém, existem registros da participação do pintor e jornalista Pedro Figari, nos eventos artísticos desta edição dos Jogos Olímpicos. 

A luta das pioneiras uruguaias 


As mulheres uruguaias demoraram para disputar os Jogos Olímpicos. A pioneira foi Estrella Puente, em Helsinque-1952. Na ocasião, a lançadora de dardo terminou o evento na 10ª colocação, em prova vencida por Dana Ingrova-Zatopkova, da então Tchecoslováquia. Estrella foi medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1955. 

Estrella Puente. Foto: Reprodução/Olympedia

Fora do campo esportivo, é válido destacar que Clotilde Luisi foi a primeira mulher uruguaia a representar o país nos Jogos Olímpicos. Ela participou das competições artísticas, mais precisamente no evento de literatura em Londres-1948.

Antes disso, Luisi fez história ao ser a primeira mulher uruguaia a ingressar na Faculdade de Direito na Universidade da República, em 1906 e ao obter o título de advogada cinco anos depois, tornando-se a primeira mulher nesta profissão no país. 

Apesar de tanta luta e muito pioneirismo, nenhuma mulher uruguaia conquistou medalha olímpica. 

O sucesso no remo 


A modalidade mais prolifera para o Uruguai nos Jogos Olímpicos foi o remo. Além do bronze de Guillermo Douglas a nação subiu mais três vezes ao pódio. Em Londres-1948, Eduardo Risso garantiu uma prata no skiff individual, a melhor colocação do país fora do futebol até então. Na mesma edição, William Jones e Juan Rodríguez ficaram com bronze no skiff duplo. 

Selo postal de Eduardo Risso. Foto: Reprodução/Alcheron

Na edição seguinte (Helsinque-1952), Miguel Seijas e novamente Juan Rodríguez, ficaram com mais uma medalha de bronze no skiff duplo, a última do remo uruguaio. 

Mas para entender esse sucesso dos uruguaios na modalidade entre os anos 1930 e 1960, precisamos dar alguns passos para trás na história, indo ao ano de 1874, quando foi fundado o Montevideo Rowing Club, um dos clubes esportivos mais antigos do país, atrás apenas do Montevideo Cricket. 

Foi no Montevideo Rowing Club que a geração medalhista olímpica foi criada. De lá surgiram três dos cinco remadores que foram ao pódio: Guillermo Douglas, Eduardo Risso e Miguel Seijas. De quebra, neste período o clube venceu dez títulos de Copa América na modalidade, sendo oito em sequência. 

Aos poucos o clube foi apostando e, novas vertentes, formando times de basquete, futsal, ginástica artística, judô, handebol, caratê, tênis e levantamento de peso, deixando de ser tradicional apenas no remo. 

Bronzes do basquete e do boxe e jejum quase sem fim

 

Estados Unidos, Argentina, Brasil, Porto Rico, Canadá. Nas últimas décadas essas foram as seleções de basquete masculino no continente americano com maior sucesso. Mas você sabia que o Uruguai já foi duas vezes ao pódio olímpico nesta modalidade? 

E foram dois pódios uruguaios em sequência: Helsinque-1952 e Melbourne-1956, ficando sempre atrás de Estados Unidos e União Soviética, que polarizavam as disputas pelo ouro na época. 

Entre as duas medalhas olímpicas, o país conquistou ainda dois títulos do Campeonato Sul-americano, além de ter feito sua estreia no Campeonato Mundial, em 1954, disputado no Brasil. A seleção do Uruguai saiu do nosso país com o sexto lugar, até hoje sua melhor colocação no torneio. 

Mas aos poucos as medalhas olímpicas foram ficando cada vez mais escassas para a delegação do Uruguai. Depois de 1956, o país voltou ao pódio apenas em 1964, com um bronze vindo pelas mãos do boxeador Washington Rodríguez, que na categoria até 54 kg. E a situação iria piorar. 

36 anos e finalmente um pódio

 

Após o bronze de Rodríguez no boxe em Tóquio-64, o Uruguai viveu uma imensa seca de medalhas. Oito edições de Jogos Olímpicos já haviam sido disputadas e a nação não sabia mais o que era subir ao pódio. 

Até que na Olimpíada de Sydney, em 2000, um ciclista uruguaio voltou a dar alegria ao povo do pequeno país sul-americano: Milton Wynants

Foto: AFP

Detentor de uma medalha de prata na corrida por pontos no Pan de Mar del Plata, 1995 e bronze no Pan de Winnipeg, 1999, Wynants não estava entre os grandes favoritos ao pódio na Austrália. Ao todo, 12 dos 28 participantes da prova em Atlanta-96 estavam de volta na competição (contando com Wynants), incluindo os três ciclistas que formaram o pódio na última edição olímpica na ocasião. 

Ainda assim, Wynants superou os adversários e conquistou a medalha de prata, ficando uma volta atrás do campeão, o espanhol Juan Llaneras. O ciclista uruguaio teve o mesmo desempenho que o russo Aleksei Markov, mas com a vantagem de dois pontos a mais, o que definiu a formação do pódio. 

Wynants ainda participou dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004 (9º lugar) e de Pequim, em 2008 (16º). Ele obteve mais duas medalhas pan-americanas na corrida por pontos, o ouro em Santo Domingo, 2003, e o bronze no Rio de Janeiro, em 2007. 

Mas o pódio olímpico não deu forças ao esporte uruguaio, que vive novo período sem medalhas. O mais próximo que o país ficou de ter um atleta entre os três melhores numa prova olímpica, foi no salto em distância, na Rio-2016. Emiliano Lasa passou as eliminatórias em terceiro lugar, com 8m14, mas não repetiu o desempenho na final, terminando na sexta posição, com 8m10, 19 centímetros atrás do pódio. 

Em Londres-2012 a seleção uruguaia de futebol voltou aos Jogos Olímpicos após 84 anos, contando com um super time para tentar buscar a medalha. Até os talentosos atacantes Luis Suárez e Edinson Cavani foram convocados. Porém, o país sequer passou pela primeira fase do evento, perdendo partidas contra Grã-Bretanha e Senegal (no vídeo abaixo você confere Suárez perdendo uma grande chance de gol contra Senegal). 



A situação para os Jogos Olímpicos de Tóquio

 

Para Tóquio-2020, o Uruguai tem até o momento cinco atletas classificados: uma dupla no remo scull duplo leve (ainda sem anúncio dos representantes), Dolores Moreira, da vela, classe laser radial feminino e Dominique Knuppel e Pablo Defazio, também da vela, na classe Nacra 17, a mesma dos brasileiros Gabriela Nicolino e Samuel Albretch (entrevista da dupla do Brasil neste link). 

Esportes populares no Uruguai 


+ Futebol


A ‘Celeste Olímpica’ (saiba mais neste link) é um dos maiores símbolos do futebol mundial, com as duas medalhas de ouro seguidas. No entanto, o Uruguai conquistou muito mais. A nação sediou a primeira Copa do Mundo de Futebol da história em 1930 e foi a campeã. Em 1950 os uruguaios voltaram ao topo, batendo o Brasil, em casa, para faturar o bicampeonato. 

Além disso, o Uruguai coleciona troféus de Copa América. São 15 ao todo, sendo que o último foi conquistado em 2011, com uma seleção de muito sucesso, semifinalista na Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul. 

O país também é dono de três medalhas Pan-americanas no futebol, dois ouros (Caracas-1983 e Toronto-2015), além de um bronze (Guadalajara-2011). 

Mas há uma grande disparidade entre o futebol feminino e masculino no país. Entre os homens, o Uruguai tem a nona melhor seleção do mundo, de acordo com o ranking da FIFA. Mas entre as mulheres, a nação ocupa apenas a 67ª colocação, atrás de países como Venezuela e Equador. 

Por clubes, o Uruguai tem oito títulos da Taça Libertadores masculina e nenhum na feminina. O Peñarol tem cinco títulos do torneio continental, enquanto o Nacional tem três conquistas. Mas o país vive uma seca na competição, sendo que a última vez que teve uma equipe campeã, foi em 1988. 

+ Basquete 


É uma das modalidades mais populares e prolíficas no país. No entanto, o basquete é mais uma amostra da diferença de apoio entre homens e mulheres no esporte. Enquanto o Uruguai tem a 45ª melhor equipe masculina no ranking da Federação Internacional de Basquete (FIBA), o time feminino sequer aparece entre os 100 melhores do mundo, amargando a 110ª posição. 

A seleção uruguaia de basquete masculino tem 11 títulos de Campeonato Sul-americano, uma prata de Copa América, além do bronze nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, em 2007. 

O Uruguai foi o país-sede do Campeonato Mundial de Basquete masculino de 1967. Mesmo entrando na fase final do evento, por ter o anfitrião, a seleção local não obteve um bom resultado, ficando na sétima colocação, com uma vitória em seis jogos. 

De quebra, a nação contou com um atleta na NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos. O pivô Esteban Batista jogou por duas temporadas no Atlanta Hawks, fazendo sua estreia em 2005, diante o Golden State Warriors. (Abaixo, um vídeo de Batista atuando pelo Hawks).



Após sua passagem no Hawks em 2007, Batista chegou a assinar um contrato com o Boston Celtics, mas foi dispensado em menos de um mês, deixando de vez a NBA, rumo ao Maccabi Tel Aviv, de Israel. Ele deixou a liga mais popular de basquete no mundo com médias de 1,7 pontos por jogo e 2,45 rebotes por partida. 

Atleta de destaque 


+ Emiliano Lasa 



É a grande estrela do esporte uruguaio, tirando claro, Luis Suárez e Edinson Cavani. Saltou 8m26 nos Jogos Sul-americanos de Cochabamba, na Bolívia, em 2018, seu recorde pessoal. Sexto colocado na prova de salto em distância, nos Jogos Rio-2016, ele tentará levar seu país ao pódio olímpico em Tóquio, após 21 anos sem uma medalha no megaevento. 

Lasa em ação na Rio-2016. Foto: Reprodução/Instagram Emiliano Lasa

“Foi importante para mim e para todo o Uruguai. O atletismo não é um esporte muito comum no país onde se assiste principalmente futebol ou basquete. Mas o atletismo, assim como outros esportes individuais, é deixado um pouco de lado”, disse Lasa em entrevista ao Olympic Channel, falando sobre sua performance no Rio de Janeiro. 

Atleta recentemente contratado pelo Peñarol, Lasa voltou às competições no fim do mês de março, após afastamento por lesão e pela pandemia de coronavírus. Ele conquistou medalha de ouro no GP Sul-americano Estrella Puente, saltando 7,57. Vale lembrar que o atleta ainda não tem vaga garantida nos Jogos Olímpicos de Tóquio. 

Foto: Camilo dos Santos

Lasa tem duas medalhas de bronze nos Jogos Pan-americanos, uma em Toronto-2015 e outra em Lima-2019.

0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar