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Do bronze ‘amargo’ no Pan de Lima, ao sonho do pódio olímpico: um papo com os velejadores Gabriela e Samuel

Gabriela e Samuel treinando na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro

Mirando um possível e sonhado pódio olímpico, a dupla Gabriela Nicolino e Samuel Albrecht, representantes brasileiros da vela na classe Nacra 17, está entrando na fase final de preparação para a Olimpíada de Tóquio. Classificados há um ano e meio e atualmente ocupando a 19ª posição no ranking mundial, o duo bateu um papo exclusivo com o site Surto Olímpico

A Nacra 17 é uma das categorias olímpicas da vela, sendo a única em que as corridas são disputadas entre duplas mistas. Isso, mesmo, uma mulher e um homem comandam a embarcação. A classe fez sua estreia nos Jogos Rio-2016 e vai agora para sua segunda presença no megaevento poliesportivo. 

Gabriela e Samuel tiveram uma boa fase antes da pandemia de coronavírus. No mundial de 2018, disputado na Dinamarca, a dupla ficou com o quinto lugar, saindo do evento com a classificação brasileira para Tóquio. De quebra, a parceria ficou com a medalha de bronze na estreia da Nacra 17 nos Jogos Pan-americanos, em Lima-2019. 

No entanto, o terceiro lugar continental acabou desagradando um pouco a parceria. Samuel revelou dificuldades enfrentadas em Lima-2019, que culminaram no bronze. “Sempre é legal ganhar uma medalha. A gente fica feliz. Mas foi um certo gostinho amargo, porque historicamente tínhamos um retrospecto melhor que a dupla americana e a argentina (Anna Weis/Riley Gibbs e Eugenia Bosco/Mateo Majdalani, ouro e prata respectivamente), que acabaram se adaptando às condições da competição, que tinha muito vento”. 

Eu estava voltando de uma fratura exposta no indicador da mão direta. Além disso, tivemos problemas de logística. Escolhemos competir no Pan com o barco brasileiro, mas seu transporte começou 60 dias antes do evento, então ficamos todo esse tempo sem treinar. Deveríamos ter enviado um barco da Europa e ter ficado com o nosso aqui, para praticar. Foi uma conquista bem-vinda (o bronze), mas poderíamos ter alcançado mais.

Mas o ponto de partida para o sonho olímpico da dupla foi no mundial de 2018. “Deixou várias lições né. Vimos ali que era possível competir contra o grupo da frente e que somos muito fortes em condições de vento fraco. Guardamos números e climas encontrados naquela ocasião para usarmos como referência”, contou Samuel. 

Mas nem tudo foram flores na estrada para Tóquio. Com a chegada da pandemia e consequentemente a falta de controle da crise sanitária em nosso pais, a dupla ficou cada vez mais isolada do restante dos adversários, muitas vezes sendo impedida de entrar em outras nações para competir devido ao bloqueio sanitário. 

As chances de medalha olímpica e o impacto da pandemia 

Gabriela Nicolino e Samuel Albrecht velejando no Rio de Janeiro
Foto: Divulgação/Beto Noval

“Pela primeira vez estou indo para uma Olimpíada com chances de disputar uma medalha”, disse o experiente Samuel. Ele foi 17º colocado na classe 470 ao lado de Fábio Pillar em Pequim-2008 e 10º na Nacra 17 com Isabel Swan, na Rio-2016. “Tudo pode acontecer em Tóquio. De provas sem vento, até baterias com muito vento e ondas. Fora que a Nacra 17 é a classe mais aberta, tem pelo menos umas oito duplas que podem chegar ao pódio. Não existe um favorito. Cada dia será um dia”. 

A pandemia mostrou dois lados aos atletas brasileiros. Apesar do susto do adiamento dos Jogos, Gabriela e Samuel tiveram mais tempo de descanso e puderam focar em ajustes importantes. 

“Tivemos bastante tempo para ‘arrumar a casa’, evoluir nos fundamentos, na parte técnica. A gente foca em fazer o possível, sempre dando o nosso melhor. Não perder o foco, o empenho. É claro, devemos assumir e agradecer a posição privilegiada na qual nos encontramos. Olha tudo que está acontecendo no mundo e ainda assim vamos participar da Olimpíada”, disse Gabriela, que fará sua estreia no megaevento. 

“Os atletas foram responsáveis pelo movimento de adiamento dos Jogos. Ninguém queria chegar nos lá sem a devida preparação. A gente entrega uma vida inteira pra entrar no auge e aí a quatro meses do evento nós estávamos em casa, sem poder fazer nada”. 

As dificuldades de um atleta olímpico 

Brasileiros da classe Nacra 17 da vela
Foto: Divulgação/Beto Noval

Muitas vezes, o fã de esporte que só acompanha outras modalidades durante o período da Olimpíada, pode imaginar que ser atleta olímpico é viver no glamour, sempre nos holofotes, ganhando diversas medalhas. Mas por trás da glória há uma vida de sacrifícios, perdas e dor

Para a Olimpíada do Rio de Janeiro, Samuel e Gabriela estiveram em lados opostos. O atleta gaúcho fazia dupla com Isabel Swan, enquanto a velejadora carioca navegava com João Bulhões. Eles eram adversários pela vaga nos Jogos, mas na ocasião, Samuel e Isabel garantiram a classificação. 

Com a parceria firmada em 2018, Gabriela e Samuel dividem a alegria, a responsabilidade e o peso de ser atleta olímpico. 

“A carreira de atleta olímpico é uma dicotomia. É difícil encontrar algo para fazer como profissão, que seja tão preenchedor, que esteja tão alinhado com o propósito que você quer atingir. Ao mesmo tempo ela não tem folga. Você não sai 18h, 19h do escritório e acabou. A alimentação é parte do trabalho, o descanso é parte do trabalho, as suas horas de sono ou não sono fazem parte disso também. É uma pressão enorme para que todo o seu dia a dia esteja 100% alinhado”, evidenciou Gabriela. 

O lado positivo, principalmente na vela, é que quando você sai para o barco, muda completa de ambiente. Estão lá você, sua dupla, o barco, o mar e o vento. Não tem como pensar em outra coisa. É claro, existem as inspirações, a medalha olímpica. Mas não há nenhum motivo racional que faça você escolher essa carreira, além de sentir que isso é melhor que você poderia estar fazendo. É uma entrega muito honesta, muito dura, mas gratificante. Enquanto for possível fisicamente e financeiramente, sempre vamos optar em fazer isso.

Quem faz o que no barco? 

Gabriela e Samuel posando para a foto com o Pão de Açúcar ao fundo
Foto: Divulgação/Beto Noval 

O Nacra 17 é uma embarcação do tipo multicasco e com propulsão a vela. O barco foi projetado em 2011, para atender especificamente os critérios exigidos para uma classe mista olímpica. Mas como duas pessoas conseguem controlar um veículo de 5,25m de casco e 18,45m2 de área velica? 

“As funções são bem específicas. O Samuel é o timoneiro, então ele dirige o barco, olha a raia, faz a estratégia, cuida do nosso posicionamento. Eu fico com a primagem das velas, regulagem do barco, sempre com o foco em dar mais velocidade, melhorar o desempenho da embarcação. É quase como se um estivesse dirigindo e outro estivesse acelerando”, explicou Gabriela. “É um caso de harmonia bem fina. Qualquer deslize tem um impacto relevante na rapidez. E por isso é sempre importante treinar muito, para fazer tudo em sincronia”. 

Inclusive, nem sempre dá tudo certo dentro do barco. Samuel postou recentemente um vídeo em seu perfil no Instagram, em que a dupla faz uma manobra errada e causa quase que uma ‘vídeo cassetada’. “Vale assistir”, disse o atleta aos risos. Confira abaixo. 




Foto: Divulgação/Beto Noval 

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