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Um ano sem Kobe Bryant - O impacto e o legado do primeiro grande superastro esportivo das redes sociais


Escrito por Lucas Bueno e Marcos Antônio

Há um ano o mundo perdeu um de seus maiores atletas. Dentro das quadras de basquete, Kobe Bryant foi determinado, ousado, desafiador, dominador, líder, professor, recordista, ídolo. São muitos adjetivos conquistados graças às suas ações em jogo e em treinos. Mas seu impacto esportivo não surgiu ‘do nada’. Tudo começou com o incentivo pai, Joe Bryant, ala-pivô de times da NBA, Liga Italiana e Liga Francesa. 

Com tantas idas e vindas de Joe no mundo do basquete, Kobe passou a maior parte de sua infância vivendo na Europa, entre 1984 e 1992. Lá ele aproveitou para aprender muito mais sobre a modalidade, assistia jogos, pedia dicas para colegas de seu pai, treinava a mecânica de seus arremessos. Ele parecia de fato predestinado a viver o que viveu, era só questão de tempo. 

De volta aos Estados Unidos, Kobe brilhou com a camisa da Lower Merion High School, em seu estado natal, a Pensilvânia. Tanto sucesso fez o atleta sonhar mais alto do que todos a sua volta esperavam. Mesmo cobiçado por diversas universidades, ele preferiu apostar alto e se inscreveu no Draft da NBA de 1996. 

Treinou muito, inclusive vestindo a camiseta do Boston Celtics (SIM!) em uma das oportunidades. Mas mesmo com tanto esforço, o garoto de apenas 17 anos não recebeu tanta atenção do top-10 do draft. 


                                                                    Foto: Reprodução

No dia 26 de junho daquele ano, outros 12 jovens jogadores foram draftados antes da vez de Kobe Bryant. Entre eles, Allen Iverson (1º), Stephon Marbury (4º) e Ray Allen (5º). Até que na 13ª escolha, enfim surgiu a oportunidade para nosso protagonista. 

Mas o responsável por seu draft foi o Charlotte Hornets, franquia na qual Kobe não tinha interesse em defender. É foi aí que o Los Angeles Lakers entrou na jogada. Uma troca de Kobe pelo pivô Vlade Divac havia sido ‘alinhavada’ no dia anterior. O resto é história. 

Naquele mesmo ano a franquia angelina draftou Derek Fischer, que esteve presente em todos os títulos do Lakers com Kobe. Quem também estava de chegada na equipe era o agente-livre e recém-campeão olímpico em Atlanta 1996, Shaquille O’Neal.

Da dinastia sem o trono, ao reinado sem títulos


                                                                    Foto: Reprodução/Djmag

Nos três primeiros anos de Lakers, o estilo de jogo de Kobe mostrou enorme semelhança com o de Michael Jordan, incluindo gestos involuntários. Juntando talento e muita preparação, não demorou muito para o jovem jogador alcançar o sucesso. 

Entre 1999 e 2002 sua parceria com Shaq rendeu uma dinastia nos Estados Unidos. Três títulos, suas primeiras nomeações ao Jogo das Estrelas e o desejo de conquistar muito mais. Não dava para imaginar, mas o império do Lakers ruiu em apenas dois anos. 

A suposta falta de empenho de Shaq nos treinamentos e partidas da temporada regular causou incomodo no ‘workaholic’ Kobe. Mas ele soube tirar proveito da situação. Subiu suas estatísticas e pela primeira vez atingiu os 30 pontos de média. 

Com uma situação insustentável após várias discussões, Shaq deixou Los Angeles, rumo à Miami (e venceu o campeonato de 2005-06), enquanto Kobe assumiu de vez o trono. Mas sem grandes jogadores ao lado, lhe sobraram pontos e faltaram vitórias.

Após a derrota contra o Detroit Pistons na final da NBA em 2004, o Lakers ficou anos longe da decisão na competitiva conferência oeste, sequer aparecendo nos playoffs em 2005 e sucumbindo diante o Phoenix Suns em 2006 e 2007. 

O ressurgimento do Lakers e a dupla dinâmica com Gasol


                                                                        Foto: Reprodução

Após anos comandando o Lakers em campanhas medianas nos playoffs, Kobe finalmente pode contar com um bom parceiro no time. Em 2008 chegou o espanhol Pau Gasol, com quem estabeleceria uma das grandes duplas da história da NBA. 

Logo de cara os resultados chegaram. O Lakers teve a terceira melhor campanha da temporada regular e finalmente Kobe ganhou o tão aguardado prêmio de MVP. Tudo parecia dar certo, varrida contra Nuggets, e passeios contra Jazz e Spurs. 

Mas pela frente havia uma histórica pedra no sapato: o Boston Celtics. O resultado não foi como esperado, e os maiores rivais do Lakers ficaram com o título após a vitória por 4 a 2 na série.

Com ‘sangue nos olhos’, Kobe não perderia mais oportunidades de fazer história como o rei do Lakers. Nos playoffs de 2009, contribuiu para que a equipe angelina derrubasse Jazz, Rockets, Nuggets e por fim vencesse com sobras o Orlando Magic na decisão, finalmente consagrando um Bryant como MVP das finais. 

No ano seguinte, era vez de reencontrar o algoz, Boston Celtics. Numa final épica, Kobe foi brilhante ao levar o Lakers ao segundo título seguido, com direito à um 4 a 3 na série.

Nos anos seguintes Kobe não alcançou o mesmo sucesso com o Lakers. Sofreu com graves lesões que aos poucos foram encaminhando o “Jordan de que não viu Jordan” ao final de sua carreira. 

É difícil falar sobre Kobe e não citar os mágicos 81 pontos contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006. Difícil não relembrar seus 17 All-Stars Games seguidos (entre 2000 e 2016). 

Mais difícil ainda é deixar de recriar com memórias, as cestas vencedoras, os dribles desconcertantes, as enterradas, as cestas de três para virar as partidas, o jogo de 60 pontos em sua despedida das quadras. Nem o melhor roteirista do mundo poderia escrever uma carreira tão brilhante com um desfecho à altura. Tudo isso com a camiseta do Los Angeles Lakers. 

Os desafios com o manto estadunidense

                                                                    Foto: Reprodução/NBC

Se na franquia angelina ele já cultivava um status de semideus, na seleção americana isso demorou um pouco a acontecer. Nos jogos olímpicos de Sydney em 2000, Kobe - que foi campeão da NBA pela primeira vez naquele ano - recusou a convocação por alegar cansaço após desgastante temporada e também que ele iria se casar com Vanessa, sua esposa até sua morte. 

Em 2004, Kobe estava cotado para fazer parte do Dream Team que disputaria os jogos de Atenas, mas o escândalo do caso de agressão sexual na época o fez ficar de fora daquela equipe que perderia pela primeira vez com jogadores profissionais e que ficaria com o bronze.

Já em 2006, Jerry Colangelo, que tinha assumido a USA Basketball após o vexame americano em Atenas, decidiu chamar Kobe Bryant e pediu que ele liderasse a equipe estadunidense nos Jogos de Pequim, desafio prontamente aceito pelo jogador.

No ano seguinte, vimos Kobe liderar a equipe americana na conquista da Copa América, plantando ali as sementes da equipe que ficou marcada na história como o 'Redeem Team' (O time da redenção, em tradução livre). Na preparação para Pequim, Kobe chegava para treinar às 5 da manhã, antes mesmo da comissão técnica. Com o passar do tempo, passou a ser seguido pelos outros jogadores como Lebron James, Dwyane Wade, Carmelo Anthony. Uns dos atletas mais conhecidos do mundo na época, Kobe mostrava para seus companheiros de seleção que era o cachorro alfa daquela matilha de cachorros alfas.

E em Pequim ele foi decisivo. No último quarto da final contra a Espanha, que tinha a melhor geração de sua história comandada pelo seu companheiro de Lakers Pau Gasol, Kobe marcou 13 pontos e distribuiu 6 assistências no último quarto para garantir a apertada vitória por 117 a 108 e ouro para os Estados Unidos. Kobe terminou o campeonato com médias de 15 pontos, 2,8 rebotes e 2,1 assistências. E isso com o ligamento do dedo mindinho rompido, lesão que ele adiou a cirurgia para estar nos jogos olímpicos. 

Kobe voltou para disputar os jogos de Londres naquela seleção que muitos comparam ser tão boa quanto o lendário Dream Team de Barcelona 1992. Mas ao contrário de 4 anos atrás, ele não era mais o principal jogador do time, já que Lebron James assumiu o posto de superestrela daquela geração e Kobe, já era o veterano do grupo. Mas ainda sim, ele foi um dos líderes daquela equipe que levou a medalha olímpica sem muitas dificuldades, até mesmo na final contra os poderosos espanhóis.

Em 2016, Kobe encerrou a carreira. Cogitou-se até que ele fizesse suas últimas partidas pelos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mas ele rechaçou a ideia, revelando o desejo de que seu último jogo fosse com a camisa dos Lakers. Dito e feito.

Apesar de não ir para os jogos do Rio, Kobe continuou ligado às olimpíadas.  Ele esteve presente nas seletivas Olímpicas de 2016 da ginástica feminina nos EUA, atuando muitas vezes como 'patrono' da seleção e ajudou a levantar fundos para a fundação da Equipe de Natação olímpica dos EUA, além de ser um dos embaixadores da candidatura de Los Angeles aos Jogos de 2024, que ficou para 2028.

Um grande amante dos jogos olímpicos, que ao conquistar o ouro olímpico em Pequim, ressaltou a importância do feito: "Foi algo muito pessoal para nós, colocar o nosso país de volta no topo. É um sentimento diferente jogar pelo seu país. Quando se joga na NBA, se joga por uma cidade em particular, mas quando se joga pelo seu país, essas divisões desaparecem. É uma grande honra que vai além de ganhar o Campeonato da NBA."

Mamba mentality, 8/24, polêmica e legado

                                                                       Foto: Reprodução

Muito mais do que uma marca, Kobe Bryant foi capaz de mostrar um novo estilo de vida para as pessoas. Sempre determinado, ele precisou elevar mais ainda seu nível de comprometimento com o Lakers após a saída de Shaq. Seu apelido durante a carreira - Black Mamba - deu o nome a essa forma de se esforçar: Mamba Mentality. 

Essa forma de viver é basicamente composta por muito trabalho. Ela exige o máximo de esforço de uma pessoa em qualquer atividade. É sobre dar o seu melhor em tudo. É projetar o futuro mesmo após uma conquista e não se contentar com apenas uma vitória. 

Mais do que isso, é importante compartilhar desta mentalidade com seus colegas mais próximos para que vários objetivos possam ser alcançados. E Kobe fez muito bem isso, levando seus companheiros de time para compromissos mais divertidos, buscando a evolução no entrosamento da equipe, algo fundamental na corrida pelos títulos de 2009 e 2010. 

Ao mesmo tempo em que passou a adotar a Mamba Mentality, Kobe também ganhou nova postura no campo do marketing. Mudou o número de sua camiseta de 8 para 24, o mesmo número que usava nos tempos de colégio. 

É importante lembrar alguns pontos para contextualizar essa mudança. A vida de Kobe passou por enormes turbulências entre 2003 e 2006. Fora o insucesso com o Lakers, a pressão de ter que carregar quase que sozinho o time naquele período, é valido lembrar a polêmica acusação de abuso sexual por parte de uma jovem recepcionista de um hotel no Colorado, em que o atleta estava hospedado. O processo não foi julgado, já que as partes entraram num acordo, mas por anos a imagem de Kobe ficou manchada. 

Talvez isso explique a 'jogada de marketing' formalizada com a troca do 8 para o 24, uma mudança de imagem, a ideia de reformulação, aprendizado, responsabilidade. Nunca saberemos toda a verdade sobre os bastidores desse ponto específico da vida de Kobe. 

Nos últimos anos, após a aposentadoria, uma aproximação com a WNBA e a presença do ex-atleta e sua filha Gianna Bryant em partidas da liga, trouxeram mais visibilidade para o basquete feminino, no que era um projeto do próprio Kobe, ajudar na evolução e levar melhores condições para as mulheres neste esporte. 

Por fim, é importante ressaltar que a morte de Kobe significou muito mais que a perda de um grande atleta. Se foi também o pai, o amigo, o professor. Além disso, temos que lembrar com carinho também de todas as vítimas daquele acidente de helicóptero do dia 26 de janeiro de 2020: uma das filhas de Kobe, Gianna Bryant, John Altobelli, Keri Altobelli, Alyssa Altobelli, Sarah Chester, Payton Chester, Christina Mauser e Ara Zobayan. 

Foto: Reprodução


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