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Surto História: os 25 minutos mais perfeitos da carreira de Roger Federer


No último dia 29, uma das partidas mais memoráveis da história do tênis completou quatro anos. Roger Federer bateu Rafael Nadal na final do Australian Open de 2017, e voltou a conquistar um título de Grand Slam, que não ia para as mãos do suíço desde 2012, após perder outras três finais entre 2014 e 2015. 


Os fãs mais fervorosos de Federer devem recordar bem das dificuldades encontradas pelo suíço durante o jogo. Especialmente no quinto e decisivo set, onde esteve uma quebra de saque abaixo, com Nadal liderando o placar parcial por 3 a 1. 


A virada alcançada por Federer no quinto set é considerada por ele mesmo, como os 25 minutos mais perfeitos de sua carreira. Afinal, aquela foi uma vitória contra seu maior algoz. Da primeira vez que enfrentou Nadal (Masters 1000 de Miami) em 2004, até a final de 2017 no Aberto da Austrália, era o espanhol quem comandava com sobras o h2h: 23 a 10 para Nadal. 


Qual era o contexto da partida?


Mas esse jogo foi muito além da maior rivalidade do tênis. Federer chegou à Austrália em baixa, ocupando a 17ª colocação no ranking da ATP, após ficar seis meses fora do circuito. Ele teve uma lesão no joelho, adquirida logo após a semifinal do Australian Open de 2016, quando perdeu para Novak Djokovic. Ao preparar o banho de suas filhas, o tenista fez um movimento que causou uma grave torção no joelho. 


Após passar pela primeira cirurgia em sua carreira, Federer até voltou a jogar, mas sem obter grandes vitórias, devido à falta de um período mais adequado para recuperação. Com isso, em julho daquele ano, decidiu desistir da temporada, ficando de fora dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e do US Open, no qual defenderia os pontos final de 2015. 


Nadal por sua vez também passava por problemas. Visando a Rio-2016, o espanhol tentou acelerar o processo de recuperação da lesão no punho esquerdo. Ele conquistou o ouro nas duplas masculinas, mas poucos meses depois a ‘conta chegou’. Assim, em outubro de 2016 ele se retirou da temporada. Fora de alguns torneios importantes, o tenista maiorquino chegou ao Aberto da Austrália na 9ª colocação do ranking. 


Arte: Surto Olímpico

Depois de excelentes partidas, Federer e Nadal estavam perto da glória, mas ainda precisavam se reencontrar. Eles não faziam um confronto desde a final do ATP 500 da Basiléia, em 2015. Em finais de Grand Slam, o duelo não ocorria desde Roland Garros 2011. Era muito significativo aquele jogo no Australian Open. 


E o jogo estava cumprindo com as expectativas. Tanto o suíço como o espanhol tiveram as rédeas do jogo e intercalaram momentos de domínio. Federer foi ‘cirurgico’ no set inicial, fazendo 6-4. Nadal respondeu com um 6-3 na parcial seguinte. O tenista da Basiléia retomou a liderança, aplicando 6-1, mas o espanhol voltou para a partida com um 6-3. 


O quinto set era ‘mortal’ para Federer. A dúvida pairava no ar, à medida que a parcial ia se desenrolando. Poderia o joelho do suíço suportar mais um jogo tão longo? Nadal prontamente apareceu com a resposta: enorme intensidade e segurança contra um Federer errático resultaram na quebra do serviço, logo no primeiro game. Nadal 1-0. 


Nesta altura do jogo, Federer já contabilizava 50 erros não-forçados durante a partida, enquanto Nadal tinha apenas 20. Natural, já que o suíço adotou uma postura tão agressiva para a final. E Federer não deixaria a primeira quebra do set sair barato. Aproveitou escolhas ruins de Nadal e teve dois break points. O espanhol salvou ambos, mas uma bola na fita daria ao suíço uma terceira oportunidade. Novamente desperdiçada. Resultado: Nadal 2-0.


Sem maiores problemas, Federer finalmente confirmou seu saque, diminuindo para 2-1. No game seguinte, Nadal tentou neutralizar o adversário, mas passou por apuros, tendo que salvar um break point para chegar o famoso 3-1. Parecia que Federer ‘morreria na praia’ novamente. 


Federer vai às lágrimas após perder a final do Australian Open de 2009 contra Nadal. Foto: Andrew Brownbill/AP

Corajoso, Federer começou sua remontada, nos 25 minutos mais brilhantes de sua carreira. Naquela altura, muitas coisas deveriam passar em sua cabeça. Talvez até lembranças das derrotas doloridas para Nadal, que o enfrentou em outras três finais de Grand Slam que foram para o quinto set (vitória do suíço em Wimbledon 2007 e do espanhol em Wimbledon 2008 e Australian Open 2009). 


Sem se omitir nos golpes de backhand, Federer tomou posse do jogo. Nem parecia que estava atrás no placar, tamanha confiança em tudo que passou a executar com perfeição e rapidez. Agressivo, o suíço tinha 63 winners, contra apenas 30 do espanhol.


O 3-1 favorável a Nadal logo evoluiu para um 3-3, com Federer incendiando a torcida ao devolver a quebra de serviço. Talvez o fato mais impressionante nem fosse mais seu físico ter suportando uma partida tão longa e sim a consistência de ser backhand, que naquela noite esteve avassalador.


Foto: Reprodução/The Guardian

Este jogo demonstrou o quanto um é importante para o outro. Federer só poderia atingir seu ápice na partida, com o domínio de Nadal, e vice-versa. Eles exigiam sempre o melhor, cada um em seu próprio estilo de jogo. 


No sétimo game do set final, Federer tirou cartas da manga e encurtou ao máximos os pontos. Sacou bem, conseguiu aces e voleou sempre que necessário, confirmando seu serviço sem sofrimentos, para assumir a liderança no placar pela primeira vez em 33 minutos.  


Quando precisou enfrentar perigosos rallies, não sucumbiu diante o poderio do adversário, e fez um dos pontos mais bonitos de sua carreira, como é possível conferir no vídeo abaixo. 



Mesmo com este lindo ponto, Federer perdeu quatro chances de quebra no game. Era um desafio constante, daquelas partidas em que realmente cada ponto pode mudar o desfecho. Na quinta chance o suíço não bobeou: 5-3 e saque para o suíço tentar voltar a vencer um Major. 


Último game. Bolas novas. Federer saca no backhand de Nadal, que aplica bela passada na cruzada, enquanto o adversário subia à rede, fazendo 0-15. No ponto seguinte, grandes trocas e Nadal explorou o revés do suíço, que pressionado, jogou para fora. Era o 0-30. 


Federer tentou reagir e disparou um ace (o 18º no jogo). Mas Nadal também queria o título, jogou duro novamente e obteve duas chances de quebra: 15-40. 


Depois disso, Federer não errou mais. Fez mais um ace, para se salvar, um winner de forehand fulminante para empatar e viu Nadal errar na devolução, para chegar ao tão esperado championship point. Era a perfeição agindo, até para superar as dificuldades desta partida tão intensa e emocionante. 


Coração à mil. Federer saca para fora. Segundo serviço. Silêncio total na Rod Laver Arena. Federer efetua o segundo serviço, o juiz de linha canta bola fora. O suíço desafia. Bola dentro. O complexo fica aliviado, já que o suíço tinha a maioria da torcida ao seu lado.  


Primeiro saque de novo. Federer manda no forehand do adversário, que resvala na bola. O juiz canta fora de novo. A angústia volta às arquibancadas. Desta vez havia sido fora mesmo. O suíço saca, o espanhol devolve e vê o adversário errar. Empate em 40. 


Tinha que ser sofrido, tinha que ter drama. Foram cinco anos de insucessos em finais de Grand Slam, de domínio dos principais adversários e do constante burburinho sobre sua aposentadoria. Não é possível que perderia de novo de forma tão dolorida. 


Achou mais um ace, o 20º ao longo de todo o jogo. Ponto de campeonato. Coação à mil de novo. Saque no revés de Nadal, que salvou por pouco, mas deixando a bola no meio da quadra para Federer matar o ponto com outro forehand poderoso. De pé, o público grita por frações de segundo. Nadal pede o desafio, entalando aquele grito que já estava preso por cinco anos. 


A revisão confirmou: bola boa. Roger Federer campeão do Australian Open de 2017. Placar de 6-4, 3-6, 6-1, 3-6 e 6-3. A retomada estava concluída. Era o 18º título de Grand Slam do suíço, que vibrou muito e foi às lágrimas com o novo troféu, realizando o sonho de vencer um Major na frente de seus quatro filhos – Charlene, Myla Rose, Lenny e Leo. 



“Na final do Australian Open diante do Rafael Nadal, em 2017, cheguei a estar perdendo com break abaixo no quinto set. Mas fui capaz de manter a calma e a partir daí joguei os 25 minutos mais perfeitos da minha carreira. Foi incrível, por tudo o que significou”, confessou Federer. 


Foto: Reprodução/ATP Tour

Essa foi a história da recuperação de Federer e Nadal, numa das partidas mais memoráveis da história do esporte, com os 25 minutos de perfeição por parte do suíço. 


Confira abaixo o quinto set da final do Australian Open de 2017, com narração em espanhol. 



Foto: Paul Crock/AFP


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