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Coluna Surto Mundo Afora - A representatividade negra no esporte ainda não existe






Dia 20 de novembro é celebrado o da Consciência Negra no Brasil, chegando até a ser feriado em diversos estados, como o da sede das últimas Olimpíadas, Rio de Janeiro. Dedicado à memória de quem lutou por igualdade e contra o preconceito, ele é muito utilizado pelos esportistas para ser uma data especial de recordações. Mas nesta memória de fotografias e vídeos, falta a principal bandeira para a representatividade estar completa: os negros liderando as entidades esportivas.



O esporte é de uma das áreas da sociedade onde mais tivemos ídolos e heróis. E os maiores de cada modalidade, negros. O maior atleta do século, segundo o jornal francês L’Equipe, é negro: Pelé. E o segundo, na mesma votação, também: Jesse Owens. O maior jogador de basquete, negro. O maior velocista, negro. A maior ginasta, negra. A maior jogadora de futebol, negra e nordestina. Até em esportes que não são olímpicos, como o automobilismo, também. São mais que figuras atléticas e desportistas, são símbolos de vitória e sucesso. 



Entretanto, essa simbologia que encanta adultos e crianças, além de inspirar gerações, quase sempre é limitada aos campos de competição. Nas esferas acima dos competidores, de gestão, a negritude ainda é exceção. Isso quando ela existe. E até mesmo em países onde a miscigenação é parte da cultura local, os brancos ainda dão as cartas e ditam as regras. Quantas imagens de gestores negros vimos ou veremos nesses dias de homenagem?



Nenhum exemplo pode ser maior que duas das entidades esportivas mais importantes do Brasil: a Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, e o Comitê Olímpico Brasileiro, o COB. A primeira fez sua fama com diversos ídolos negros. O maior de todos da História, Pelé, participou de três dos seus principais orgulhos, as cinco Copas do Mundo. Talvez nenhuma outra modalidade tenha tanta força negra como símbolo de sucesso como o futebol. 



Mesmo assim, a CBF jamais teve um presidente negro. Muito menos chegou perto de ter um. Nas federações, quase todos mandatários brancos, velhos e que há anos comandam de forma questionável "o esporte mais popular do planeta". E haja escândalos para tantos nomes que há anos estão na parede manchada por corrupção.



O COB, nem se fala. Além de brancos, velhos e uma das grandes figuras elitistas do país, seus dirigentes durante anos carregaram o estigma de darem preferência a esportes específicos. Até estourar o escândalo da compra de votos para a Rio 2016 e o castelo de cartas desmoronar. Alguma coisa mudou? Pouquíssima. Um conselho de atletas formado em sua esmagadora maioria por brancos. E olha que nem falamos da questão da falta de representatividade feminina... 



E por que essa representatividade nas áreas de gestão é tão importante? Porque são elas que fazem as regras. Não se muda modelos velhos e padrões ultrapassados, nesse âmbito se inclui o racismo, com pessoas que não tem o lugar de fala e muito menos convivem com a diferença. Os obstáculos e as lutas para se chegar ao mais alto lugar, seja do pódio, seja do simbolismo de sucesso. É nessa cesta de visões que a voz dos negros ainda não ecoa.



Enquanto lutamos por igualdade e mais respeito ao esporte, internamente ele continua desigual e manchado pelo desrespeito. Não é com medalhas, seja ela de que cor seja, que se confere status de representatividade. Ela se confere com postos iguais, lutas iguais e novas lideranças. No mês da Consciência Negra, talvez seja a hora de sermos mais conscientes e menos palanque.

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