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Campanha é lançada para que mulheres com alta taxa de testosterona possam competir normalmente


Um grupo de mulheres atletas está impossibilitado de competir em provas oficiais por registrarem taxas de testosterona acima do padrão. Visto por alguns especialistas como um sinal de intolerância, preconceito e baixa empatia, a normativa já encerrou prematuramente a carreira de dezenas de esportistas e hoje ameaça a trajetória de várias corredoras, inclusive as três medalhistas dos 800m nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016: Francine Niyonsaba, do Burundi, Margaret Wambui, do Quênia, e a bicampeã olímpica Caster Semenya, da África do Sul, cuja apelação foi negada no último dia 8, no Supremo Tribunal da Suíça, e ela só competirá se usar medicação para reduzir seu nível de testosterona.

A recente derrota da sul-africana nos tribunais suíços é o último lance de uma longa história. Um dos principais nomes do atletismo mundial, Caster foi impedida pela World Athletics (WA), antiga International Association of Athletics Federations (IAAF - Associação Internacional de Federações de Atletismo), de defender seu título nos Jogos de Tokyo-2020. A federação condicionou a participação da atleta ao uso de supressores hormonais. O caso reascende às "nude parades" da década de 1960 quando competidoras femininas eram submetidas a um humilhante exame de comprovação de sexo biológico.

Diante da desigualdade, surge o movimento #LetHerRun, uma coalizão de ex-atletas, cientistas desportivos e acadêmicos, entre elas a ex-jogadora de vôlei Jaqueline Silva, primeira mulher brasileira medalhista de ouro em Jogos Olímpicos, e Kátia Rubio, professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP.

"O caso da Caster merece a nossa atenção, porque determina o destino de dezenas de outras atletas que terão suas carreiras extintas prematuramente apenas por terem nascido fora dos padrões impostos por tecnocratas de uma agência regulamentadora. Por que a produção de hormônios naturais não invalidou nenhuma carreira masculina até hoje? Alguém já parou para comparar os níveis de testosterona do Usain Bolt com os do Justin Gatlin, por exemplo?", indaga Jackie Silva, embaixadora do movimento.

Idealizado pela agência Africa, o movimento conta com filme de lançamento no https://letherrun.com.br/pt-br/, retratando as "nude parades" e os constrangimentos causados às atletas mulheres. O #LetHerRun traz uma carta aberta para a World Athletics e seu presidente Sebastian Coe, diante da desigualdade de tratamento - homens não são limitados a um teto de testosterona natural para competir -, a fim de reverem o banimento das atletas e publicamente pedirem desculpas àquelas mulheres submetidas às nude parades.

"A história do esporte olímpico é marcada por grandes lances de superação que inspiram o avanço humano. Porém, o caso da Caster é uma traição desta história. É um retrocesso que apequena o sonho olímpico de solidariedade e inclusão. Espero que esse erro não precise ser revisto daqui há algumas décadas como as injustiças cometidas contra outros atletas do passado", afirma Kátia Rubio, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e uma das consultoras do movimento.

A World Athletics ainda exige de atletas femininas uma comprovação de sexo biológico. Durante as Olimpíadas de Moscou, em 1980, Jackie Silva foi submetida sem saber a um desses exames. O episódio está longe de ser um fato isolado.

Impedida de competir, Caster Semenya atualmente trabalha na equipe técnica de um time de futebol feminino em seu país de origem.

"Estou muito desapontada com esta decisão, mas me recuso a permitir que a World Athletics me drogue ou me impeça de ser quem eu sou. Excluir atletas do sexo feminino ou colocar nossa saúde em risco apenas por causa de nossas habilidades naturais coloca o atletismo mundial no lado errado da história", disse Semenya após a última decisão nos tribunais.

Para saber mais, ajudar ou pedir ajuda acesse: www.letherrun.tokyo

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