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Surto de A a Z: os brasileiros do golfe, parte 1


Como vimos no primeiro trecho da série especial sobre golfe no Surto Olímpico, o Brasil não é um país tradicional na modalidade, tendo apenas 20 mil praticantes e 117 campos. Aproximadamente metade deles são no estado de São Paulo, evidenciando uma desigualdade. Porém, nesta década passamos por momentos de evolução, com golfistas conseguindo resultados inéditos. 

Um desses atletas é Alexandre Rocha. Em 2012 ele foi vice-campeão de um torneio na PGA Tour, principal circuito de golfe do mundo. Disputou o Major US Open 2011, um dos principais campeonatos da modalidade, passando a linha de corte e participando até o último dia de evento. Hoje, aos 42 anos, ele ainda mostra-se muito "inquieto" com a carreira e projeta anos ainda melhores.

"A minha carreira está sendo 'ok'. No meu ponto de vista sempre acho que eu posso dar mais e fazer melhor. Sempre pensei assim durante minha vida inteira e isso teve efeito no pouco que alcancei. Ter chegado no PGA Tour e no Tour Europeu foram coisas importantes. Quase venci torneios em alguns circuitos. Eu não estou insatisfeito com a minha carreira, mas estou inquieto. Eu acho que eu posso fazer melhor. Então eu pretendo continuar no rumo. Eu ainda continuo achando que os melhores anos estão por vir. Assim que eu penso todos os dias", revelou o golfista.

O primeiro contato de Alexandre com o esporte foi logo aos seis anos, pois seus avós tinham uma casa no São Fernando Golf Club, em Cotia. Ao ver as pessoas jogando, ele quis experimentar. Desde então nunca mais largou os tacos. Aos nove, passou a competir em torneios infantis e juvenis de golfe, despertando assim uma paixão que o transformaria no amador número 1 do Brasil. Depois disso o destino foi a Universidade Estadual do Mississippi, nos Estados Unidos. 

"A faculdade foi essencial porque eu saí do Brasil na época como o melhor amador brasileiro e quando cheguei nos Estados Unidos e tive que entender que eu tinha que melhorar mais ainda. E tem que fazer rápido porque para poder manter o seu lugar no time você tem que performar em um certo nível. Como consequência, ao longo dos quatro anos de estadia na universidade eu fui melhorando cada vez mais e consegui alcançar vários objetivos", disse Alexandre.

Mas por ser um esporte considerado elitista, golfistas brasileiros tendem a passar por dificuldades, como foi o caso de Rodrigo Lee. Campeão há cerca de uma semana no PGA National, torneio da Minor League Golfe, ele morou muitos anos na Coreia do Sul e teve adversidades no retorno ao Brasil e na conquista de patrocínios. 

"Tive dificuldades no começo em me adaptar aos campos daqui e no tipo de grama que tem no Brasil, que não existe na Ásia. São totalmente diferentes. Tive também problemas financeiros, que me deixavam mais pressionado nos campeonatos. Por sorte, de 2015 até 2018 tive um patrocinador, sócio do clube que me ajudava com as despesas para jogar o circuito do PGA Latino America. No Brasil o golfe não é um esporte popular, e por isso arrumar um patrocínio é muito difícil, não temos como fazer muito marketing para dar algum retorno ao patrocinador", disparou.

Foto: Divulgação
"Trata-se de um esporte um pouco elitizado. Também acho que ainda não temos algum jogador que se destaque para sair nos jornais e na mídia com frequência e chamar a atenção do povo. Precisamos de jogadores de golfe do mesmo modo que Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno foram para o futebol", comparou Lee.

Como mudar esse paradigma de esporte elitista?

De acordo com Alexandre Rocha, o país precisa de campos de golfe abertos para o público, para que as pessoas possam ter o primeiro contato com a modalidade, assim então popularizando a prática. 

"É um esporte elitista pelo seguinte: custa muito caro e no Brasil os campos são todos privados, são todos clubes e você tem que se associar para poder competir, impossibilitando a grande maioria da população poder fazer parte. Para desenvolver o golfe no Brasil a primeira coisa que você percebe é que precisa existir campos públicos", explica Alexandre. 

"As pessoas em geral não conseguem pagar para serem sócias de um clube. Elas têm que poder jogar golfe de forma mais acessível. Tenho certeza que existe muita gente com muito talento para o golfe no Brasil e a gente sabe que eles simplesmente não conseguem por causa do financeiro. Esse é o passo principal", argumentou. 

"O segundo passo é que precisa existir um circuito profissional forte aqui no Brasil. De todos os países onde o tour profissional foi bem desenvolvido, saem em bons golfistas. E esses, por sua vez, dão o exemplo aos iniciantes e as crianças, formando um ciclo". 

Os melhores momentos da carreira

Atualmente jogador do Korn Ferry Tour, um circuito secundário da PGA, Rodrigo Lee foi medalhista de ouro nos Jogos Mundiais Militares de Wuhan 2019, tanto no individual, como por equipes. Mas ele considera o ano de 2014 como seu divisor de águas, além de traçar metas para o futuro.  

"Em 2013 joguei muito mal todos os torneios. Então em 2014 treinei muito todos os dias, foi no estilo 'no pain, no gain' ('sem dor, sem ganho', em tradução livre). Trabalhei até conseguir melhorar. Desde então, continuo firme nos treinos. Meu objetivo principal é jogar no circuito da PGA, que é o principal circuito profissional do mundo. E também não posso deixar de falar no meu interesse de jogar os Jogos Olímpicos pelo Brasil um dia", disse Lee, que atualmente ocupa a 1.106ª posição no ranking mundial.

Já Alexandre Rocha conquistou um vice-campeonato no torneio do Reno Tahoe Open, em 2012, disputado no Montreux Golf & Country Club, em Nevada, Estados Unidos. Este foi um feito jamais alcançado por um golfista brasileiro até então. Ele ficou atrás apenas de J. J. Henry, por uma tacada de diferença. 

"Esses dias vividos no torneio talvez tenham sido o meu momento mais alto, porque eu estava competindo de igual para igual com os melhores do mundo e jogando bem, me sentindo bem. Acho que esse resultado tenha sido meu auge até o momento", relembrou. 

Segundo brasileiro a disputar o PGA Tour (Jaime Gonzales foi o primeiro, permanecendo até 1982), Alexandre ficou dois anos consecutivos no principal circuito do mundo, conseguindo classificação para o US Open de 2011, terminando o evento na 68ª posição, ficando na frente de golfistas como  Justin Rose (atual 13º do ranking), Rickie Fowler (atual 31º), e Ian Poulter (atual 60º). 

Hoje Alexandre está em 540º lugar no ranking mundial de golfe, sendo que seu melhor ranking foi 323º, conquistado no ano de 2008. 

Como é ser um brasileiro jogador de golfe?

Profissional desde 2000, Alexandre teve grandes oportunidades de disputar torneios contra os melhores golfistas do mundo mas isso nunca o abalou, mesmo sendo um dos poucos brasileiros no meio de tantos atletas de outros países. 

"Nunca me senti como um peixe fora d'água. Sempre fui capaz de fazer o que fiz. Desde o juvenil eu parei de fazer comparações com outros golfistas. Passei a traçar meu próprio caminho e a me preocupar comigo mesmo. Eu acompanho a carreira de alguns amigos, pessoas que são realmente boas, mas parei de me comparar. Sempre achei isso perda de tempo", relatou.

Ele ainda comentou como explicaria a modalidade para uma pessoa que não acompanha ou não teve contato com este esporte. 

"Diria que é um jogo onde você tenta errar menos, na realidade. O engraçado é que gente treina, treina, treina para tentar melhorar e tentar fazer as coisas certas. Mas verdade quem ganha no golfe é quem erra menos. É um jogo muito mais estratégico do que qualquer outra coisa. A partir de um certo ponto técnico, obviamente. Trata-se de um grande desafio contra você mesmo, é uma grande lição de vida.

O desafio da pandemia de coronavírus

Aos 32 anos, Rodrigo Lee foi o primeiro brasileiro a enfrentar o desafio de voltar aos campos ainda durante a pandemia de coronavírus. Assustado com o nível apresentado nos primeiros eventos disputados, ele comentou sobre os protocolos encontrados nos torneios da Korn Ferry Tour.

"Na verdade foi muito difícil para mim voltar a competir depois de 3 meses sem treinar nada de golfe. Parecia que nunca tinha jogado antes. Golfe é um esporte que se você parar muito tempo, demora para se sentir igual antes", reiterou. "Não fui muito bem. Me senti um pouco despreparado para jogar. Para me sentir confiante, novamente preciso um pouco mais de tempo".

"Agora tem muitas restrições, tipo, sem contato para cumprimentar, teste para detecção de coronavírus toda semana, medição da temperatura antes de entrar no clube, todo dia de manhã mandam uma mensagem perguntando se estamos com algum sintoma de COVID-19. Realmente a organização está fazendo de tudo para a segurança dos jogadores", concluiu.

Alexandre Rocha ainda não tem torneios confirmados, mas tudo indica que ele deverá voltar a jogar em setembro, em eventos que deverão emendar as temporadas 2020 e 2021 no circuito da PGA Latino-americana.

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Foto: Divulgação

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