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Tenista universitário brasileiro faz vaquinha na internet para manter estudos nos Estados Unidos


Ex-número 1 do ranking paulista Sub-16, o tenista universitário Pedro Mancini foi mais um entre as inúmeras pessoas afetadas pela pandemia de coronavírus. Estudante de Ciências de Dados e Finanças da Merrimack College, na cidade de North Andover, Massachusetts, nos Estados Unidos, o atleta está fazendo campanhas de vaquinha (financiamento coletivo) pela internet, para manter o sonho acadêmico e esportivo. 

Calouro da Merrimack Warriors, equipe esportiva de sua universidade, Mancini ganhou 70% de suas partidas de tênis, além de garantir a nota máxima de 4.0 no Grade Point Average, uma espécie de média total de desempenho acadêmico. 

Para o verão norte-americano o tenista de 19 anos havia se qualificado para dois estágios remunerados, um numa instituição financeira e outro em um clube de tênis e a renda obtida ajudaria nos custos que sua bolsa esportiva não cobre, como mensalidades, gastos pessoais, matrículas, alojamento e materiais de estudo. Mas de repente veio a pandemia, Mancini perdeu os estágios e a faculdade recomendou que ele retornasse ao Brasil até que a doença fosse controlada. 

"Afetou muito no sentido financeiro. Lá as coisas estavam bem, mas tá começando a afetar agora, tem que começar a pagar os custos do próximo ano e foi ai que surgiu a ideia da vaquinha. Meus pais são profissionais autônomos, então não há uma renda fixa e a pandemia atrapalhou muito e mesmo após o controle, deve continuar abalando", relatou Mancini. 

De volta ao Brasil, Mancini conseguiu outros dois estágios, fazendo serviços home-office em uma Startup de gestão de saúde e outro em um projeto focado em ecossistema esportivo. Apesar da grande oportunidade profissional e de poder se ocupar durante os dias que passa em casa, respeitando o isolamento social, esses estágios não são remunerados. 

E isso reforçou a necessidade das campanhas de vaquinha, uma feita no Brasil, com meta de R$ 40 mil e outra nos Estados Unidos, com valor de US$ 5 mil (cerca de R$ 26,6 mil), ambas para pagar custos dos próximos semestres. Na campanha nacional, R$ 11 mil já foram arrecadados em cinco dias, como informou o atleta.   

Mesmo abalado pela pandemia e as dificuldades que ela está causando, Mancini se manteve otimista para o futuro, além de acreditar que pôde evoluir no âmbito pessoal e profissional. 

"No esporte não tem como crescer muito nesse momento, mas tem que se manter ativo né. Mas graças a deus eu consegui enxergar oportunidades, estou fazendo os estágios que surgiram, para o verão já apareceu um programa online para uma instituição financeira e eu estou muito animado pelas coisas que vem pela frente. Também fui chamado para ser assistente de professor em um dos cursos na minha faculdade pelas notas que tive e estou muito contente com isso", ressaltou Mancini. 

Esperançoso, Mancini afirma não ter medo do coronavírus, mas sim dos impactos que ele pode causar. "Fico preocupado com os impactos que podem ser causados no mundo. Mas nas últimas semanas eu estou meio otimista, diria que a situação está melhorando gradualmente e isso é bom para o mundo inteiro". 

Foto: Arquivo pessoal do atleta
A relação com o tênis

Praticando tênis desde os 10 anos, Mancini conta que sempre gostou de esporte, mas o tênis era algo diferenciado. "Comecei relativamente tarde, no clube Altos dos Pinheiros, com o professor João Carlos e lá eu me apaixonei pelo esporte. Ficava o dia inteiro na quadra, comecei a faltar em aulas de futebol, que era o que eu jogava na época. Andava de skate também e decidi parar", explicou. 

"Quando optei por ficar definitivamente no tênis, por coincidência surgiu uma oportunidade de fazer um teste no clube Paulistano, em 2011. Passei no teste e fiquei lá por três anos, um período muito importante para a minha base no tênis", ponderou Mancini, que já foi o melhor tenista do estado de São Paulo na categoria 12MC em 2012. 

Após dois anos menos rentáveis em títulos e uma troca de técnico, Mancini foi líder do ranking estadual Sub-16M, enfileirando títulos e finais de torneios, incluindo um vice campeonato nacional em duplas. 

"Chegou um momento em que decidi com minha família que eu faria ensino a distância (EAD) para completar o ensino médio e focar no tênis. Foi ai que surgiu a oportunidade para treinar na Argentina com os ex-tenistas Hernan Gumy e Alejandro Lombardo, dois treinadores renomados no circuito", revela Mancini, que àquela altura estava na dúvida em seguir seu caminho direto para o tênis profissional ou passar pelo tênis universitário e tentar uma vaga em universidades norte-americanas.

Mas nem tudo foi fácil. Mancini indicou que houveram momentos de muito estresse em 2018, ano em que ele se dividia buscando seu primeiro ponto no ranking mundial dos tenistas e estudando para as provas necessárias para ingressar em uma faculdade nos Estados Unidos. 

"Joguei muitos torneios ITF, sempre em busca de um ponto da federação. Tive várias chances, performei muito bem, mas sempre que surgia a oportunidade de entrar no ranking mundial, eu não conseguia. É uma coisa que dói em mim. Foi um momento muito difícil, eu estava muito estressado. Estudava demais para o SAT, Toelf, além do EAD do ensino médio. Mas valeu muito a pena, consegui todas as notas necessárias e contei com uma boa assessoria para falar com os técnicos e negociar com as universidades norte-americanas", declarou Mancini. 

O tenista acredita que poderá voltar aos Estados Unidos em breve e que o desenvolvimento de uma vacina poderá adiantar esse retorno, impedindo a criação de barreiras mais duradouras em relação à viagens internacionais ao país. A partir de setembro deste ano ele começa a cursar o 3º semestre na Merrimack College. 

O tênis norte-americano

Desde que chegou aos Estados Unidos, Mancini teve contato com um estilo de jogo mais rápido, com pontos dinâmicos, e muito saque e voleio. 

"A intensidade em cada golpe, a rapidez de cada ponto e o fato da gente jogar em quadras cobertas por causa do frio, são diferenciais do tênis praticado aqui. É um jogo muito mais de potência do que de resistência, como é no saibro, por exemplo. Jogadores altos levam muita vantagem, o saque faz muito efeito na quadra rápida indoor e tenho aprendido muito com isso. Meu saque melhorou muito, tenho adquirido mais agressividade nos pontos, além de aprender muito em duplas", completou Mancini.   

Foto: Arquivo pessoal do atleta

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