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Surto Opina: Serginho, o gênio silencioso


Criada em 1998, a função do líbero salvou dezenas de 'carreiras' no voleibol quando foi implantado. Uma delas foi a de Sérgio Dutra Santos, o Serginho, que de terceiro levantador do Palmeiras foi para a posição para poder jogar mais. Mal ele sabia que 22 anos depois, o anúncio de sua aposentadoria aos 44 anos, deixaria essa posição órfã do maior atleta que teve.

Serginho, que tinha o nome acompanhado do seu apelido 'Escadinha' por acharem parecido com o famoso traficante do Rio de Janeiro nos anos 80 e 90, é um gênio do voleibol. Não era o jogador virtuoso que levantava a galera com cortadas espetaculares, ou levantamentos acrobáticos, não era o nome que ninguém gritava quando fazia uma bela jogada na 'pelada', mas silenciosamente foi galgando o seu status de incontestável, com muito esforço e talento.

A seleção brasileira que dominou o vôlei no início dos anos 2000 tem muitos fatores de sucesso, mas um deles é insubstituível. Afinal, quem conseguiria fazer defesas praticamente impossíveis na recepção e entregar uma bola redondinha na grande maioria das vezes para o levantador além de Serginho? E a capacidade de levantar bem a bola quando o levantador não podia? 'Escada' - como os jogadores o chamam até hoje - foi um dos grandes pilares para que o Brasil conseguisse imprimir o jogo de extrema velocidade que fez o país dominar o vôlei mundial.

E arrisco dizer que, talvez sem ele, a gente não fosse bi mundial,campeão olímpico e hepta da Liga Mundial entre 2001 e 2009, auge do líbero. Se você ainda tem dúvidas, esse vídeo exemplifica um pouco dessa garra e talento para defender:



Serginho era o camisa 10 daquela seleção, número que no futebol é dado apenas aos craques. Nada mais justo. Como esquecer o momento em que ele foi eleito o MVP da Liga Mundial de 2009, a primeira vez na história que um líbero recebia esse prêmio.

E sua presença em quatro finais olímpicas seguidas? Duas medalhas de ouro e duas de prata. Pensar que quase ele ficou de fora dos Jogos do Rio, mas foi convencido pelo técnico Bernardinho - que sempre o convocou durante sua passagem como técnico da seleção entre 2001 e 2016 - a jogar, pois mesmo sem a agilidade de outrora, sua experiência em se antever e se colocar corretamente para fazer a recepção correta dentro da quadra era imprescindível.  Foi eleito o MVP dessa Olimpíada, também o primeiro da posição na história a alcançar o feito.

Por mais que Serginho tenha recusado essa alcunha em entrevistas, é inegável: ele é um dos grandes heróis olímpicos do Brasil na história. Se é difícil conquistar uma medalha olímpica, imagina quatro! Além dele, só Inna Ryskal, da União Soviética, esteve presente em quatro finais olímpicas no vôlei, entre Tóquio-64 e Montreal-76.  No Brasil, só os velejadores Torben Grael e Robert Scheidt tem mais medalhas olímpicas do que ele, cinco.

Fora os incontáveis títulos e todo o impacto cultural que ele teve na sua posição. Serginho ajudou a redefinir a posição de líbero, que de posição considerada 'ingrata' por não poder atacar, fez jogadores escolherem jogar como líbero para serem iguais ao seu ídolo. Serginho foi um gênio silencioso, que impactou profundamente o vôlei sem alarde, chamando atenção sem precisar saltar para cortar ou bloquear. Ele é uma unanimidade, se muitos discutem quem foi o melhor oposto, melhor ponta, melhor levantador...Ninguém discute quem foi o melhor líbero de todos os tempos. Todos elegem Serginho. 

Ao anunciar sua aposentadoria, Serginho fez um pedido: "Não fiquem tristes! Quer me deixar feliz? Joguem voleibol. Amo vocês!". Não ficaremos tristes, mas será impossível não sentir saudade de você nas quadras. Obrigado por tudo, campeão.


foto:FIVB

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