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Surto História - O mistério das irmãs soviéticas



Tamara e Irina Press chegaram aos Jogos Olímpicos de Roma em 1960 cercadas de favoritismo e de desconfiança. 

Favoritismo era por causa das duas irmãs demonstrarem grande força nas suas provas - Tamara no arremesso de disco e lançamento de peso e Irina nos 80 metros com obstáculos. Desconfiança, pois o visual das duas irmãs era considerado masculinizado e, em uma época em que os testes de feminilidade não eram obrigatórios, a desconfiança de que elas eram homens ou intersexuais - pessoas que tem características físicas dos sexos masculino e feminino - eram altas. Outra desconfiança era de que elas teriam recebido injeções de hormônio masculino do governo soviético para aumentar a sua força, o que causou um visual masculinizado nas irmãs.

Mas elas, que desde 1959 aniquilavam recordes, não quiseram saber. Nos 80m com barreiras, Irina bateu o recorde olímpico na semifinal (10s77) e ficou com ouro com 10s93, mas não conseguindo recuperar o recorde mundial, batido pela alemã oriental Gisela Birkermayer - que ficou com o bronze nessa prova - antes dos Jogos.

Já sua irmã Tamara teve uma disputa emocionante com a compatriota Nina Romashova no lançamento de disco e ficou com a prata. Detalhe: a diferença da medalha de prata de Tamara para o bronze de Lia Manoliu (ROU) foi de quase seis metros (52,59m contra 46,96m). Já no arremesso de peso, Tamara foi dominante e aniquilou a concorrência levando a medalha de ouro com recorde olímpico e 71 centímetros de vantagem para a segunda colocada. Tamara e Irina se tornaram as primeiras irmãs a conquistarem ouro olímpico em uma mesma Olimpíada.

Quatro anos depois, em Tóquio, as irmãs Press estavam de volta aos Jogos Olímpicos já consolidadas como grandes atletas - as duas juntas já tinham quebrado 13 vezes os recordes mundiais no intervalo entre Roma e Tóquio - e as dúvidas sobre elas serem realmente mulheres aumentavam ainda mais.

Irina surpreendentemente ficou em quarto lugar nos 80m com barreiras, em uma prova acirradíssima. Mas na estreia do pentatlo no programa olímpico, a soviética dominou e levou o ouro, com direito a recorde olímpico e mundial. Já Tamara dominou o lançamento de disco e o arremesso de peso - este último Irina disputou e ficou em sexto - , com dois ouros, com direito a recorde olímpico nas duas provas.

Nos anos seguintes as duas dominaram suas provas, sendo recordistas mundiais em todas elas, até que se tornou obrigatório o teste de feminilidade para todas as atletas a partir do campeonato europeu de 1966. Misteriosamente, elas se retiraram da competição e aposentaram precocemente (Tamara tinha 29 e Irina, 27, na época) ao mesmo tempo da obrigatoriedade, voltando a morar na Ucrânia e, posteriormente, em Moscou. 

A mídia ocidental interpretou a aposentadoria das irmãs Press como uma confissão. Um porta-voz do esporte soviético descartou as acusações, acusando os países ocidentais de inveja,  alegando que as irmãs haviam ficado em casa para cuidar de sua mãe doente. Motivo este que nunca foi realmente confirmado, já que a dupla se manteve em silêncio sobre suas aposentadorias desde então,  o que manteve o mistério para sempre. 

No pós carreira, Tamara virou treinadora e se formou em pedagogia e Irina se formou em educação física, se tornando treinadora também. Irina faleceu em 2004, sem que a causa da morte fosse divulgada.

foto: Reprodução

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