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Coluna Surto mundo afora #60 - Coronavírus pode cancelar Tóquio 2020, mas as chances são remotas



Por Bruno Guedes

O surto de Coronavírus, cuja doença COVID-19 vem causando grandes danos à Ásia, gerou grandes preocupações sobre os rumos das Olimpíadas de Tóquio. O maior temor é de que o a contaminação se espalhe de tal maneira que o evento precise ser cancelado, como diversos outros vem sendo mundo afora. De fato o problema é gravíssimo e afeta diretamente os Jogos que começam no próximo dia 24 de julho e termina em 9 de agosto. Porém é pouco provável que a edição deste ano seja a quarta a não ser disputada. E são diversos os fatores que ajudam nessa análise.

Descoberta em dezembro e com rápida disseminação, o Coronavírus levou pânico ao continente asiático, onde teria surgido, segundo os infectologistas, e o mais afetado. Até o dia 5 de março, com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), foram mais de 82 mil infectados confirmados e 3 mil óbitos somente na China. No Japão, onde será a próxima Olimpíada, até o fechamento desta coluna eram 1.036 casos. 

Desde o começo de março o governo japonês passou a exigir quarentena dos cidadãos da Coreia do Sul e China, locais com maiores números da doença. A medida levantou suspeitas sobre o que poderia acontecer com os Jogos Olímpicos de Tóquio, já que dezenas de milhares de turistas se preparam para o evento esportivo. Paralelamente, diversas competições foram canceladas recentemente, como o pré-olímpico de Basquete 3x3, em Bengaluru, na Índia, e a tradicional volta clássica Milão-San Remo, na Itália, epicentro do surto na Europa. Os italianos chegaram ao extremo de proibirem espectadores nos estádios até abril.

Nunca na história uma Olimpíada foi cancelada por conta de uma epidemia local ou mundial. Apenas três outros Jogos foram cancelados na História e todos pelas grandes guerras: 1916, que seriam realizados em Berlim; 1940, curiosamente em Tóquio e posteriormente transferidos para Helsinque, na Finlândia, e por fim os de 1944, em Londres. Àquela época, o panorama era de quase nenhuma solução para o conflito e principalmente uma desmobilização mundial. Bem diferente de agora.

Em 1956, por conta de uma quarentena dos cavalos exigida na lei australiana, o hipismo foi transferido para Estocolmo, na Suécia, a fim de não ser disputada em Melbourne. Mas nada tinha a ver com doenças ou surtos como agora.

Seiko Hashimoto, ministra olímpica do Japão, admitiu na última terça-feira, dia 3 de março, que as Olimpíadas poderiam ser adiadas para o fim de 2020 se a epidemia não fosse controlada. Adiamento para o próximo ano está descartado por conta de contrato com patrocinadores e demais competições no calendário. Entretanto, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, um dia depois afirmou que nem se discute tal possibilidade ou o cancelamento.

Mais que uma fala para acalmar atletas, espectadores e patrocinadores, Bach sabe que quatro meses é um longo tempo não só para controle do Coronavírus, como mudança radical de tal cenário alarmante até que se inicie a Cerimônia de Abertura. 

O surto de Coronavírus acontece justamente no inverno do hemisfério norte, estação onde as proliferações de doenças respiratórias ocorrem por conta do ambiente gélido e locais fechados. Facilitando, portanto, a rápida contaminação. Quando o fogo olímpico entrar no estádio de Tóquio já estaremos no verão das regiões acima do globo terrestre. Além de um clima menos inóspito, a população em geral tem mais hábitos higiênicos recomentados para o controle da doença, como lavar as mãos e maior cuidado com a limpeza diária.

Junta-se a isso o fato da COVID-19 estar sendo estudada por pesquisadores do mundo todo, o que gera conhecimento maior não só do seu genoma, como tratamento. Já há considerados avanços em pouco mais de dois meses de epidemia. Um otimismo quanto aos próximos quatro e como combatê-la não é exagerado. Pelo contrário, é mais provável ainda. De acordo com o New York Times, cerca de 20 países já se mobilizaram para tratamento eficaz e até desenvolvimento de vacinas, caso seja possível.

A grande preocupação, porém, é sobre até onde essa contaminação pode chegar. Na Ásia, mais especificamente na China, diversos locais públicos estão fechados e o cotidiano radicalmente afetado. Não são raros os vídeos e fotografias de cidades que antes com milhares de pessoas nas ruas agora entregue ao deserto humano. Empresas e comércios fechados. O país literalmente parado. 

No pior dos mundo e com a epidemia desenfreada até julho, é provável que isso afete diretamente os serviços dos Jogos. Além de aeroportos e transportes públicos, até mesmo as praças olímpicas com espectadores. Uma das especulações é de que, assim como ocorre na Itália, competições sejam disputadas sem a presença dos espectadores, num cenário mais pessimista e catastrófico possível.

Porém é pouco provável que isso ocorra. Assim como hoje é difícil enxergar solução rápida e duradoura contra o coronavírus, era impossível antever um surto em dezembro. Ainda que o COI negue cancelamento ou adiamento, tudo isso é sim analisado se algo sair de controle. Por mais que façam prognósticos apocalípticos, tudo é chute. Coronavírus pode cancelar Tóquio 2020, mas as chances são remotas.

Foto:Reuters/Nenad Stoyov

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