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Surto Entrevista: Gabriel Medina


Por Juvenal Dias

O surfista Gabriel Medina é hoje, não apenas postulante a uma vaga olímpica, como também um dos atletas com maior chance de trazer uma medalha em Tóquio. Bicampeão mundial, Medina esteve na semana passada em São Paulo para renovar seu vínculo com a Audi. Durante o evento, aconteceu uma coletiva de imprensa e o Surto Olímpico acompanhou e conversou com Medina. Esta conversa aconteceu antes dele embarcar para o Havaí afim concluir sua preparação para mais esta temporada do surfe, que começa em abril, na Austrália. Veja o que ele falou sobre seus objetivos e as expectativas do que encontrar nas ondas do Japão ano que vem.


- É sua última coletiva antes de começar a viajar. Como foi sua preparação e como vai fazer para buscar o tricampeonato mundial da WSL?

Fiquei dez dias no Rio de Janeiro treinando no CT do COB, no Parque Olímpico. Foram dez dias intensos. Participei um pouco do carnaval. Foi o que tinha combinado com meu pai. Se eu fosse campeão mundial, teria carnaval esse ano. Ele chegou no meio, então tive que começar a treinar um pouco antes. Mas foi legal. Tenho trabalhado bastante com minha equipe nesses dias. Estou me sentindo bem, estou preparado. O ano começa agora no dia 3 (de abril), com a etapa na Austrália. Estou indo para o Havaí, no domingo(passado, dia 17), com minha família. Encerrar a pré-temporada lá, como faço todos os anos. Estou bem, mas ansioso para esse começo de temporada e quero buscar meus objetivos: defender o título mundial e, pensando nas Olimpíadas ano que vem, este ano é classificatório, quero ir bem para estar lá.


- Já que você falou em Olimpíada, o que muda na sua preparação para esse ano?

Este ano pode ser o mais importante da minha vida. Primeiro que, se tudo der certo, vou chegar a um objetivo que sempre tive, que é ser três vezes campeão do mundo. Automaticamente, viria essa vaga para as Olimpíadas. Esta vaga vem do circuito mundial que nós fazemos parte, os dois melhores brasileiros que estiverem ali vão diretamente fazer parte dos Jogos Olímpicos. É um ano que vou tratar de forma bem especial, vou me dedicar um pouco a mais que do que tenho feito nos últimos anos. Vou colocar tudo o que tenho em prática.


- Em 2018, o Brasil venceu nove das onze etapas da WSL. Como você enxerga essa nova temporada, tendo em vista esse domínio dos brasileiros?

O surfe brasileiro está vivendo um momento incrível. Neste último ano tiveram o Ítalo (Ferreira), o Filipinho (Toledo) e eu disputando o título mundial. Acho que nunca tivemos esse número nessa condição. Temos dois campeões mundiais, o (Adriano) Mineiro e eu (duas vezes) e somos a maioria no circuito. Fico feliz de fazer parte dessa geração. Acho que, daqui para frente, vão entrar mais brasileiros no circuito. É o melhor momento que tivemos no surfe.


- Sabemos que um atleta do seu nível nunca está satisfeito. O que você que pode melhorar?

Sempre procuro melhorar com meu pai e toda minha equipe. Optamos por treinar no COB, por sua estrutura avançada, em questão de aparelhagem. Fiz uns testes que nunca tinha feito na vida. Fiz algumas coisas de diferente, até buscando mais detalhes sobre meu treino. Não tem como parar de treinar ou treinar menos. ‘Ah fui campeão, então vou dar uma segurada’, não tem isso. Toda vez que estou na água, sempre tem bastante gente. Pessoal vem conversar, perguntar de final, mas fico focado, procurando melhorar as manobras, pensando em algo diferente. Meu pai está sempre na areia, então sempre me corrige. Assistimos todos os outros surfistas. Hoje conhecemos todo o circuito, as ondas são as mesmas, então procuro sempre melhorar no que é possível.


- Neste ano aconteceram mudanças no regulamento em relação às baterias de cada etapa. O que achou dessas mudanças?

Esse round que tiraram (da repescagem), o campeonato fica mais rápido. Antes demorávamos de quatro a cinco dias para terminar um evento. Hoje cai para três. Não senti muita diferença. Claro que, com o round que não perdia, tinha-se uma oportunidade a mais. Mas agora é bem decisivo, fica mais objetivo.


- Quem são os brasileiros que você vê como concorrentes a uma das vagas para Tóquio-2020?

Pelos resultados, tem uns três ou quatro que vão disputar o título mundial. Eles têm mostrado isso nestes últimos anos. Posso citar o (Adriano) Mineiro, o Filipinho e o Ítalo são os surfistas que sempre estão no topo do ranking. Sempre estou junto com eles. Teve um ano que estávamos todos disputando o título, todos embolados, então acho que são os mais fortes. Mas todos os brasileiros têm capacidade de ser campeão mundial, ou pelo menos ganhar um evento. Em geral, não dá para vacilar, todo mundo está bem esperto.


- O Comitê Olímpico Internacional (COI) quer aproximar os Jogos Olímpicos do público mais jovem. Você acha que o surfe é um esporte que vem para ficar nas Olimpíadas e trazê-lo foi uma estratégia acertada do COI para esse objetivo?

Pelo que o Comitê busca, o surfe e o skate são dois esportes que vieram para ficar, até pela geração que temos que assiste essas modalidades. A maioria lá não passa de 28 anos. É uma geração muito nova. Vai ajudar sim aos Jogos Olímpicos. O surfe era para estar nas Olimpíadas faz tempo, finalmente deu certo e todos que estão no circuito sabem da importância de ter o esporte nesse evento. Todos estão bem ansiosos e animados. Vai ser algo diferente, porque estamos acostumados a competir o ano todo pelo título mundial. E nas Olimpíadas teremos uma chance a cada quatro anos. Vai ser interessante. Estou animado e não vejo a hora de fazer parte disso.


- Normalmente você costuma se dar melhor na segunda parte do ano. Houve mudanças no calendário para este ano. Pensa que isso pode lhe favorecer de alguma forma?

O calendário mudou, mas continua as mesmas etapas, então não altera as condições gerais. Eu vou ter que melhorar o que tenho feito de errado nos últimos anos. O começo do ano, para mim, é o mais difícil. Eu acabo começando mais devagar. São três etapas que é muito difícil de surfar de backside, mas tenho aprendido bastante. Este ano é algo que eu quero corrigir, porque, da metade do campeonato para frente, são ondas que me identifico muito bem, meu surfe encaixa. Tenho certeza que se começar o ano bem, vai ser difícil me parar. Agora é corrigir esses erros, já que esta perna australiana será muito importante.


- Você se identifica com a onda de Chiba, onde será realizada a competição olímpica? Pretende treinar ou competir lá antes da Olimpíada?

Nunca fui para o Japão, será minha primeira vez. Devo ir antes dos Jogos Olímpicos para conhecer o lugar e ver como é a onda. Nunca assisti nada de lá, não tenho noção de como é o Japão nem suas ondas. Vai ser mais uma missão. Mas tem bastante tempo, vai dar para fazer tudo com calma e conhecer esse lugar melhor. Já fiquei sabendo que é um lugar de ondas pequenas...


- Você foi campeão em 2014. Depois passou três temporadas batendo na trave atrás do bi, que veio no ano passado. Qual foi o aprendizado que você tirou nesse período entre títulos?

Confesso que demorou um pouco depois do primeiro titulo mundial. Foram quatro anos praticamente. Foram longos anos. Eu tinha colocado como meta, queria que tivesse vindo mais rápido esse segundo título. É difícil chegar lá, é muito mais difícil manter. Foram anos que eu aprendi bastante. Treinei muito. Foram anos difíceis. Perdi bastante, mas ganhei em algumas vezes. Sempre trabalhei a cabeça para continuar neste foco, sabia que uma hora iria chegar. Agora o foco não muda, quero ser tricampeão mundial e vou trabalhar para que isso se concretize.


- Você chegou ao bicampeonato, igualando-se ao John John Florence. Ocorre uma rivalidade a mais por isso? Qual sua relação com ele?

É legal cada um com dois títulos mundiais. A nossa relação é muito boa, mas sempre cria uma rivalidade. Acho que esse ano a rivalidade vai crescer mais ainda. Este ano ele está voltando, estou sabendo que já está bem. Estou ansioso, porque ele estava fora dessa última temporada, vai ser ótimo tê-lo de volta. Gosto dessa rivalidade. É um cara que eu assisto bastante, me inspiro nele e gosto de ter alguém como ele, competitivo assim. Amo competir com os melhores, ele está nesse patamar e é sempre bom competir contra ele.


- Quem você considera como seu maior rival no circuito mundial?


Em termos de resultado, acho que seja o Julian Wilson. Nós tivemos dez finais e cada um ganhou cinco, é um cara que sempre fica ‘pau-a-pau’ comigo. Mas falam muito do John John, porque também tem os dois títulos mundiais. Então considero os dois como grandes adversários.


- Os campeonatos têm ficado muito equilibrados ultimamente. Inclusive é muito difícil vencer uma etapa. Você consegue chegar também por sua regularidade. Qual o segredo disso?

Toda etapa é muito difícil de ganhar porque as ondas mudam bastante. Uma hora estamos no beachbreak (fundo de areia). Outra hora é fundo de coral. Às vezes é direita, às vezes é esquerda. Não tem segredo, é trabalhar, é treinar, melhorar dentro da água, sempre buscando evoluir. Essa questão de adaptação, quando estou na água, é muito natural. Desde pequeno sempre consegui me adaptar muito fácil às condições do mar. Quando competia no circuito brasileiro, surfava durante 30 minutos e parecia que já surfava há muito tempo. Esta característica me ajuda bastante hoje no circuito mundial e não tenho problemas com as ondas. Por isso, acredito que minha constante seja maior que do restante dos atletas.


- De que forma você acredita que as redes sociais podem te ajudar na sua carreira?

As redes sociais estão nas mãos de todo mundo. Tudo o que acontece nos bastidores, procuro mostrar. E uma forma de deixar as pessoas, que estão longe desse mundo, mais perto. Tem o lado bom, tem o lado ruim, já que perdemos um pouco da privacidade. Mas eu gosto de interagir, até porque tem muita gente que gosta de mim e não pode estar por perto. Sempre que estou fazendo algo legal, ou algo que um ídolo postasse eu ficaria feliz, eu tento mostrar. 


fotos: Juvenal Dias e Cestaro/WSL

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