John Coughlin, 33 anos, campeão de Pares dos EUA de 2011 e 2012 e vice-campeão da Copa dos Quatro Continentes de 2012, cometeu suicídio na tarde da sexta-feira, 18 de janeiro em em Kansas City. A irmã de Coughlin, Angela Laune, postou na noite do dia 18 uma mensagem no Facebook, onde dizia "Meu maravilhoso, forte, e caridoso irmão John Coughlin tirou a própria vida mais cedo no dia de hoje". A polícia da cidade confirmou a morte de Coughlin após atender o chamado na casa dos pais do patinador às 16h54.
Personagem bastante conhecido e respeitado no mundo da Patinação Artística, John Coughlin, que fez parcerias de sucesso com Caitilin Yankovskas e Caydee Deeney (na foto) estava aposentado das competições desde 2014 e trabalhava como técnico consultor, comentarista de TV e gerente de marca para o fabricante de lâminas de patins John Wilson. Presença constante em pistas de gelo dos EUA e de outros países, o patinador era membro da comissão de atletas da União Internacional de Patinação (ISU) e membro do comitê técnico de patinação Individual e de Pares da entidade. No dia 17 de dezembro a SafeSport, entidade dos EUA que investiga e vigia preventivamente casos de abusos em esportes restringiu a participação de Coughlin em arenas do país, com base em uma investigação de teor não divulgado.
O status de Coughlin de investigado pela SafeSport ganhou as páginas do jornal USA Today no dia 7 de janeiro, e um dia depois o atleta pediu demissão do cargo de gerente de marca da empresa John Wilson. Em um e-mail ao jornal, Coughlin disse que as alegações contra ele eram infundadas, mas que as regras da SafeSport o impediam de fazer maiores comentários enquanto o caso não fosse resolvido, e acrescentou: "Ressalto apenas que o aviso de alegações da SafeSport nele mesmo dizia que uma alegação não constitui evidência para a SafeSport ou que há alguma validade nas alegações". Mais tarde, no dia 17 foi divulgado que o status de Coughlin havia sido revisto pela SafeSport para "interinamente suspenso", medida que também foi adotada logo a seguir pela Federação de Patinação Artística dos EUA (USFSA). Um dia depois, Coughlin foi encontrado morto.
A notícia da morte do ex-campeão de pares dos EUA dividiu o mundo da Patinação Artística. Muitas pessoas, sobretudo integrantes de público mais fiel do esporte, alguns jornalistas, pais de atletas, patinadores de níveis básicos e pessoas que desistiram do esporte por causa de maus tratos e assédio sexual condenaram publicamente Coughlin pelas alegações contra ele feitas pela SafeSport, clamando que o suicídio equivaleria a uma confissão e que o momento pode ser adequado para revelar outros casos de má conduta e fazer um combate mais efetivo à cultura de abusos nos esportes. A comunidade de patinadores e técnicos de níveis mais altos, incluindo a própria elite do esporte no entanto saiu majoritariamente em defesa de Coughlin, seja em declarações, tributos, debates e um fundo para custear as despesas relativas a seu funeral. Muitos desses depoimentos alegavam que a imagem de abusador não correspondia à realidade que conheciam, e que o patinador teria sido vítima de linchamento midiático antes de ser investigado e julgado adequadamente em um tribunal. A ISU e a USFSA divulgaram notas de condolências, mas a entidade dos EUA disse que não iria fazer outros comentários por enquanto.
O jornal USA Today publicou uma matéria dizendo que uma pessoa com alegado conhecimento interno da situação teria declarado que a SafeSport estaria investigando três alegações de abusos de natureza sexual supostamente feitos por Coughlin, dois contra menores de idade, mas não revelou maiores detalhes e nem fez a declaração em qualquer caráter oficial, preferindo não se identificar. Mais tarde a SafeSport divulgou comunicado dizendo que provavelmente deve encerrar as investigações. Dan Hill, porta-voz da entidade disse "Não somos um corpo punitivo. Quando alguém é suspenso é para manter pessoas seguras, é só sobre a segurança da parte que faz a acusação. Neste caso, infelizmente a questão de segurança não está mais presente". Segundo Hill, a única razão possível para manter as investigações seria se existissem relatos de "problemas sistêmicos", como o envolvimento de outras pessoas e entidades no caso, sabendo dos abusos e não reportando às autoridades ou facilitando de alguma forma para a situação acontecer, como outros técnicos, donos de arenas de patinação, membros de federações e colegas.
Foto: Getty
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