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De olho em Paris 2024, Federação Internacional de Ginástica tenta ‘absorver’ o Parkour

Com a discussão de uma possível entrada como disciplina olímpica, o Parkout vem se popularizado ao redor do mundo e com potencial de marketing aumentando, ao mesmo tempo que sofre com uma acalorada batalha de custódia.

Em entrevista ao Associated Press, um dos considerados criadores do parkour, o francês Chau Belle, de 41 anos, lembrou do começo de tudo, na década de 1990, quando ele e seus amigos escalavam paredes irregulares de prédios nos subúrbios de Paris, com altura de até quatro andares, para fazer as acrobacias.

O nome é derivado da palavra francesa que significa caminho ou jornada, uma exploração de si mesmo, da coragem e da autoconfiança. O Parkour foi construído em torno da filosofia simples de que quase qualquer terreno pode, com imaginação e treinamento, ser transformado em um playground para correr, saltar e escalar.

Um dos marcos da popularização do Parkour foi na cena de abertura do filme “Casino Royale”, quando o ator Daniel Craig, como James Bond, atravessa um canteiro de obras em busca de um terrorista, interpretado por Sebastien Foucan que é um dos fundadores do Parkour, junto de Chau Belle.

"As pessoas veem apenas o que está a seus pés. Conseguimos dizer a nós mesmos para olhar para cima, para dizer: ‘Há coisas que podemos fazer’. Nós fazíamos o mesmo exercício 10, 20, 30, 40 mil vezes. Ficamos obcecados com a repetição, números. Nós estávamos tão viciados nessa coisa, nessa busca por nós mesmos", explica Chau Belle.

Com a ajuda da internet, outras pessoas também se viciaram na modalidade. Mas o amadurecimento do esporte também atraiu um pretendente poderoso: a ginástica.

Usando sua força financeira e influência dentro do movimento olímpico, a Federação Internacional de Ginástica está tentando trazer o Parkour para debaixo de suas asas. Durante um Congresso da FIG, a entidade reconheceu oficialmente a modalidade como a mais nova disciplina da ginástica e começou a organizar cursos de coaching para introduzir o esporte, agendou o primeiro campeonato mundial para 2020 e, posteriormente, deve pressionar o Comitê Olímpico Internacional a incluir o parkour nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

Isso tudo acontece no meio de um protesto de pessoas envolvidas no movimento. Com a hashtag #WeAreNOTGymnastics, praticantes do parkour se queixam desse controle adquirido pela Federação.

"Isso é o equivalente a uma aquisição hostil. Eles estão branqueando nosso esporte, sua integridade, sua história, sua linhagem, sua autenticidade", reclamou Eugene Minogue, executivo-chefe da Parkour Earth, um grupo formado em 2017 que envolve seis associações nacionais.

Para Minogue, a FIG quer controle do parkour e da grande base de fãs, maioria jovens, para se manter relevante com os líderes olímpicos que buscam mais esportes de ação nos Jogos e assim atrair mais público, patrocinadores e lucro. Ele cita como exemplo a federação de ciclismo que absorveu o BMX na década de 90 e o esqui que absorveu o snowboard. “Eles querem codificá-lo e monetizá-lo. É sobre dinheiro, sobre influência, sobre poder, sobre controle. É sobre ter um assento na mesa”, critica Minogue.

Outra preocupação é que as competições organizadas pela FIG poderiam desnaturar a filosofia de “vamos jogar” do parkour e colocar em risco os praticantes, encorajando-os a tentar um truques excessivamente perigosos, que agradariam o público.

"A única coisa que espero é que a Federação Internacional de Ginástica não tolere é as competições incentivarem as pessoas a assumir riscos e que não glorifique uma elite. Lutamos há 20 anos contra jovens que perseguem cliques, filmando-se fazendo acrobacias perigosas e assumindo riscos com o objetivo de ficarem famosos e conseguir um patrocinador. Nós tememos que a glorificação da competição alimente esse fenômeno", avaliou Sacha Lemaire, presidente da Federação de Parkour, com sede na França.

A FIG insiste que o parkour e a ginástica são muito mais similares do que seus críticos reconhecem. O secretário-geral da FIG, Andre Gueisbuhler, cita a Suécia como exemplo de como as modalidades podem coexistir. No país, o parkour se juntou à academia de ginástica em 2014 e os praticantes frequentemente treinam em instalações de ginástica para evitar o clima nórdico.

Em entrevista a Associated Press, Gueisbuhler afirma que as competições não estimulariam o risco, mas sim ajudaria  parkour a se tornar mais seguro.  “A FIG oferece uma infraestrutura que possui todos os meios necessários para desenvolver o esporte em todo o mundo em pouco tempo", disse Gueisbuhler.

Um dos percursos do movimento, Chau Belle ainda trata o parkour como uma arte e diz que luta para ver a atividade livre e não no mundo codificado e rígido da ginástica. "Parkour tornou-se uma mercadoria agora. No começo, era grátis”, finaliza Belle.


Foto: AP Photo/Christopher Ena

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