Nesta terça-feira o Conselho da IAAF se reuniu para uma
reunião às vésperas do início do mundial de atletismo. Em pauta estiveram
vários assuntos, desde a polêmica questão do doping russo, até as ações da
Comissão de Atletas e suas novas eleições.
Um dos temas mais espinhosos discutidos diz respeito ao
hiperandrogenismo, tema recorrente nos mais diversos esportes. O
hiperandrogenismo é um distúrbio endócrino, que acomete mulheres em idade
reprodutiva, e se caracteriza pelo excesso de produção de hormônios, como a
testosterona. No esporte, o elevando índice de testosterona no organismo pode
acabar sendo traduzido em uma grande vantagem. Sendo assim, a testosterona é um dos hormônios
mais recorrentes em casos de doping.
A IAAF realizava testes em mulheres que aparentavam ter um
nível elevado de testosterona em seu organismo. Os chamados testes de
feminilidade tinham como objetivo avaliar a quantidade do hormônio no organismo
dessas mulheres. Os testes eram feitos previamente e se apontassem um nível do hormônio acima de um valor
estabelecido, a atleta era impedida de competir ou obrigada a tomar outros hormônios que
abaixassem os níveis de testosterona a níveis considerados normais para
mulheres. Os testes geravam polêmica por envolver questões de gênero e também
por supostamente gerar preconceitos e discriminação, uma vez que atletas do
sexo masculino não eram obrigados a passarem por testes semelhantes antes das
competições para avaliarem seus níveis de testosterona.
Alguns casos famosos de hiperandrogenismo geraram acalorados
debates. Um deles foi justamente o que fez com que a IAAF passasse a realizar
os tais testes de gênero. A sul-africana Caster Semenya em 2009 levou a medalha
de ouro no Campeonato Mundial daquele ano nos 800 metros. Como abaixava seus
recordes constantemente e tinha uma ascensão meteórica, sua sexualidade passou
a ser colocada a prova. Foi então que a IAAF passou a exigir os testes para
atletas suspeitas.
Em 2015 uma corredora indiana chamada Dutee Chand foi
proibida de competir pela IAAF por seus índices de testosterona terem dado
acima do permitido no teste de gênero. A atleta recorreu à Corte Arbitral do
Esporte (CAS) e em julho de 2015 pôde voltar a competir. O CAS suspendeu as
regras de hiperandrogenismo da IAAF por considerar que uma atleta não poderia
ser punida e deixar de competir por consequência natural e isolada do seu
corpo. A Corte definiu ainda o prazo de suspensão de dois anos dos testes da
IAAF até que a entidade passasse a apresentar mais provas contra as atletas do
que um teste de gênero.
Passado o fim da suspensão de dois anos das regras de
hiperdrogenismo da IAAF, a entidade colocou o assunto em pauta na reunião de
terça-feira de sua Comissão, ressaltando a importância de trazer de volta os
testes de gênero. Já no mês de julho a entidade tinha expressado essa intenção
depois que novos estudos apontaram para uma “vantagem competitiva” que essas
atletas teriam.
Para o presidente da entidade, Sebastian Coe, a IAAF tem a
responsabilidade de estabelecer condições equivalentes para todos os atletas,
de forma confortável. “Nós temos que fazer isso de uma maneira que não demonize
os atletas. Este é um problema sensível” afirmou o presidente. Segundo ele, a
IAAF levará até o CAS provas a respeito do tema. “O CAS nos pediu para irmos
embora e apresentar a ciência sobre isso. Isto é o que vamos fazer” assegurou.
Na reunião também foram discutidos assuntos como a criação
de um novo conselho para a juventude, de forma a garantir que o atletismo
permaneça relevante para os jovens, bolsas da IAAF para o desenvolvimento das
mulheres no atletismo e um novo acordo de transmissão das competições da
entidade já a partir de 2018.
Foto: Getty Images
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