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Surto História - A pioneira Maria Lenk

Ser uma atleta era bem difícil no início dos século XX. Em jogos olímpicos, a participação era pouca - a primeira foi em 1900 com Charlotte Cooper, que só participou graças a um brecha no regulamento do COI - e apenas em esportes que não tinham contato físico, algo que só começou a melhorar na década de 30, quando as mulheres finalmente foram aceitas como atletas olímpicas. E nos Jogos olímpicos de 1932 em Los Angeles, a primeira sul-americana participou dos Jogos olímpicos, a nadadora brasileira de 17 anos, Maria Lenk.

A jovem nadadora disputou os 200m peito, mas o tempo de 3min26s6 não foi suficiente para levá-la à final. Mas participar de uma edição de Jogos Olímpicos, contra todo o preconceito sofrido por ser uma mulher que praticava esportes, foi um grande feito para Maria, que precisou de um uniforme emprestado para competir e era a única mulher na delegação brasileira que viajou de favor em um navio do governo carregado de café.

O próximo capítulo olímpico viria exatamente quatro anos e dois dias depois, nos Jogos de Berlim-1936. Com o mundo sob ameaça nazista, Maria Lenk classificou-se às semifinais dos mesmos 200m peito, com um tempo quase 10 segundos mais rápido do que em Los Angeles.

Se a vaga na final mais uma vez não veio, outra página na história da natação foi escrita: nadando de um jeito “diferente” o estilo peito, Maria Lenk se tornou a primeira mulher a usar o nado borboleta, recém-desenvolvido nos EUA, em uma competição oficial. O nado borboleta só entraria no programa olímpico 20 anos depois, nos Jogos de Melbourne-1956.

As olimpíadas de 1940 seriam os Jogos de Maria Lenk. Aos 25 anos e no auge da forma, ela havia se tornado a primeira atleta brasileira a bater um recorde mundial na natação, com 2min56s nos 200m peito, em novembro de 1939. Ela também era a recordista mundial dos 400m peito e era considerada favorita ao ouro nas provas. No entanto, a II Guerra Mundial deflagrada pouco antes destruiu os sonhos olímpicos não só de Maria Lenk mas dos próprios Jogos, que só voltariam a ser realizados somente em 1948. Somente em 2008, 68 anos depois, que uma brasileira ganhou uma medalha de ouro em esportes individuais, com Maurren Maggi.

Em 1942, sem muitas perspectivas de competição, Maria Lenk se aposentou, se formou em educação física e ajudou a fundar a primeira escola de educação física do Brasil, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde também foi professora e a primeira diretora mulher. Apesar de não ter nenhuma medalha olímpica, Maria Lenk marcou o seu nome na natação, sendo a a única nadadora brasileira a estar no hall da fama da natação. 

Mesmo depois de aposentada, Maria seguiu participando de torneios de masters e nadando literalmente até o fim da vida. Em 2000, ela participou de um mundial de masters e levou 5 medalhas de ouro na sua categoria, de 80 a 90 anos.Em 2003 lançou um livro sobre esporte e longevidade, contando detalhes de sua dieta e da importância dos exercícios para a terceira  idade.

Em 16 de abril de 2007, aos 92 anos, Maria Lenk sofreu uma parada respiratória enquanto treinava no Rio de Janeiro. Na época, nadava 1,5 km todos os dias. Em sua homenagem, o principal campeonato de natação no Brasil tem o seu nome, além do parque aquático construído na Barra da Tijuca para o Pan-americano de 2007. Em 2015, ela foi eleita uma das 10 mulheres mais importantes da história do Rio de Janeiro, por seu pioneirismo e incentivo à prática de esportes entre as mulheres.



fotos: Getty Images

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