No final deste mês de março acontecerá finalmente a
premiação dos melhores do ano de 2016. A 18ª, e mais importante, edição da
premiação anual vem com atraso de três meses, mais um sinal da ótima
organização de como o esporte olímpico brasileiro é tratado. A causa desse
atraso foi por conta da greve dos funcionários do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro. Justamente na edição que é para celebrar as conquistas obtidas em casa
e que serviria para camuflar incompetências vindas das entidades envolvidas com
os Jogos.
Mas este adiamento foi ruim justamente para governantes e
confederações, que deixaram ser exposto o que há de pior na administração
esportiva no nosso país. Para os atletas, é uma premiação que vem em hora
errada, ao invés de acontecer em dezembro, no fim do ano e de um ciclo
completo, acontece num momento em que já tiveram competições importantes, como
é o caso do Mundial de Handebol Masculino, ou que estarão competindo, caso de
Bruno Soares no tênis e Nenê Hilário no basquete.
Aliás, chamar esse evento de Brasil Olímpico é quase uma
piada de mau gosto. Como podemos dizer que somos olímpicos com tantos descasos
com nossos atletas, técnicos e instalações. Temos visto notícias seguidas de
desvio de verba, encerramentos de contratos de patrocínio, treinadores
estrangeiros voltando a seus países de origem, Parque Olímpico abandonado,
atletas que não poderão competir por falta de investimentos, isso sem mencionar
a base, o futuro competitivo do país.
Esse prêmio é considerado o Oscar do esporte brasileiro. Como
tal, irão concorrer para melhor “ator” Isaquias Queiroz, maior medalhista
brasileiro em uma só edição de Jogos e vencedor da última edição do prêmio;
Serginho, líbero que foi bicampeão olímpico com a seleção de vôlei; e Thiago
Braz, atleta do salto com vara que conseguiu um ouro inédito além do recorde
olímpico. Para melhor “atriz”, a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, que
conquistaram o primeiro lugar na vela classe 49er FX; Poliana Okimoto, bronze
na Olimpíada e vice-campeã mundial na maratona aquática; e Rafaela Silva, com o
ouro no peso leve para as mulheres no judô. Meus palpites são que Serginho e a
judoca carioca Rafaela levam, mesmo achando que o Thiago merecesse mais nos
homens.
Da mesma forma que a premiação famosa do cinema, há prêmios
para “atores coadjuvantes”, atletas premiados por cada modalidade, esses já
nomeados os vencedores. Aqui cabe uma ressalva a dois prêmios: no basquete, o
prêmio ser dado ao Nenê é muito contrastante. O atleta aparece para jogar na
Seleção somente quando ocorrem os principais torneios, Olimpíada e Mundial. Nas
demais competições, tem contusões ou pede dispensa. Na Seleção, não chama
responsabilidade, se omite e não conduz o time a vitórias importantes, não tem
conquistas nem como jogador da NBA. A segunda é no futebol, dar o prêmio ao
Neymar parece muita politicagem. Nada contra o jogador, pelo contrário. Mas em
dois jogos na campanha vitoriosa do Rio passou em branco, em dois desastrosos 0
a 0. A torcida gritou que Marta era melhor que ele. Um jogador sub-23 ou uma
jogadora seria mais justo.
Mas falta um prêmio, melhor “diretor”. Existe o de técnico
do ano. Não é disso que estou falando. Seria para aquele dirigente, entidade ou
confederação que mais prejudicou o esporte. Teríamos vários concorrentes:
Carlos Arthur Nuzman seria o principal concorrente, mas poderíamos dar a Sérgio
Cabral, Eduardo Paes, consórcio do Maracanã, CBDA, CBT, CBTKD, Nike, Nissan,
Bradesco, Governo Federal atual e do passado recente, com seus programas
assistenciais baratos e falta de política de desenvolvimento através do
esporte.
Infelizmente esse lado é criticado por quem está de fora e
apenas vê os fatos se sucedendo. Muitas vezes quem está desse outro lado, está
inserido num contexto em que não há voz ou logo é abafada, como em tantas outras
áreas corruptas do nosso país. Resta-nos aplaudir os heróis que vimos correr,
saltar, nadar, sabendo que fazem um esforço hercúleo para simplesmente estarem
lá e torcer que o cenário geral melhore.
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