Em entrevista concedida durante o evento-teste do Judô para os Jogos de 2016, David Moura não escondeu certa ansiedade. “A
primeira coisa que a gente pensa quando entra no ginásio é: `É aqui que,
daqui a alguns meses, eu estarei lutando’”, comenta o judoca do peso
pesado, que acompanhou as disputas na Arena Carioca 1 e aproveitou para
conhecer também a Arena 2, onde serão as lutas da modalidade durante os
Jogos.
Mesmo sem a definição da vaga olímpica, que só será divulgada após o
fechamento do ranking mundial, em maio, o judoca de 28 anos demonstra
confiança de que, em agosto, será ele o representante brasileiro na
categoria +100kg. “Estou muito confiante de que serei eu. Acho que é a
minha vez”, opina. A disputa acirrada por pontos na listagem
internacional é com o compatriota Rafael Silva, o Baby, medalhista de
bronze na edição de Londres-2012 e que, devido a lesões, ficou de fora
de competições no ano passado.
David ocupa o 12o lugar no ranking, atualizado na última segunda-feira (7), seguido de perto por Rafael, o 13o . “Nós dois estamos disputando passo a passo a vaga. Do fundo do coração, acho que o peso pesado é uma categoria que está muito bem representada. Ele por já ter sido medalhista olímpico e eu por estar chegando bem, aproveitando as oportunidades que estou tendo”, avalia David, que neste ano subiu ao pódio nas duas competições que disputou: ouro no Open de Sofia, na Bulgária, em janeiro, e bronze no Grand Slam de Paris, em fevereiro.
Agora, o atleta espera conseguir os pontos decisivos finais sem
precisar do desgaste de passar por muitos torneios. “A minha estratégia
é fazer competições pontuais com o objetivo de ganhar. Comecei o ano
fazendo isso e acho que, se eu continuar ganhando, não preciso fazer
muitas competições porque no ranking só contam os cinco melhores
resultados”, destaca. “Se eu fizer cinco bons, a preparação será
perfeita até pensando nas Olimpíadas. Mesmo ainda sem saber quem vai, eu
já penso em ser campeão olímpico. Acho que, se eu estiver preparado
realmente para isso, a vaga vai ser minha”, avalia.
No calendário de David Moura, até a convocação estão o Grand Prix da
Turquia e o Pan-Americano, em Cuba, ambos em abril, além do World
Masters, no México, no fim de maio, já perto do encerramento do ranking.
Ele espera que a rivalidade com Baby siga até os últimos momentos.
“Como nós dois estamos bem no ranking, acho justo a gente lutar todas as
competições e ter oportunidades parecidas para disputar essa vaga no
tatame. Quem estiver realmente melhor representará o Brasil”, comenta o
atleta.
"Apontar o lápis"
Reconhecido por uma agilidade nos tatames não tão comum entre os peso
pesados, David espera usar justamente a velocidade a seu favor. “Vou
focar muito na explosão e velocidade, que eu acho que tenho como
diferencial, e posso surpreender qualquer adversário. Inclusive o Teddy
Riner, com certeza”, destaca o brasileiro em relação ao francês oito
vezes campeão mundial, atual campeão olímpico e líder do ranking. No Pan
de Toronto, foi exatamente essa agilidade que lhe permitiu vencer a
final contra o equatoriano Freddy Figueroa por ippon com apenas 13
segundos de luta.
“Eu venho descobrindo coisas que meus adversários não gostam e que eu
faço. Estou treinando cada vez mais os golpes baixos, que normalmente
os peso pesados não têm colegas de treino que façam, e a transição para o
chão, golpes de sacrifício e as finalizações, que tenho treinado muito
com o Flávio Canto”, explica David, que representa o Instituto Reação,
criado no Rio de Janeiro pelo ex-atleta da seleção brasileira.
“Agora é apontar o lápis. Melhorar o que já faz de bom, arrumar
detalhes que talvez esteja errando, trabalhar a parte física sem deixar a
parte técnica, mas não dá tempo de colocar mais nada novo no jogo. É só
bater na tecla do que já está dando certo”, afirma o judoca, campeão no
Pan de Toronto em 2015.
Dentro de casa
Mesmo sem pisar no tatame do Parque Olímpico durante o evento-teste,
David Moura já começou a se imaginar em ação, projetando o que pode
ocorrer em agosto. “Sempre que a gente entra em um ginásio bonito, com
tatame da cor que a gente sabe que vai ser a das Olimpíadas, isso tudo
já ajuda a gente a se acalmar”, opina. “Quando a gente chega, dá aquela
tensão, mas a gente já vai se familiarizando e se sentindo cada vez mais
em casa. Isso é uma vantagem perante os adversários que estão lá nos
seus países. Sabendo usar isso, a gente tem tudo para fazer um resultado
melhor”, acredita o pesado.
O atleta também avaliou a estrutura do local e aprovou o que viu
durante as disputas desta quarta-feira. “A gente já teve explicações e
palestras de como vai ser o dia da Olimpíada e estou achando tudo ótimo.
A estrutura está excelente, o ginásio está ótimo, com tudo de que a
gente precisa. O atleta hoje só precisa se preocupar em lutar mesmo, e
isso é ótimo”, resume.
Foro: Brasil 2016
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