Poucas provas têm tanto potencial de envolver a
população como o triatlo. No Rio 2016, o público, mesmo sem ingresso,
poderá acompanhar o quilômetro e meio de natação no mar de Copacabana
próximo ao Forte, os quarenta quilômetros de ciclismo que incluem a
desafiadora subida do Cantagalo e os outros dez quilômetros de corrida,
em que os atletas passam pertinho da torcida. E não há cenário mais
favorável para um resultado histórico do triatlo brasileiro.
Em Sydney 2000, quando a modalidade foi incluída no
programa olímpico, o Brasil conquistou a melhor colocação em Jogos: o
11º de Sandra Soldan. A meta para agosto deste ano é ter um atleta
brasileiro entre os dez melhores no masculino e brigar pelo pódio no
feminino. Esta missão está com Pâmella Oliveira.
“A Pâmella ficou em 15º no evento-teste, quando estava
voltando de três meses de lesão. O fator-casa é positivo pra ela. Eu
sempre digo: ‘Você tem de correr entre as primeiras. Nos últimos três
quilômetros, o publico te leva. Você vai aguentar até o fim, brigando
pelo pódio’. Os resultados dela em casa melhoram muito, e isso é uma
tendência. Nos Estados Unidos, por exemplo, os americanos vão muito
melhor. Pesa a atmosfera”, explicou Marco La Porta, diretor técnico da
Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri).
Pâmella está desde novembro treinando na cidade de Rio
Maior, em Portugal, onde a CBtri desenvolve um projeto que envolve a
elite e categorias de base. O comandante das atividades é o português
Sergio Santos, técnico da seleção brasileira e medalhista de prata em
Pequim-2008 no triatlo.
“Estamos sempre bem amparados aqui. Além do Sérgio Santos,
tem dois técnicos auxiliares, até porque o treino divide, aqui estão a
elite e a equipe júnior. Eu treino no mínimo duas vezes ao dia, além de
extras de musculação, exercícios de fortalecimento. Chego a ter quatro
sessões de treinos em um dia, depende do momento”, explicou Pâmella.
Atual 21ª do ranking mundial, a atleta planeja participar
de mais três etapas WTS (World Triathlon Series), em Abu Dhabi (Emirados
Árabes Unidos), em 5 de março, na Cidade do Cabo (África do Sul), em 23
de abril, e em Yokohama (Japão), em 15 de maio. São oportunidades de
ganhar mais pontos e ficar ainda mais perto das melhores triatletas do
mundo.
Classificação
O Brasil tem uma vaga garantida em cada gênero por ser
sede. Caso os atletas se classifiquem por ranking, essas vagas serão
redistribuídas pela União Internacional de Triatlo (ITU, na sigla em
inglês). Estarão classificados os 39 mais bem colocados em cada gênero,
sendo que oito países podem levar até três representantes, e os demais
podem classificar no máximo dois. Por causa disso, segundo cálculos da
confederação, os atletas que estiverem no top 60 têm grandes chances de
classificação para os Jogos.
No feminino, a vaga está encaminhada para Pâmella. Entre
os homens, Diogo Sclebin é o brasileiro mais bem colocado, em 42º lugar.
Reinaldo Colucci (98º ) e Danilo Pimentel (100º) esperam subir no
ranking e disputar a vaga olímpica. Para os três, o planejamento da
Confederação inclui a participação em oito provas, a partir de Abu Dhabi
(05.03) até Yokohama (15.05), quando se encerra a corrida olímpica.
“Eles vão estar na briga até maio. São etapas de WTS e
etapas de Copa do mundo. Vai ser uma prova atrás da outra e os três vão
disputar as etapas, com apoio e recursos da Confederação, enquanto
mantiverem chances de conseguir vaga. Estabelecemos um critério interno:
se o atleta ficar entre os 40 melhores do ranking, a vaga é do atleta.
Caso contrário, o representante será escolhido pela confederação. Vai
pesar (na escolha) o ranking, o crescimento do atleta nas últimas
provas, o comportamento no evento-teste de agosto (do ano passado),
porque foi a prova no percurso olímpico”, explicou Marco de la Porta.
Um novo treino no percurso da prova será realizado em
Copacabana em maio, após a definição dos atletas classificados. Depois,
Pâmella e Danilo vão treinar na altitude, na França, em junho e julho.
Se o classificado for Diogo Sclebin, o treinamento terá continuidade em
Belo Horizonte, onde mora o atleta. Sendo Reinaldo Colucci, há um treino
de altitude previsto para julho, no México. Além dos classificados, a
Confederação vai manter um atleta reserva por gênero treinando para as
Olimpíadas, para um caso de lesão, por exemplo.
Pâmella está focada e o fato de ser a principal aposta da CBTri não a pressiona. “Nunca
sinto pressão por esperarem algo de mim. Eu sempre tento entrar numa
prova e fazer o melhor. Estou me preparando, estou tendo as condições
ideais e tenho certeza de que vou chegar preparada no dia da prova”,
disse a atleta, que conta com o apoio da Bolsa Pódio do Ministério do
Esporte.
A torcida em Copacabana pode mesmo fazer a diferença, de
acordo com a atleta. “O fato de competir em casa, ter a torcida a favor,
para mim conta muito. Não vejo como peso, me sinto bem. E depois, acho
que a corrida, que é a minha modalidade mais fraca, pode surpreender,
este ano eu tenho condições de correr melhor e estar na disputa. A
medalha é resultado de detalhes e circunstâncias, mas o que a gente
sempre quis – eu, a confederação, com todo esse trabalho que a gente vem
fazendo em Portugal desde 2011 – é ter alguém competitivo no Rio 2016.
Com meus resultados, da forma como venho crescendo, esta nossa meta vai
ser cumprida. E espero chegar ali até o último quilômetro na luta pelas
primeiras colocações”, finalizou.
Foto: Gabriel Heusi
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