Classificar-se para a maratona dos Jogos Olímpicos sempre foi um
desafio complicado no Brasil, em face da grande quantidade de atletas
capazes de obter os índices exigidos pela Federação Internacional de
Atletismo (IAAF), que para 2016 foram estabelecidos em 2h19min para os
homens e 2h45min para as mulheres, após modificação feita na semana passada pela entidade nos indíces.
Até o momento, sete atletas do país, no masculino, e cinco, no
feminino, correram abaixo das marcas desde 1º de janeiro de 2015, quando
teve início o período de obtenção dos índices olímpicos. Com isso,
todos estão credenciados para defender o país no Rio de Janeiro.
Entre os homens, Marílson Gomes dos Santos, Paulo Roberto de Almeida,
Solonei Rocha da Silva, Valério de Souza Fabiano, Franck Caldeira,
Gilberto Silvestre Lopes e Edson Amaro Arruda dos Santos têm o índice.
No feminino, Adriana Aparecida da Silva, Marily dos Santos, Rosângela
Raimunda Pereira Faria, Sueli Pereira Silva e Graciete Moreira Carneiro
Santana superaram o tempo da IAAF. No total, a lista de atletas brasileiros com índices no atletismo para 2016 já conta com 37 nomes, classificados para 11 provas no masculino e nove no feminino.
Cada país pode competir com no máximo três atletas por prova do
atletismo dos Jogos Olímpicos. Nessas condições, como o prazo para
obtenção dos índices segue aberto até 6 de maio de 2016, Solonei Rocha
da Silva pode se considerar um privilegiado em meio à forte disputa
pelas vagas na maratona, única das provas com mais de três atletas
brasileiros com índices, tanto no masculino quanto no feminino.
Por ter terminado a maratona no Campeonato Mundial de Pequim,
disputado em agosto, na 18ª posição, Solonei cumpriu o que diz o item 3
dos critérios de convocação para os Jogos Olímpicos Rio 2016 da
Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Lá está escrito que
“estarão automaticamente classificados para as provas da maratona os
atletas que se classificarem do 1º ao 20º lugar nas provas dos
Campeonatos Mundiais de Atletismo de 2015”. Com isso, ele é o único
maratonista do país com vaga oficialmente assegurada nos Jogos Olímpicos de 2016.
Para Solonei, de 31 anos, beneficiado com a Bolsa Atleta, a conquista
é a coroação de um trabalho iniciado recentemente, em 2010, quando ele
se tornou atleta de alto rendimento. “Só tenho cinco anos de atletismo e
tenho resultados de quem tem 15 anos no esporte”, orgulha-se o
corredor, medalha de ouro na maratona nos Jogos Pan-Americanos de
Guadalajara 2011, vencedor da Maratona de São Paulo em 2012 e sexto
colocado no Campeonato Mundial de Moscou em 2013.
Os Jogos Olímpicos do Rio serão os primeiros da carreira do paulista.
E Solonei recorda a emoção que sentiu quando soube que tinha assegurado
a vaga. A largada da maratona – última prova do atletismo olímpico –
será às 9h30 do dia 21 de agosto de 2016.
“É motivo de muita alegria saber que estou garantido. Por ser um
atleta de alto rendimento, esse é meu trabalho e é para isso que eu
luto, para participar de grandes competições”, declarou. “Mas os Jogos
Olímpicos saem desse padrão e estão em um outro nível no quesito de
satisfação pessoal. Todos querem estar lá, ainda mais sendo no Brasil,
com a torcida, que faz total diferença. Para mim, essa vaga é a
realização de um sonho pessoal. É um meio de demonstrar para as pessoas,
para a família e para os amigos que você conseguiu atingir o objetivo
máximo e que tudo, todo o esforço, tudo o que um atleta abre mão, valeu a
pena. Se for definir em uma palavra o que sinto ela seria orgulho por
poder defender o Brasil dentro do meu país”, prosseguiu o maratonista.
Com a certeza da vaga, os planos de Solonei para o primeiro semestre
de 2016 mudaram. “Agora posso trabalhar com tranquilidade. A vaga tira a
pressão. Você não precisa ficar arriscando tanto. A maratona é uma
prova desgastante. Não dá para fazer duas vezes por mês. São três meses
de preparação e se você acertar, beleza. Se não acertar, tem que começar
de novo, pois o risco de lesão é alto”, ressaltou.
“Antes de chegar essa notícia maravilhosa de que eu já tenho a vaga, a
gente (ele e o técnico Ricardo D'Ângelo) trabalhava com várias
possibilidades. Eu iria me sacrificar para tentar um lugar na equipe
olímpica e se chegasse aos Jogos seria para fazer o que meu corpo
pudesse render, pois eu não tinha a certeza de que chegaria 100% devido
ao desgaste para a conquista da vaga”, lembrou.
Agora, a realidade é outra. “Devido a essa situação de estar com a
vaga assegurada, vamos analisar aos poucos a situação. Ainda não
definimos o calendário para o primeiro semestre de 2016”, prosseguiu.
Apesar disso, Solonei já tem uma boa ideia de como serão os próximos
passos. “Provavelmente eu faça uma prova preparatória antes dos Jogos. O
importante é trabalhar com a segurança, fazer bons treinos e focar em
agosto. Daqui para lá serão muitos treinos. Já estou nessa pegada, não
quero ter férias. Vou competir na São Silvestre para ajudar na
preparação e, depois, devo participar de algumas outras provas de
meia-maratona. Também vamos fazer os trabalhos de altitude, em Paipa, na
Colômbia, para onde eu já vou tem cinco anos. É uma cidade tranquila,
pacata, e a gente vai fazer esse trabalho focando em algumas provas.
Devo ir para lá umas duas vezes antes de chegar aos Jogos”, adiantou.
Imprevisível
Solonei destaca que, devido à complexidade da maratona, é impossível
fazer previsões de resultados para 2016. Ele ressalta que o mais
importante é chegar preparado e torcer para ter um dia bom em 21 de
agosto.
“É difícil falar de posição. Mas tenho quase certeza de que quando eu
fui sexto no Mundial em 2013 poucas pessoas acreditavam que eu poderia
chegar nesse nível”, recordou. “Fazer previsões para 2016 é complicado.
A maratona é imprevisível. Seu corpo responde de uma maneira boa em um
momento e ali na frente pode falhar. As condições do clima afetam e
existem situações que a gente não pode prever”, detalhou.
“O negócio é fazer uma boa preparação e torcer para que no momento da
prova o corpo esteja em situação totalmente favorável. Se for assim não
tem erro. É só ter coragem e não se intimidar com os concorrentes. Aqui
é nosso país e temos que querer ser campeões. Se eu chegar a ganhar
alguma medalha em 2016 não será por acaso. Estou trabalhando para isso”,
avisou.
Foto: Getty Images
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