Todos ao redor param para observar Arthur Zanetti nas argolas.
Adversários, amigos de treinos, curiosos e até o próprio técnico tentam
entender como o ginasta consegue parar no ar, desobedecendo as leis da
gravidade. Como os ombros simplesmente não se quebram em meio a tantas
manobras?
Ele não perde uma
competição nas argolas desde novembro de 2012. Uma superioridade que o
coloca como um caso a ser estudado. Um grupo de pesquisadores passou a
investigar cada passo do campeão para entender de onde vem tanta força
nesse ginasta de 1,56m de altura. Os cientistas cobriram o corpo de
Arthur com sensores de movimento e os resultados surpreenderam até mesmo
o próprio Zanetti.
- Eu olhei e analisei
os dados com todos os técnicos e percebi que às vezes olhando, não é
sempre 100%, sempre tem alguma variação de algum ângulo. Isso acaba
prevenindo lesão e também ajuda a mostrar o que estamos errando - disse o
campeão olímpico.
O primeiro ponto que chamou a atenção foi a própria constituição
física de Zanetti. Ele tem os lados direito e esquerdo do corpo muito
parecidos, é simétrico. Franklin Martins, especialista em biomecânica,
afirma que nem todos os atletas tem essa especificidade.
-
Em uma análise, todos nós somos um pouco assimétricos, seja até pela
condição do dia a dia ou pela condição biológica inata. O Arthur, nessas
medidas, teve um desalinhamento postural mínimo. Isso, por exemplo,
permite que ele tenha duas coisas: primeiro, uma longevidade maior; e
segundo, sustentar uma rotina de treinos que é absolutamente
desgastante, sem comprometer a sua performance durante o mesmo treino -
disse o biomecânico.
Além disso, a distribuição do peso e dos
músculos o favorece. Boa parte da massa muscular de Zanetti está
concentrada nos membros superiores, bem próxima aos ombros, o que o
ajuda a ter estabilidade e eficiência nas argolas. E mais. O ginasta
mede 1,56m. A envergadura dele (distância entre os dois braços
esticados) é de 1,65m. Trata-se de um ginasta de braços curtos quando
comparado a outros atletas. Uma característica relevante na hora de
executar as manobras. Um competidor do mesmo peso, com braços mais
longos, precisaria de uma quantidade muito maior de força para realizar
as mesmas ações.
- Eles acabam tendo um pouco mais de dificuldade. O senso de
gravidade acaba desequilibrando. E isso para eles acaba se tornando mais
difícil - explica Zanetti.
Os cientistas também prestaram
atenção na posição de Zanetti durante alguns exercícios, medindo tudo
com precisão milimétrica, e descobriram que ele tem uma habilidade
incrível de controlar os próprios movimentos, posicionando o corpo em
ângulos precisos e perfeitos. Essa perfeição é obtida na base da força.
Em um simples giro nas argolas, por exemplo, Zanetti precisa sustentar
nos braços nove vezes o peso do seu corpo.
As descobertas dos pesquisadores não devem parar por aí. Os
cientistas ainda pretendem usar outros aparelhos e novas técnicas para
estudar Zanetti. O projeto vai prosseguir até o final de 2016. O
ginasta, porém, deseja tirar proveito imediato do que aprendeu.
-
A gente vai trabalhar com esses dados para que a gente consiga alinhar
todos os nossos defeitos e, assim, trazer mais medalhas ao Brasil -
disse o campeão olímpico e mundial.
Foto: Instagram
Fonte: Globoesporte.com
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