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A primeira participação Olímpica portuguesa







2012 é um ano especial para o Olimpismo português, pois celebra-se o centenário da sua primeira participação na manifestação desportiva mais importante do mundo. Apesar de já ter um membro desde 1906 e do Comité Olímpico de Portugal ter sido constituído em 1909, somente em 1912, com a implantação da Republica, é que o estado português selecionou e mandou atletas para uma competição tão importante.

A participação não foi só por motivos desportivos, houve também um motivo politico subjacente. Portugal vivia tempos agitados: a 1 fevereiro de 1908 tinha havido o Regicídio, com a morte de D.Carlos I e do seu príncipe herdeiro, D. Luis Filipe, e a Republica tinha sido implantada em Portugal dois anos depois, a 5 de outubro de 1910, após um golpe de estado, fazendo exilar o jovem rei D.Manuel II. Sendo assim, o novo regime, com menos de dois anos de existência, buscava uma legitimidade internacional que a comunidade internacional estava lentamente a aceitar.

A pequena delegação portuguesa era constituída por seis atletas, espalhadas em três modalidades como o atletismo, a esgrima e luta greco-romana. Entre os que iam nessa delegação constavam dois nomes importantes em Portugal: Antonio Stromp, um dos fundadores do Sporting e eclético atleta – futebolista e velocista – e o maratonista Francisco Lázaro, do Benfica. Aliás, as grandes esperanças de uma medalha estavam neste humilde jornaleiro, que no ano anterior tinha sido campeão nacional da maratona, com um tempo superior ao da maratona de Londres, quatro anos antes.




Antonio Stromp (foto) era o mais novo dos atletas ali presentes. Tinha 18 anos e tinha sido escolhido para participar nas eliminatórias de 100 e 200 metros, sendo primeiro atleta português a participar em Estocolmo, a 6 de julho. Mas esteve exposto ao sol inclemente de um tempo invulgarmente quente naquele verão sueco. Acabou por ser terceiro numa das 18 (!) eliminatórias dos cem metros, não tendo passado para a fase seguinte, enquanto que nos 200 metros, não teve melhor sorte, ao ser quarto classificado.

Havia mais dois atletas inscritos nessa modalidade: Antonio Cortesão e Francisco Lázaro. Este último tinha 21 anos e vinha de origens humildes, sendo carpinteiro de profissão. Lázaro estava convencido que teria uma grande hipótese de alcançar a medalha, iludido com o tempo que tinha feito no ano anterior, mas a sua preparação tinha sido – aos dias de hoje – muito mal feita. E isso foi-lhe fatal.




No dia da corrida da maratona, as temperaturas estavam invulgarmente altas para aquela altura, mais de 35ºC. Muitos atletas tinham decidido cobrir as suas cabeças com bonés e outros panos molhados, para evitar a desidratação, mas também por essa altura, havia quem achava que cobrir o corpo de banha seria o indicado para evitar perder suor e a consequente desidratação. Lázaro (foto) acreditava nisso e cobriu-se de banha. Poucos minutos da partida, António Cortesão o viu e vendo o que se passava, apressou a tirar a banha, esfregando-o com água, pois sabia que isso era um bloqueador dos poros e por consequência, impedia-o de suar. Tentou fazer o melhor, mas não o conseguiu.

Lázaro partiu para a corrida, e andou por algum tempo no pelotão da frente. Anos depois, espalhou-se nos jornais e livros o mito de que ele estava na luta pelas medalhas, que não era verdade. Na realidade, ele sofreu bastante com a falta de suor, consequente insolação e hipertermia. Ele tinha isso tudo quando foi encontrado na estrada, a caminho do quilómetro 30. Levado para o hospital, um ataque cardíaco fizeram-lhe o resto. Aos 21 anos, tinha-se tornado na primeira morte nos Jogos Olimpicos.

Pierre de Coubertin tinha ficado sensibilizado com o que tinha acontecido e decidira angariar fundos para pagar as despesas de funeral, bem como um fundo para a víuva de Francisco Lázaro. O féretro chegou algum tempo depois, perante uma multidão de gente.

Stromp não teve uma longa vida. Continuou a ser um futebolista de eleição, jogando até 1916 no Sporting e na seleção de Lisboa – ainda não havia seleção nacional – até que aos 22 anos, contraiu síflis. Acabou por morrer em 1923, aos 27 anos. Curiosamente a 6 de julho, o mesmo dia em que se estreou nuns Jogos Olimpicos. Outro dos seus irmãos, Francisco, fundador e jogador do Sporting, também acabou por contrair a mesma doença, mas não quis acabar como o seu irmão Antonio. Suicidou-se em 1930.

Contudo, apesar dessas vicissitudes, a participação olímpica de Portugal assegurou uma vitória diplomática para a nova República. Apressou o reconhecimento das novas autoridades perante o mundo e pavimentou o caminho para futuras participações, embora a primeira medalha olímpica só aparecesse doze anos depois, em Paris. 

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