Por Leonardo Félix (@leo_felix)
Confesso não ser fanático por
Jogos Olímpicos. Acompanho o evento de forma moderada, assim como meus
conhecimentos acerca de sua história estão mais para o senso comum. Isso
significa que, excetuando os fatos mais marcantes das edições do passado, não
sei muito além do que aquilo que acompanhei quando já possuía o mínimo de
condições de reter as coisas na cachola, mais precisamente os jogos de Atlanta,
em 1996.
Portanto, o relato que vou dar
pode perfeitamente não ser o que de mais interessante ou relevante tenha
acontecido com o Brasil nas Olimpíadas, mas, dentro daquilo que eu vi, está
provavelmente na posição de marco do país. O que não significa que seja algo
positivo.
O fato ocorreu nos Jogos de Sydney,
em 2000. Depois de terminar a edição anterior, nos Estados Unidos, com a 25ª
colocação e três veneras douradas no peito, naquela que fora até então sua
melhor campanha na história, o Brasil tentava provar que o progresso não era
circunstancial e tinha esperança de ao menos manter o padrão na Austrália.
Entrementes, o que se viu foi um
misto de choque de realidade e uma pitada de trabalho sarcástico de algum ente
desconhecido. O país não alcançou nenhuma medalha de ouro, nenhuminha. Apesar
das 12 aparições no pódio, nenhuma aconteceu no degrau mais alto, com o hino
tocando e a vinheta Brasil-sil-sil sendo ressoada no áudio da Globo.
Modalidades onde a delegação era
considerada favorita, como vôlei de praia e iatismo, amargaram bronzes e
pratas. As veneras desses dois metais, que no início eram comemoradas como
vitória em Copa do Mundo, passaram a ser apenas aceitas no período meão e, nos
últimos dias, amaldiçoadas por ufanistas sedentos pela ambição maior, a
plaquinha circular áurea, que nunca chegava.
O ouro nunca chegou, mas o último
dia daquelas Olimpíadas, sim. Naquele dia, toda a esperança nacional de não
sair dali na seca foi depositada nos ombros de Rodrigo Pessoa e no lombo de
Baloubet du Rouet. Campeã mundial de hipismo, a dupla carregava consigo o maior
favoritismo entre todos os representantes da delegação e confirmou tal pecha
nas fases classificatórias, onde sempre figurou no topo da tabela.
A final do hipismo, ocorrida no
último dia de competições, seria a chance derradeira da redenção, para “colocar
o país em seu devido lugar”. Alguns veículos de comunicação chegaram a
parafrasear Nelson Rodrigues, criando o slogan “Brasil, a pátria de
ferraduras”. É por isso que considero essa história tão fantástica. Ela
evidencia não só a linha tênue entre o sucesso e o fracasso, mas mostra como a
pauta dos “especialistas” muda de acordo com a conveniência.
Últimos competidores a realizarem
o percurso da final, direito adquirido pela supremacia nas fases preliminares,
Rodrigo Pessoa e o fiel Baloubet Du Rouet partiram para a glória. Bastava não
errar, já que todos os adversários haviam deixado pelo menos um obstáculo no
chão pelo caminho. Mas a coisa não seria tão fácil. Não em uma olimpíada na
qual o Brasil estava fadado a pagar seus pecados com uma punição cósmica.
Logo no primeiro salto, um
obstáculo foi ao chão. O cavaleiro continuava a conduzir seu Sela Francês pelo
percurso, mas, após um salto triplo de extrema dificuldade, Baloubet du Rouet
acusou o golpe e, machucado, não conseguia mais prosseguir. No total, foram
três refugos e, se o ouro era dado como praticamente garantido, a dupla saiu da
Vila Olímpica sem medalha alguma.
Foi o suficiente para que o
escárnio contra cavaleiro e cavalo começasse e para que se acendesse um sinal
de alerta para descobrir “o que estava acontecendo com o esporte brasileiro”,
que terminou os jogos em 52º, atrás de nações como Tailândia, Camarões,
Colômbia e Moçambique. Um show de hipocrisia e filosofia rasa.
Caso Pessoa tivesse conquistado a
tão esperada venera, seria recebido no país em carro do Corpo de Bombeiros,
iria para o Palácio da Alvorada encontrar o presidente da República e seria
abraçado por Fausto Silva, Jô Soares e Ana Maria Braga ao vivo, em horários
nobres.
Como não foi o que aconteceu, a
única homenagem ao cavaleiro veio do Casseta & Planeta, com uma sátira da
marcha de carnaval “Balancê”, que dizia “O Baloubet du Rouet/Quero empacar com
você”, ou algo do tipo.
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