Um colombiano faz acrobacias com sua bicicleta em frente a uma
escultura do globo terrestre feita com lixo eletrônico, dois atletas
australianos improvisam uma luta de esgrima ao ar livre, bandeiras de
incontáveis países enfeitam as sacadas, enquanto uma inglesa tira fotos
na frente de um grafite em homenagem à seleção argentina campeã olímpica
de basquete em 2004. Mesmo uma breve visita à Vila dos Jogos da
Juventude Buenos Aires 2018 revela uma polissemia de cores e culturas
que fortalece um dos valores fundamentais do movimento olímpico: a
diversidade.
"Nos Jogos Olímpicos da Juventude, além das competições, temos o lado
educacional e o enfoque em desenvolver o atleta não apenas como
profissional, mas com consciência de sustentabilidade e respeito ao
próximo. Esses são valores que o Comitê Olímpico Internacional tem e que
transparecem neste evento", explica Paula Andrade, brasileira que
trabalhou nos Jogos Olímpicos Rio 2016 e agora ajuda a chefiar as
operações da Vila Olímpica de Buenos Aires.
Durante visita de jornalistas à Vila, Paula conta que as atividades
educacionais, culturais e recreativas foram pensadas especialmente para
ampliar a formação humana dos jovens atletas. Há um centro ecumênico
para atender a todas as religiões, um refeitório para 2.500 pessoas e
vários espaços de convivência para estimular a troca de experiências
entre os esportistas do mundo todo.
"Tem atividade para fazer camiseta, pintar, responder perguntas. Eu
já participei de duas. E você ainda ganha óculos e brindes", conta o
boxeador Luiz Oliveira, porta-bandeira da delegação brasileira na
cerimônia de abertura dos Jogos. No quarto, o que mais chamou a atenção
de Luiz foi o cobertor. "Tem um dos Jogos que achei bem legal. Não sei
se pode, mas se puder vou levar como recordação", brincou.
O Brasil ocupa um dos 30 prédios da Vila Olímpica. São 79
atletas, além das comissões técnicas, oficiais e integrantes do Comitê
Olímpico do Brasil (COB). No total, a Vila conta com 1.159 apartamentos e
atualmente hospeda 6.300 pessoas. "Cada apartamento varia entre 4 e 8
residentes, que podem ser atletas e oficiais de equipe. Os prédios
também variam no número de andares, que pode ser de 7 a 10", conta
Paula, acrescentando que o fluxo diário de pessoas na Vila é aumentado
pelos voluntários, funcionários e trabalhadores contratados, que somam
aproximadamente 2.400 pessoas.
"Como na natação são quatro homens e quatro mulheres, a gente ficou
em quartos de quatro pessoas, com dois beliches. Aí tem uma sala e outro
quarto com mais quatro pessoas, no nosso são os caras do boxe. Tem
também um banheiro dentro de cada quarto. Está bem bacana, organizado e
confortável", diz o nadador Lucas Peixoto. Para ele, dividir o quarto
com os colegas aumenta ainda mais a motivação de conseguir um bom
resultado nas competições. "A gente já tinha uma amizade antes daqui,
mas mesmo assim fortalece, mantém a galera bem unida, se dando força
antes das provas".
Localizada na zona sul de Buenos Aires, em uma área que estava
relegada tanto econômica como socialmente, a Vila Olímpica ocupa um
espaço de aproximadamente 160 mil metros quadrados. Depois dos Jogos,
vai virar um bairro residencial.
O governo local abriu inscrições para
financiamento da compra de apartamentos a taxas mais baixas que as de
mercado. Na ocasião, os preços finais variavam entre cerca de R$ 134 mil
e R$ 250 mil, de acordo com o tamanho da unidade.
"Já foram abertos à venda e teve demanda alta. Muitos já estão
vendidos. Depois dos Jogos, a gente faz o desmonte e a instalação de
itens como cozinha, que ainda não estão aqui", diz Paula Andrade. A
previsão oficial é de que em março de 2019 os primeiros apartamentos
estejam ocupados por seus moradores.
O projeto dos edifícios da Vila foram escolhidos por meio de seis
concursos e elementos de cada um dos vencedores foi utilizado na
construção dos alojamentos. Um dos prédios vai funcionar como hotel, que
receberá atletas que vão participar de competições no Parque Olímpico,
construído do outro lado da rua.
Fotos: Rede do Esporte
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