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Jorge Bichara detalha desafios do COB no projeto de criar uma nação esportiva e espera cobranças por medalhas em Los Angeles "A gente sabe a missão que tem"

Jorge Bichara, consultor técnico do COB
 Marcio Rodrigues /MGFT


Jorge Bichara está de volta ao Comitê olímpico do Brasil e tem um grande desafio pela frente. O consultor de esportes da entidade tem além do projeto de alto rendimento para montar uma delegação para lutar por medalhas em Los Angeles-2028, plantar a semente de uma nação esportiva no país.

Em entrevista exclusiva ao Surto Olímpico, realizada no coquetel da posse da nova presidência do COB na última quinta (30), Bichara falou que um dos grandes desafios é a implantação de um cultura esportiva em meio a monocultura do futebol enraizada no país: 

"Ah, a gente tem a riqueza de ter um esporte como o futebol que trouxe tantas alegrias e ainda traz para nossa população. Ele é o nosso esporte principal, e é o esporte principal do mundo. Mas talvez o futebol não reconheça, talvez não só no Brasil, mas em todo o mundo, o valor do esporte olímpico, apesar do futebol ser olímpico também. O esporte olímpico reconhece o valor, por exemplo, de uma medalha de bronze, uma medalha de prata, e às vezes o futebol não reconhece esse mesmo valor."

Além destes temas, Bichara falou sobre conciliar os trabalhos de consultor da Confederação Brasileira de Voleibol e do COB, as cobranças pelo alto rendimento e as diferenças do COB após sua volta, voltando com um olhar mais sensível para o diálogo com as confederações esportivas. Veja a entrevista completa abaixo:


-  Você terá o desafio de conciliar cargos no COB e na CBV - este até o fim do ano. Como será seu planejamento para este ano? As funções podem 'se conversar' com interesses em comum?  

Eu tô dando meu máximo para que eu consiga atender as demandas das duas. Faço com prazer, gosto muito de trabalhar nas duas, entendo que experiências de uma podem ser aproveitadas na outra e que no fundo, é, você não trabalha sozinho, você trabalha com um equipe de pessoas que estão aí, excelentes profissionais em ambas as entidades que vão trabalhar comigo nessa evolução

E como você falou, são funções que se conversam sim, porque elas têm um princípio básico de buscar fazer a gestão do esporte em si e criar mecanismos de que você consiga evoluir em relação à sua estrutura e a preparação das suas atividades. A questão de conciliar o tempo, tenho o privilégio de lidar com presidentes (Radamés Lattari no vôlei e Marco La Porta no COB) que entenderam isso, eles estão me dando a oportunidade de tentar conciliar esses dois esses dois desafios grandes que que são trabalhar com o COB e com um esporte tão grande, tão representativo para o país que é o voleibol.


- O que chamou a atenção nas palavras do Marco Antonio La Porta como presidente é esse projeto de criar 'Uma nação esportiva'. qual seria seu trabalho nesse projeto?

Quero fazer do COB não somente uma entidade reconhecida pela preparação de equipes para uma edição de Jogos Olímpicos ou de Jogos Pan-americanos. Quero trabalhar com as outras entidades para contribuir que o Brasil realmente evolua como uma nação esportiva. Que a gente tenha mais praticantes de esportes, que a gente aumente a nossa base de busca, para que o Brasil tenha a maior possibilidade de alcançar atletas que ainda não foram identificados. Que a gente consiga encontrar pessoas que têm potencial técnico e qualidade física para representar o Brasil em diversos esportes.


- Além desse trabalho de criação de uma nova cultura esportiva, tem o desafio do alto rendimento, de se manter evoluindo e buscando medalhas em Olimpíadas. Espera cobranças para que o Brasil tenha um desempenho por medalhas em Los Angeles melhor do que em Paris? 

A gente entende que tem que trabalhar em paralelo com a preparação dos Jogos olímpicos, e é óbvio que a gente vai ser cobrado por isso (por um desempenho melhor em LA).  E não tem problema nenhum, a gente sabe que a missão que tem é de buscar o melhor desempenho do Brasil e sempre trabalhar para ser melhor do que aconteceu anteriormente.


- Apesar do pouco tempo no cargo, já tem um planejamento de 2025 ou até uma previsão para Los Angeles?

Prever o que vai acontecer é impossível, principalmente logo no início de um ciclo, mas o empenho de nós é o maior e o melhor para que a gente consiga sempre evoluir. Ao longo dos anos, você vai identificando se esse potencial aumenta, se concretiza ou não. Nesse momento, o olhar é positivo. Existem bons valores, mas é um momento ainda de muita avaliação, de você dar descanso a alguns atletas que tiveram um ciclo anterior mais pesado. E com isso, você dá oportunidade para nossos jovens aparecerem, principalmente nos esportes coletivos. Para eles ganharem a experiência, confiança, mais a bagagem que precisa nestes quatro anos. 2025 é um ano de estudo. É um ano que não reflete mesmo se o Brasil tiver um super resultado positivo em termos de medalhas importantes em mundiais. Ele não reflete muito, e não pode ser traduzido o que vai acontecer em 2028. 


- Voltando a questão da nação esportiva, sabemos que no Brasil temos uma cultura futebolística muito forte, praticamente uma monocultura. Qual é o desafio de implantar esse projeto tendo o futebol tão enraizado na vida do brasileiro?

Ah, a gente tem a riqueza de ter um esporte como o futebol que trouxe tantas alegrias e ainda traz para nossa população. Ele é o nosso esporte principal, e é o esporte principal do mundo. Mas talvez o futebol não reconheça, não só no Brasil, o valor do esporte olímpico, apesar do futebol ser olímpico também. O esporte olímpico reconhece o valor, por exemplo, de uma medalha de bronze, uma medalha de prata, e às vezes o futebol não reconhece esse mesmo valor.

E trabalhar com isso dentro do Brasil não é fácil. Porque você tem que desenvolver a cultura do esporte. Você saber traduzir e levar para a população, o que o esporte pode te trazer, os ensinamentos que ele pode te oferecer, da formação do caráter de uma pessoa, na educação que ele pode levar, para aprender a saber como lidar com questões como vitórias, com derrotas, com frustrações, com respeito... O Esporte olímpico é evoluído nesse aspecto.


- Nesse processo de cultura esportiva, as confederações terão grande papel. Como estão as conversas com elas desde a sua volta?

Com as confederações a gente começa a dialogar a agora. Estamos nas primeiras semanas de trabalho, mas facilita um pouco saber um pouco a forma que trabalham os presidentes. Volto com uma sensibilidade maior de entender a realidade das confederações, já que trabalhei em duas nos últimos anos (CBAt - atletismo e CBV - vôlei). Eu entendo as prioridades e as decisões difíceis que cada uma tem que tomar, e volto com um olhar para tentar contribuir que elas evoluam também no processo, que a gente precisa que as confederações evoluam para que a gente evolua também.


- E nesse pouco tempo desde sua volta ao COB, qual a principal diferença que você pôde notar na entidade?

Em termos de equipe, o COB sempre teve uma equipe muito bem qualificada e a diferença principal que vejo a minha volta são as pessoas que estão trabalhando comigo. São pessoas que admiro, que foram personagens do esporte olímpico brasileiro, com medalhas olímpicas, como a Yane, com quem trabalhei diretamente na conquista da sua medalha em 2012. Trabalhei com o Emanuel como atleta também e sei que são pessoas de caráter fantástico, com uma experiência de vida que vai ser muito importante para termos a oportunidade de construirmos essa nação esportiva nos próximos anos.

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