Tabela de Jogos (No Horário de Brasília)
• 1ª Rodada:
20/07 – 07h: Austrália x Irlanda (Stadium
Australia – Sydney/AUS)
20/07 – 23h30: Nigéria x Canadá
(Melbourne Rectangular Stadium – Melbourne/AUS)
• 2ª Rodada:
26/07 – 09h: Canadá x Irlanda
(Perth Rectangular Stadium – Perth/AUS)
27/07 – 07h: Austrália x Nigéria
(Lang Park – Brisbane/AUS)
• 3ª Rodada:
31/07 – 07h: Canadá x Austrália
(Melbourne Rectangular Stadium – Melbourne/AUS)
31/07 – 07h: Irlanda x Nigéria (Lang Park – Brisbane/AUS)
• As duas seleções classificadas enfrentam
adversários do Grupo D nas Oitavas de Final
Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo A
Austrália
Foto: Football Australia |
A equipe chega à Copa do Mundo como a anfitriã que mais deve dar trabalho. É verdade que a Austrália não apresenta a solidez necessária para que seja alçada ao posto de séria candidata ao título, mas é uma seleção de boa qualidade e que pode sim surpreender. Ainda mais em um mundial que não parece apresentar uma favorita absoluta até o momento. E vale lembrar que as Matildas terão a torcida ao lado, o que com certeza é um adicional importante.
Dentro das quatro linhas, a
artilheira e capitã Sam Kerr lidera uma equipe de nomes experientes, com um
histórico importante com a camiseta nacional e que também é muito equilibrada
em praticamente todos os setores. Além disso, a Austrália ganhou alternativas importantes e de talento com o passar do ciclo. Especialmente de atletas novatas, que vêm
mostrando qualidade suficiente para serem utilizadas com maior frequência na
formação titular. Com o passar da Copa, provavelmente algumas delas terão mais
espaço.
Essa mescla que vem ganhando força nos
últimos anos é um ponto forte da equipe comandada pelo contestado Tony
Gustavsson. A quarta posição conseguida nos Jogos Olímpicos de Tóquio anima e adiciona
confiança para a conclusão do ciclo, já que foi o melhor resultado alcançado
pelas Matildas em uma competição mundial
de alto nível. De qualquer forma, o pensamento que paira o imaginário da
torcida local é bastante claro: é possível chegar ainda mais longe.
A grande expectativa para a Copa do
Mundo é que arquibancadas e seleção nacional se unam e alcancem um resultado inédito
para o país. Esse, inclusive, deve ser o último mundial de uma histórica geração
que mudou o status da Austrália no cenário internacional e se acostumou a
disputar grandes torneios com aspirações maiores do que disputar os três
protocolares jogos da fase de grupos. Podemos, portanto, ver uma despedida de gala de boa parte delas.
Ranking da FIFA: 10º Lugar.
Participações Anteriores em Copas do Mundo: 7/8 (1995, 1999, 2003,
2007, 2011, 2015, 2019).
Melhor Campanha: Quartas de Final (2007, 2011 e 2015).
Tony Gustavsson não é unanimidade apesar da campanha na Olimpíada de Tóquio dois anos atrás, quanto a Austrália alcançou uma histórica fase semifinal. Foto: Impetus Football |
Técnico: Tony Gustavsson (desde Setembro de 2020).
Convocação
Goleiras:
1-Lydia Williams (35 anos – 13/05/1988; Brighton & Hove Albion-ING), 12-Teagan
Micah (25 anos – 20/10/1997; FC Rosengård-SUE), 18-Mackenzie Arnold (29 anos –
25/02/1994; West Ham United-ING);
Laterais:
2-Courtney Nevin (21 anos – 12/02/2002; Leicester City-ING), 7-Steph Catley (29
anos – 26/01/1994; Arsenal FC-ING), 21-Ellie Carpenter (23 anos – 28/04/2000;
Lyon-FRA), 22-Charlotte Grant (21 anos – 20/09/2001; Vittsjö GIK-SUE);
Zagueiras:
3-Aivi Luik (38 anos – 18/03/1985; BK Häcken-SUE), 4-Clare Polkinghorne (34
anos – 01/02/1989; Vittsjö GIK-SUE), 14-Alanna Kennedy (28 anos – 21/01/1995;
Manchester City-ING), 15-Clare Hunt (24 anos – 12/03/1999; Western Sydney
Wanderers);
Volantes/Meio
Campistas: 6-Clare Wheeler (25 anos – 14/01/1998; Everton FC-ING), 8-Alex
Chidiac (24 anos – 15/01/1999; Racing Louisville-EUA), 10-Emily van Egmond (29
anos – 12/07/1993; San Diego Wave-EUA), 11-Mary Fowler (20 anos – 14/02/2003;
Manchester City-ING), 13-Tameka Yallop (32 anos – 16/06/1991; Brann-NOR), 19-Katrina
Gorry (30 anos – 13/08/1992; Brisbane Roar), 23-Kyra Cooney-Cross (21 anos –
15/02/2002; Hammarby IF-SUE);
Meias/Pontas:
5-Cortnee Vine (25 anos – 09/04/1998; Sydney FC), 9-Caitlin Foord (28 anos –
11/11/1994; Arsenal FC-ING), 16-Hayley Raso (28 anos – 05/09/1994; Manchester
City-ING);
Atacantes:
17-Kyah Simon (32 anos – 25/06/1991; Tottenham Hotspur-ING), 20-Sam Kerr (29
anos – 10/09/1993; Chelsea FC-ING).
Lista
de Suplentes: Não Divulgada.
Ausências Notáveis: Elise Kellond-Knight (MC – Melbourne Victory; ruptura no tendão de Aquiles sofrida em Março de 2023), Jada Whyman (GOL – Sydney FC; opção técnica), Karly Roestbakken (ZAG/LE – Melbourne City; opção técnica), Emma Checker (ZAG – Melbourne City; opção técnica), Matilda McNamara (ZAG – AGF Aarhus-DIN; opção técnica), Amy Sayer (MA/MC – Stanford University-EUA; opção técnica), Chloe Logarzo (MC/PE – Western United; opção técnica), Rachel Lowe (MC/MA – Sydney FC; opção técnica), Holly McNamara (PD/PE – Melbourne City; opção técnica), Princess Ibini (PE/AT – UNSW FC; opção técnica), Larissa Crummer (AT – Brann-NOR; opção técnica), Remy Siemsen (AT – Leicester City-ING; opção técnica), Emily Gielnik (AT/PE – Aston Villa-ING; opção técnica).
Time-Base:
Mackenzie Arnold; Ellie Carpenter, Alanna Kennedy, Clare
Polkinghorne, Steph Catley; Mary Fowler, Katrina Gorry, Emily van Egmond;
Hayley Raso, Sam Kerr ©, Caitlin Foord.
Especialmente após a Olimpíada de Tóquio, vários testes foram realizados. Seja em matéria de nomes ou de esquemas, com as Matildas deixando um pouco de lado o habitual 4-3-3 de anos anteriores para atuar em um 4-4-2, em um 4-2-3-1 e até num 5-4-1. Esse último, testando três zagueiras, foi observado na goleada sofrida diante da Espanha na metade do ano passado. Boa parte dessas mudanças acabaria gerando bons frutos para o plantel de Tony Gustavsson, como veremos adiante.
Uma posição que parece estar
totalmente em aberto para a Copa do Mundo é a de goleira. Lydia Williams foi a
titular absoluta no mundial de quatro anos atrás, mas agora a experiente atleta
de 34 anos enfrenta a concorrência de Teagan Micah e Mackenzie Arnold. Em busca
de maiores minutos em campo, Williams deixou a reserva do Paris Saint-Germain
no começo do ano e passou a defender o Brighton & Hove Albion, sendo nome
importante de uma equipe que assegurou permanência na primeira divisão inglesa ao final da temporada.
Já Teagan Micah iniciou todos os
cinco confrontos australianos na última Olimpíada, torneio onde a seleção foi
até a semifinal e fez história. Outro nome que busca essa vaga de titular na meta Matilda é Mackenzie Arnold, de chances frequentes
em 2023 e que também correspondeu quando fora chamada. A briga é boa e em um alto nível. Não se
pode descartar a utilização de pelo menos duas delas na fase de grupos, até para que as atuações mostrem quem merece ser mantida para a sequência do mundial.
Mackenzie Arnold foi quem recebeu chances na meta australiana em 2023, mas é difícil prever se ela iniciará a Copa do Mundo como titular. A disputa está bastante aberta. Foto: Saeed Khan |
A lateral-direita é um ponto de grande força e esperança para a Austrália. A razão é a novata defensora Ellie Carpenter, dona absoluta da posição e que vem de boas temporadas no Lyon. Carpenter carrega no currículo duas participações em Olimpíadas e também a titularidade na Copa do Mundo de 2019. E o detalhe: tudo isso com apenas 23 anos. Não há motivos para se colocar em cheque a sua capacidade técnica. O ponto que tirou o sono da comissão técnica e dos torcedores foi a grave lesão sofrida pela lateral em meados de 2022.
Mais uma vítima dos problemas
ligamentares no joelho, a defensora acabaria se ausentando da maior parte da
reta final da preparação à Copa do Mundo. Menos mal para o treinador europeu
que a data FIFA de Abril viu Carpenter retornando bem fisicamente para os duelos
contra Escócia e Inglaterra. Sem contar as quatro partidas disputadas pelo Lyon de Abril para cá, o que contribuiu para que a atleta chegasse em melhores condições ao mundial até mesmo no aspecto da autoconfiança.
No esquema australiano, a veloz
jogadora é peça importantíssima no jogo ofensivo e com grande frequência aparece
nos arredores da área adversária para efetuar cruzamentos. Durante a sua
ausência, as Matildas utilizaram a meia/ponta
Cortnee Vine improvisada em uma posição mais recuada do gramado. Uma opção mais
equilibrada é Charlotte Grant, defensora de ofício e de um potencial maior de
marcação em comparação à dupla citada acima.
Por falar em defesa, o centro da zaga australiana conta com as experientes Clare Polkinghorne e Alanna Kennedy. A dupla está acostumada a atuar junta há um bom tempo e alia velocidade em recuperações e imposição nos duelos pelo alto. O detalhe é que ambas também ajudam na construção ofensiva com bola no pé, seja em lançamentos às costas da defesa rival ou na saída com a volante. Isso é algo bastante importante no estilo de jogo imposto pelo treinador sueco, que busca sempre trabalhar os lances e sair ao campo de ataque de forma paciente e consciente.
As principais alternativas a esse
posto são a experiente Aivi Luik (de 38 anos e também volante) e Clare Hunt. Porém,
vale dizer que uma delas será escolhida só se for realmente necessário. Kennedy
e Polkinghorne são de fato intocáveis, a ponto de a defensora do Manchester
City aparecer na convocação final mesmo sem atuar desde Março devido a um problema na
panturrilha. Próximo a elas, a lateral-esquerda Steph Catley adiciona um equilíbrio
maior ao setor defensivo.
Não tão afeita ao apoio como a novata Ellie Carpenter, a atleta do Arsenal costuma fechar seu lado a fim de liberar a ponta que cai por ali. Ao mesmo tempo, Catley é importante nos lances de bola parada da Austrália, com seu pé canhoto sendo responsável por cobranças de falta e escanteios. É verdade que seu momento no futebol inglês não é dos melhores, mas na seleção ela é importante e dificilmente será sacada do time titular por escolha técnica.
Embora não tenha a mesma resistência física de Carpenter, Steph Catley também acrescenta ao conjunto australiano (especialmente na construção ofensiva e em lances de bola parada). Foto: Matildas |
Eventualmente, e até pela facilidade em trocar passes e sair para o jogo, Catley pode ser escalada como zagueira também. Courtney Nevin é a sua reserva imediata para a lateral e também já foi utilizada mais ao centro da linha defensiva em confrontos internacionais. O quarteto considerado titular das australianas é forte e oferece solidez e qualidade técnica, ainda que as duas zagueiras sofram quando se deparam com atacantes velozes.
Outros nomes carimbados na seleção Matilda são Katrina Gorry e Emily Van
Egmond. A dupla é remanescente de uma fortíssima zona de meio campo que
funcionou muito bem na década passada. Com muito boa qualidade para efetuar
passes curtos e longos, ambas se mantém no mais alto nível e parecem ser a
melhor tutora para Mary Fowler. Essa, uma jovem e talentosa meio campista que
merecidamente foi conquistando seu espaço no time de Tony Gustavsson com o passar do tempo.
Atualmente no Manchester City, a jogadora
de 20 anos desde os 15 frequenta a lista principal da Austrália e se
caracteriza principalmente por realizar a função normalmente executada por uma
armadora. De fato, Mary Fowler é a meio campista desse 4-3-3 que mais se desprende
à frente, muitas vezes aparecendo como se fosse outra atacante. Ela é um ganho
importante em qualidade técnica e é a principal atleta australiana dessa nova geração
a despontar nessa zona central do campo.
Quem mais se assemelha a ela em matéria de habilidade é Alex Chidiac, um nome de muita criatividade e que é totalmente imprevisível. Kyra Cooney-Cross e Tameka Yallop são alternativas para essa função, ainda que as atletas desse polivalente dupla já tenham sido utilizadas como meias e pontas pelo setor esquerdo e não tenham exatamente a "fantasia" apresentada por Chidiac. Um corte em relação à lista divulgada em Junho foi o de Chloe Logarzo, importante peça no ciclo anterior. No mundial de 2019, ela seria titular nos quatro confrontos e terminaria a competição com um gol e uma assistência.
A péssima notícia para os planos da
comissão técnica é a ausência da experiente Elise Kellond-Knight na lista final.
A versátil jogadora já havia perdido a maior parte dos anos de 2020 e 2021 após
sofrer uma séria lesão no joelho e agora vê o sonho de disputar uma Copa do
Mundo em sua casa ser impossibilitado por contra de outro problema médico. Vale
ressaltar que Kellond-Knight conseguiu recuperar-se do incômodo inicial ainda
em Agosto do ano passado. Ou seja: em tempo de readquirir grande parte do ritmo
de jogo até o mundial.
Porém, a lesão ocorrida no último
mês de Março foi fatal. O problema desta vez foi uma ruptura no tendão de
Aquiles. Este ferimento ocorreu em uma sessão de treinamentos dela pelo
Melbourne Victory, equipe onde a atleta de 32 anos atuava desde Novembro
justamente na tentativa de readquirir maior ritmo de jogo. Até por ter um centro do campo onde algumas atletas estão indo para a sua primeira Copa, Kellond-Knight certamente seria uma escolha de segurança para Gustavsson para um confronto de maior peso.
Com experiência em Copas do Mundo e Olimpíadas, Elise Kellond-Knight foi um nome bastante importante para as Matildas em anos anteriores. Especialmente pela facilidade que ela apresenta em efetuar distintas tarefas nas linhas de defesa e centro do campo e também pelo bom entrosamento com jogadoras que foram suas companheiras na equipe nacional em vários torneios. Por toda essa rodagem, a atleta também teria uma tranquilidade maior em lidar sob a pressão que certamente virá das arquibancadas.
Normalmente, a encarregada de atuar
entre defesa e meio campo é Katrina Gorry. Entretanto, apresentando uma
característica de maior intimidade com a bola. Ela não é apenas marcadora, mas
também a principal jogadora da Austrália para organizar as transições ao campo
ofensivo. E, mesmo tendo duas zagueiras com qualidade para fazer a saída de
bola, a presença de Gorry é decisiva também pelo fato de acabar soltando ao menos uma lateral para o apoio.
Especialmente Ellie Carpenter, nome
importantíssimo para o momento ofensivo e que é capaz de cobrir praticamente
toda a faixa direita do campo. Além disso, a meio campista torna a linha de
defesa mais preenchida a partir do momento em que normalmente se posiciona
perto de Alanna Kennedy e Clare Polkinghorne e se torna outra zagueira. E vale
destacar que a sua adaptação a essa função foi praticamente imediata.
Alex Chidiac é uma opção das mais interessantes para o centro do campo australiano. Canhota habilidosa, ela adiciona qualidade técnica e mantém a ótima circulação de bola no setor. Foto: NBC Sports |
Não é exagero dizer que Gorry é uma das mais importantes atletas para que o jogo das Matildas flua. Como a Austrália costuma liberar Mary Fowler para que a jovem frequentemente se aproxime da área rival, cabe a Emily Van Egmond auxiliar a volante do Brisbane Roar na saída de bola do campo de defesa. Uma alternativa de mais marcação é Clare Wheeler, de boas apresentações no Everton e que é uma meio campista com foco especialmente no fechamento de espaços.
Hayley Raso e Caitlin Foord encabeçam
a lista de atletas nacionais que buscam principalmente os lados do campo no
setor de ataque. Ambas apresentam grande vivência dentro da seleção e são
responsáveis por abrir espaços defensivos através de dribles e também acelerar
as jogadas para uma eventual finalização de fora da área ou se deslocar até a
linha de fundo para realizar cruzamentos.
Ainda que Foord não viva sua melhor
fase técnica no Arsenal e tenha sofrido uma lesão muscular no começo do ano,
ela costuma fazer a diferença para as Matildas.
Certamente ela é um dos grandes trunfos das donas da casa visando a Copa do
Mundo, seja atuando como ponta-esquerda ou atacante de movimentação. Já Hayley
Raso normalmente é escalada para o lado direito de ataque, e tem como lance
principal a jogada em direção ao fundo.
E vale a pena relembrar: o avanço frequente da lateral Ellie Carpenter torna o setor direito australiano ainda mais perigoso e imprevisível. Quem desponta como reposição imediata à Raso é Cortnee Vine, outra novidade do ciclo. Extremamente rápida e de boa contribuição ofensiva pela faixa direita do campo, ela é o principal motivo para que o 4-4-2 tenha sido utilizado com maior veemência desde o final de 2022.
Nessa formação, Caitlin Foord deixa
o setor esquerdo para atuar mais próxima de Sam Kerr no ataque, buscando
espaços fora da área como uma segunda atacante. Para o seu lugar, Hayley Raso é
deslocada e passa a ser a principal responsável por combinar jogadas com a
defensora Steph Catley no lado canhoto. Seja utilizando trio ou quarteto, o ataque é um setor
do campo onde a Austrália está muito bem servida.
Outras opções por ali foram Kyah
Simon, Remy Siemsen, Emily Gielnik e Larissa Crummer, que podem aparecer como
referência na área ou buscando jogo pelos lados do campo. De quebra, elas adicionam
uma alternativa interessante que é a aposta em jogadas aéreas e cruzamentos. Como Sam Kerr não é necessariamente uma atacante que fica a maior parte
do tempo dentro da área, ter uma companheira próxima de mais imposição física
pode fazer com que a capitã participe mais de combinações e tabelas longe da
área adversária.
Mesmo com um problema médico ocorrido já em 2023, Alanna Kennedy foi chamada é um dos nomes indispensáveis no conjunto australiano. Foto: NBC Sports |
De qualquer forma, essa insistência em lançamentos longos é o tipo de alternativa a ser maior explorada nos finais de partida, onde a Austrália precisará buscar gol(s). No restante do tempo, a tendência é a seleção de Tony Gustavsson preferir combinações através de bola trabalhada. Do quarteto acima, vale dizer que somente Kyah Simon disputará a Copa do Mundo. E essa foi uma escolha bastante questionável da comissão técnica, já que a jogadora do Tottenham ainda não atuou em 2023 por conta de uma lesão ligamentar no joelho sofrida em Outubro.
Uma característica importante das Matildas e que independe do esquema tático
montado pelo técnico sueco é a marcação já no campo rival. Assim, é comum ver
meio campistas e atacantes pressionando a partir da intermediária ofensiva e
não deixando a equipe adversária sair de seu campo de maneira confortável com a
posse de bola. Isso pode gerar problemas especialmente no confronto diante da
Nigéria, que conta com atletas de habilidade, inteligência e velocidade para
atacar esse espaço às costas da exposta dupla de zaga (provavelmente) formada
por Clare Polkinghorne e Alanna Kennedy.
Mas é um risco que deverá ser comum durante a Copa do Mundo. Caso as africanas ou qualquer outro
conjunto fuja desse cerco inicial proposto pela seleção da casa, encontrará espaço para contra-ataques. O gol sofrido no amistoso contra a Nova Zelândia
(ainda no ano passado) surgiu em um lançamento buscando a atacante Hannah
Wilkinson justamente nesse espaço entre zagueiras e também a goleira titular.
Vale a pena mencionar esse aspecto
especialmente por ser uma Copa do Mundo sediada na Austrália e que terá o
torcedor local apoiando e também pressionando as jogadoras em campo. Por isso,
é natural a responsabilidade de a seleção buscar uma imposição técnica e também
em matéria de postura nos confrontos – especialmente em relação àqueles
ocorridos já na fase de grupos. O ônus e o bônus de se jogar uma competição em casa.
Sam Kerr chega à Copa após mais uma grande temporada pelo Chelsea. É principalmente ela que faz os australianos sonharem com uma conquista dentro de casa. CommBank Matildas |
Destaque – Sam Kerr
Ela é a cereja do bolo em uma
equipe que conta com atletas experientes e que já atuam juntas dentro da
seleção em um período relativamente longo. Sam Kerr se consolidou como uma das
principais atacantes do mundo em clubes (principalmente nas passagens por Estados
Unidos e agora no Chelsea) e já é a maior goleadora da história de uma
Austrália que vivencia seu maior momento em todos os tempos.
Porém, apesar dessa importante
trajetória construída por Kerr, seu único título vencido com as Matildas, a Copa da Ásia, ocorreu no
longínquo ano de 2010. E com um detalhe que vale a pena ser citado: sem que a
artilheira tivesse uma real contribuição nele. Isso por que, apesar de já
frequentar a lista das mais promissoras atletas do campeonato, ela tinha tão
somente 16 anos e participou de apenas uma partida.
13 anos mais tarde, a agora capitã e
badalada Sam Kerr tem a chance de conseguir um resultado histórico com o seu
país – e dentro de casa, é sempre bom lembrar. Qualidade, ela e o conjunto
australiano possuem. Se o faro de gol da atacante estiver em dia durante o mês
da Copa do Mundo, a seleção pode sim sonhar com o título mundial. Sua mais
recente temporada pelo Chelsea anima bastante, já que a atleta de 29 anos marcou
30 gols em 38 aparições e ainda contribuiu com sete assistências.
Irlanda
Foto: Ryan Byrne (Inpho) |
Uma das seleções que fará sua estreia em Copas do Mundo neste ano de 2023, a Irlanda foi a grande surpresa dentre os países europeus classificados ao mundial. Isso porque a equipe não tem participações sequer em fase final de Eurocopa, o que mostra o tamanho do feito que foi conseguir uma das vagas do velho continente para a Copa. E não para por aí.
O conto de fadas teve um desfecho
ainda mais mágico pelo fato de o conjunto comandado por Vera Pauw levar a melhor
justamente no clássico regional diante da Escócia. No confronto direto
realizado em pleno Hampden Park (Glasgow), melhor para as irlandesas. Diga-se: em duelo
bastante disputado e que exigiu muita entrega e disciplina defensiva de Na Cailíní i Nglas (As Garotas de Verde).
Passada a euforia pela
classificação, é fato que a Irlanda terá uma chave bastante complicada pela
frente. Além da anfitriã Austrália, o atual campeão olímpico Canadá e a talentosa
Nigéria compõem o Grupo B. Todos eles possuem participações frequentes em grandes torneios internacionais e um histórico de alcançar fases decisivas.
Por conta disso, avançar à segunda
fase do mundial tem tudo para ser uma tarefa bastante complicada para a equipe
de Vera Pauw. Entretanto, existem motivos para acreditar. Em 2021, a Irlanda bateu
as australianas em confronto amistoso e ainda nesse ciclo arrancou um empate
diante da forte seleção da Suécia em pleno território nórdico numa partida
válida pelas eliminatórias para a Copa do Mundo. É possível sonhar.
Ranking da FIFA: 22º Lugar.
Participações Anteriores em Copas do Mundo: Não Possui.
Técnica: Vera Pauw (desde Setembro de 2019).
Por mais que haja contestação quanto ao estilo de jogo da Irlanda, é fato que Vera Pauw conseguiu tornar a equipe bastante competitiva à sua maneira. Foto: Inpho |
Convocação
Goleiras:
1-Courtney Brosnan (27 anos – 10/11/1995; Everton FC-ING), 16-Grace Moloney (30
anos – 01/04/1993; Reading FC-ING), 23-Megan Walsh (28 anos – 12/11/1994;
Brighton & Hove Albion-ING);
Alas:
3-Chloe Mustaki (27 anos – 29/07/1995; Bristol City-ING), 13-Áine O’Gorman (34
anos – 13/05/1989; Shamrock Rovers), 14-Heather Payne (23 anos – 20/01/2000;
Florida State Seminoles-EUA), 22-Izzy Atkinson (21 anos – 17/07/2001; West Ham
United-ING);
Zagueiras:
2-Claire O’Riordan (28 anos – 12/10/1994; Celtic FC-ESC), 4-Louise Quinn (33
anos – 17/06/1990; Birmingham City-ING), 5-Niamh Fahey (35 anos – 13/10/1987;
Liverpool FC-ING), 6-Megan Connolly (26 anos – 07/03/1997; Brighton & Hove
Albion-ING), 7-Diane Caldwell (34
anos – 11/09/1988; Reading FC-ING);
Volantes/Meio
Campistas: 8-Ruesha Littlejohn (33 anos – 03/07/1990; Aston Villa-ING),
10-Denise O’Sullivan (29 anos – 04/02/1994; North Carolina Courage-EUA), 12-Lily
Agg (29 anos – 17/12/1993; London City Lionesses-ING), 17-Sinead Farrelly (33
anos – 16/11/1989; NJ/NY Gotham FC-EUA), 21-Ciara Grant (30 anos – 11/06/1993;
Hearts-ESC);
Meias/Pontas:
11-Katie McCabe (27 anos – 21/09/1995; Arsenal FC-ING), 15-Lucy Quinn (29 anos
– 29/09/1993; Birmingham City-ING), 19-Abbie Larkin (18 anos – 27/04/2005;
Shamrock Rovers), 20-Marissa Sheva (26 anos – 22/04/1997; Washington
Spirit-EUA);
Atacantes:
9-Amber Barrett (27 anos – 10/01/1996; Turbine Potsdam-ALE), 18-Kyra Carusa (27
anos – 14/11/1995; London City Lionesses-ING).
Lista
de Suplentes: Sophie Whitehouse (GOL | 26 anos – 10/10/1996; Lewes FC),
Harriet Scott (AD | 30 anos – 10/02/1993; Birmingham City-ING), Jamie Finn
(AD/MD | 25 anos – 21/04/1998; Birmingham City-ING).
Ausências Notáveis: Aoife Mannion (ZAG – Manchester United-ING; lesão no joelho sofrida em Janeiro de 2023), Megan Campbell (AE – Liverpool FC-ING; vem sofrendo com problemas físicos), Ellen Molloy (MC/MA – Wexford Youths; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho sofrida em Setembro de 2022), Jessica Ziu (MD/AD – West Ham United-ING; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho sofrida em Outubro de 2022), Rianna Jarrett (AT – Wexford Youths; opção técnica – mas com um histórico de duas graves lesões no joelho direito), Tara O’Hanlon (AE –Peamount United; opção técnica), Niamh Farrelly (VOL/MC – Parma-ITA; opção técnica), Roma McLaughlin (VOL/MC – Fortuna Hjørring-DIN; opção técnica), Hayley Nolan (VOL/MC– London City Lionesses-ING; opção técnica), Leanne Kiernan (ME/AT – Liverpool FC-ING; opção técnica), Saoirse Noonan (AT – Durham-ING; opção técnica).
Time-Base:
Courtney Brosnan; Áine O’Gorman, Niamh Fahey, Louise Quinn, Megan Connolly, Izzy Atkinson; Heather Payne, Denise O’Sullivan, Sinead Farrelly, Katie McCabe ©; Amber Barrett.
O principal ponto da Irlanda parece ser mesmo sua linha defensiva. Não exatamente pelo que apresenta no aspecto individual, mas pelo equilíbrio que o setor proporciona para que as suas mais talentosas atletas façam a diferença do meio campo em diante. O consolidado esquema organizado por Vera Pauw com cinco defensoras posicionadas para proteger a própria meta dá uma solidez bastante interessante e possibilita que a linha formada por meio campistas tenha maior liberdade de auxílio a uma solitária atacante.
Katie McCabe é a referência principal
para encabeçar os lances em velocidade pelo lado canhoto. Aliás, é quase sempre
por ali e com ela que nascem os mais perigosos movimentos ofensivos da Irlanda,
como mostram seus sete gols marcados nas eliminatórias e os vários momentos
onde o setor esquerdo levou vantagem em duelos contra a linha defensiva
adversária.
Pelas arrancadas e também a
qualidade técnica, é McCabe a principal parceira da atleta escolhida para atuar
no centro do ataque. Heather Payne foi uma alternativa bastante utilizada nesse
5-4-1 montado para escapadas em velocidade assim que a Irlanda recupera a posse
de bola. A atacante leva perigo especialmente quando acionada às costas das
zagueiras rivais. O problema para a Irlanda é que ela não chega a ser uma
artilheira, já que até hoje tem somente um gol marcado pela seleção desde a sua
estreia em 2018.
A polivalente Heather Payne já foi ala, meia e atacante durante o ciclo. Sua função em campo ilustra a estratégia irlandesa para determinada partida. Foto: Laszlo Geczo (Inpho) |
Muito desse número baixo se dá pela utilização de Payne no esquema irlandês. Embora tenha assumido um posto no comando do ataque em anos recentes, ela era comumente ala-direita ou meia-direita. Nos últimos testes, com Vera Pauw buscando um time mais reforçado e que jogue com uma atacante de ofício, Payne acabaria retornando a esses papéis mais recuados. Quando ela atua mais avançada, a comissão técnica conta com alternativas de características distintas para o posto de ala e meia.
Uma delas é Áine O’Gorman, titular
no decisivo duelo diante da Escócia. Ela é muito mais uma atleta de velocidade
e entrega física para a ocupação de espaços do que realmente de imprevisibilidade
criativa no campo rival. Tanto que a polivalente capitã do local Shamrock
Rovers já foi utilizada como ala-direita durante esse atual ciclo e não
raramente é escalada no centro do ataque em seu clube.
O’Gorman é um dos nomes de maior
experiência pelo fato de estar no time principal há um bom tempo e ter
presenciado os momentos de baixa e também o de agora, que é o ápice do futebol
feminino irlandês. A presença da jogadora de 34 anos em campo proporciona um
estilo menos habilidoso ao apresentado pelas duas principais opções utilizadas
ao longo do ciclo. Uma delas seria Jessica Ziu, ponta de origem que tem como
característica principal partir pra cima das rivais através de dribles e
arrancadas.
Áine O'Gorman é uma das mais experientes jogadoras do conjunto nacional e também tem facilidade para atuar em diferentes posições. Foto: Stephen McCarthy (Sportsfile) |
Todavia, a jogadora do West Ham foi mais uma vítima das lesões ligamentares no joelho. Nesse caso, o problema ocorreu em Outubro, impossibilitando a presença dela até mesmo no jogo decisivo diante da Escócia. O ganho para 2023 é Marissa Sheva, atualmente no futebol dos Estados Unidos e que aceitou o processo de naturalização para defender a Irlanda no começo deste ano. Ela é quem mais se assemelha ao estilo de Ziu e se tornou uma opção interessante para Vera Pauw nas datas FIFA preparatórias à Copa do Mundo.
Já Lucy Quinn é uma atacante de
referência que foi utilizada durante boa parte do ciclo como meia-direita.
Trata-se de uma estratégia proposta pela comissão técnica irlandesa para que a
jogadora do Birmingham se adiante e apareça dentro da área para aproveitar
jogadas aéreas. Por ter boa força física, sua presença costuma incomodar a
defesa adversária.
Dessa forma, o lance se desenha
mais ou menos dessa forma: Katie McCabe recebe uma bola veloz pelo lado canhoto
e escolhe entre um passe em profundidade que aciona a única atacante às costas
da linha de defesa ou um cruzamento longo tendo Lucy Quinn como alvo. Nesse
caso, ela avança até a segunda trave e se aproveita do seu quase 1,70cm para no
mínimo duelar bem pela bola com a lateral ou a zagueira da equipe rival.
Amber Barrett marcou o gol da classificação irlandesa para a Copa do Mundo e chega em vantagem para a titularidade no comando de ataque após a boa atuação recente contra Zâmbia. Foto: Reuters |
Outro fator importante para ter Quinn em campo é o fato de ela comumente se sacrificar bastante pela equipe. Assim, a atleta oferece um trabalho de marcação e acompanhamento da rival até o próprio campo que é importantíssimo para quem baseia o seu jogo em reduzir espaços da outra seleção e apostar em jogadas de contra-ataque. Mesmo com essa boa variação de nomes e possibilidades de alternar o estilo do jogo ofensivo, porém, o ataque d’As Garotas de Verde deixa a desejar nos números.
Como dito anteriormente, Heather Payne não é exatamente uma artilheira. Tanto que terminou o
qualificatório europeu sem marcar um golzinho sequer. Aliás, a Irlanda
dificilmente conseguiu mais do que um gol por partida nos confrontos contra
seleções do velho continente. Foi somente nos resultados positivos diante da
Geórgia (9x0 e 11x0) e no decisivo e duro duelo contra a Finlândia (2x1) que as
irlandesas apresentaram um maior poder de fogo e balançaram as redes rivais mais
do que em uma oportunidade.
Não que seja errado montar o seu estilo
de jogo a partir de um setor bem montado desde trás. O problema é: se mantiver
essa média para a Copa do Mundo, o conjunto de Vera Pauw precisará de muita
eficiência defensiva e também um aproveitamento incrível nas chances de gol
geradas durante os confrontos para ter chance de pontuar e conseguir brigar
seriamente por uma histórica classificação às oitavas de final.
Denise O'Sullivan é a referência de um meio campo de ótima qualidade. Além do toque de bola, ela costuma se projetar muito bem ao campo ofensivo. Foto: Laszlo Geczo (Inpho) |
As opções mais utilizadas para o centro do ataque irlandês durante os últimos anos foram Amber Barrett e Kyra Carusa, que conseguiram balançar as redes adversárias durante a eliminatória. A primeira, aliás, decidiu o duelo decisivo contra a Escócia em Glasgow. A habilidosa Abbie Larkin e a artilheira Leanne Kiernan também se mostraram alternativas interessantes para esse posto pela mobilidade que dão ao setor, mas costumam ser utilizadas pelos lados do campo com Vera Pauw.
E é preciso destacar que Kiernan
sofreu séria lesão em Setembro, responsável por tira-la dos gramados até a
metade de Maio. Ainda que tenha jogado em torno de 30 minutos pelo Liverpool em
Maio e também o amistoso recente diante de Zâmbia, sua condição de jogo não era
considerada a ideal. Tanto que a atacante acabaria desfalcando a Irlanda na
convocação final, não fazendo parte sequer da lista de suplentes. Triste pelo potencial da atleta e pela forma como encaixaria tão bem no esquema nacional.
O centro do campo irlandês encontra
em Denise O’Sullivan uma jogadora inteligente e dotada de grande qualidade
com bola nos pés. Dessa forma, ela é a principal responsável por passes que exijam um
maior nível de exigência técnica. É geralmente através da criativa meio
campista do North Carolina Courage que se dá a saída de bola mais bem elaborada
e também algum lançamento longo buscando o setor mais forte do conjunto irlandês,
ocupado pela capitã McCabe no lado canhoto do gramado.
Além disso, é quase sempre O’Sullivan
quem se movimenta para ajudar o ataque, seja dando as caras na área adversária
como uma atacante a mais ou buscando um melhor posicionamento para rebotes nas
cercanias da meia-lua. Os seis gols que marcaram a campanha de classificação
para a Copa do Mundo enfatizam a força que a meio campista tem nesse tipo de
movimentação e também a importância no momento ofensivo irlandês.
Apesar dos 18 anos, Abbie Larkin vem agradando quando escalada na equipe principal. Sua qualidade técnica chama a atenção. Foto: RTE |
Aos 29 anos, a jogadora tem passagem por equipes de Escócia e Inglaterra antes de rumar aos Estados Unidos. E, ainda que apresente números discretos nos clubes, essa facilidade para chegar à frente contribui para que n’As Garotas de Verde a atleta tenha um total de 25 gols marcados. O 5-4-1 organizado por Vera Pauw normalmente tem em Denise O’Sullivan a figura da meio campista que mais se desprende ao campo de ataque.
Ruesha Littlejohn e Lily Agg foram
nomes frequentes para esse posto remanescente no centro do campo e
corresponderam em confrontos importantes das eliminatórias. Outro nome
confirmado na Copa é Ciara Grant, de boa experiência com a camiseta alviverde. A
grande novidade é Sinead Farrelly, convocada para a data FIFA de Abril após
oito anos de inatividade no futebol. A atleta de 33 chegou a defender seleções
de base dos Estados Unidos no passado, mas faria a sua estreia pela equipe
principal da Irlanda justamente contra as estadunidenses já em 2023.
Uma opção ao grupo era Ellen
Molloy, nome muito promissor no futebol local e que vinha se destacando
bastante no auxílio ao ataque em seleções de base. Porém, uma grave lesão
ligamentar no joelho sofrida em Setembro passado minou a possibilidade de a
jovem de 19 anos ser parte do elenco que vai disputar o mundial. Espera-se que
ela seja uma jogadora importante e de grande futuro, voltando a fazer parte dos
planos de Vera Pauw assim que se recuperar fisicamente.
E, ainda que não pareça ser a ideia
primeira da comissão técnica, o fato de ter um esquema tático com cinco
defensoras permite que a Irlanda atue com duas atletas centrais de boa retenção
de bola e chegada frequente à frente. E isso foi motivo de debate até mesmo na
imprensa irlandesa em meados de 2023. Uma crítica ferrenha surgiu da defensora
Karen Duggan, que não faz mais parte da equipe nacional. Em sua coluna no Irish Times, ela foi bem direta ao dizer
que a técnica deveria deixar de lado essa postura extremamente defensiva.
A ideia de Duggan dá a entender que
Vera Pauw deveria soltar a equipe e priorizar a escalação de jogadoras de maior
capacidade técnica, e não somente escolher determinados nomes pelo que esses
acrescentam em embates físicos. Se o texto publicado em Março alterou as
escolhas gerais da comissão técnica é difícil dizer, mas pelo menos para os
amistosos do mês seguinte o que se viu foi uma Irlanda um pouco mais ofensiva diante
dos Estados Unidos.
Se não com um time disposto a equilibrar a posse de bola e também as finalizações gerais das partidas, é certo que a seleção europeia foi escalada com uma atacante de ofício e contou também com atletas marcadas pela alta ofensividade nas funções de lado de campo. E, até pelo rendimento geral da equipe nos duelos contra as estadunidenses, espera-se que Vera Pauw tire boas percepções dessas duas partidas amistosas.
Uma dupla combinando Denise
O’Sullivan e Sinead Farrelly acrescentaria muito no aspecto técnico pelo centro
de campo, e essa última foi publicamente elogiada pela comissão técnica após
sua estreia pela seleção europeia. E esse bom nível apresentado pela volante do
Gotham FC dá margem para que a Irlanda possa substituir o 5-4-1 por um 5-3-2
com o passar da Copa do Mundo.
Courtney Brosnan seria eleita a Irlandesa do Ano de 2022 graças à regularidade e ao brilho que teve no confronto decisivo da eliminatória contra a Escócia. Foto: Tim Clayton |
Neste caso, O’Gorman e McCabe largam na frente para as alas enquanto O’Sullivan, Farrelly e Littlejohn/Agg surgem como favoritas para os postos centrais. Na frente, Pauw pode escolher entre uma jogadora de drible e mobilidade (Payne ou Larkin) e outra de maior força física ou apostar de vez em cruzamentos à área tendo Lucy Quinn, Kyra Carusa e Amber Barrett.
Vale reafirmar que a montagem da
defesa com cinco atletas dificilmente será modificada. Esse posicionamento fixo
do quinteto evita espaços pelos lados do gramado e também garante que a lenta
defesa não precise correr na direção do próprio gol após a perda da posse de
bola e um consequente contra-ataque montado pelo rival. Trata-se de uma jogada
muito explorada pelos três adversários deste Grupo B, que contam com pontas
velozes, habilidosas e com muito mais gingado corporal do que as zagueiras
irlandesas.
E, muito por conta dessa menor
exposição de suas defensoras, a equipe europeia vem se caracterizando pelo
baixo número de gols sofridos. Antes dos confrontos amistosos em Abril diante dos
Estados Unidos, o conjunto de Vera Pauw chegou a emendar oito jogos
consecutivos com a meta intacta. Courtney Brosnan é um nome incontestável para
esse sucesso irlandês, e correspondeu durante toda a eliminatória quando foi
exigida.
Principalmente no momento mais
importante dela: no clássico disputado contra a Escócia em pleno Hampden Park.
Na partida em questão, Brosnan defendeu uma cobrança de pênalti ainda no
primeiro tempo e foi uma das principais heroínas da classificação de seu país a
uma Copa do Mundo de futebol feminino. Pelos seus esforços, a goleira receberia
o prêmio de Atleta Irlandesa do Ano em 2022.
Além das já mencionadas Áine
O’Gorman e Heather Payne, Jamie Finn e Deborah-Anne De La Harpe foram nomes
utilizados na convocatória irlandesa para o posto de ala-direita. Finn acabaria na lista de suplentes, enquanto a última seria descartada. No setor
canhoto, Megan Campbell largava em vantagem para o posto de titularidade graças
à segurança, ao bom tempo de bola para lances aéreos e também aos arremessos
longos a partir da linha lateral. Porém, problemas físicos na reta final do
ciclo acabariam impedindo sua participação no mundial.
Melhor para Chloe Mustaki e Izzy Atkinson, jogadoras que podem muito bem suprir essa ausência. A primeira desponta como uma alternativa mais equilibrada e tem maior experiência no conjunto nacional, enquanto Atkinson atuou muitas vezes como ponta-esquerda na Escócia antes de rumar ao West Ham. Inclusive, seria ela a responsável pelo gol do título do Celtic na Copa Escocesa de 2022 em uma final dramática contra o Glasgow City.
A escolha pela jovem de 21 anos faz
com que esse lado ganhe muito em matéria de velocidade e boa capacidade
ofensiva, já que conta também com McCabe. Outra novata que chegou a ser
convocada para a parte final do ciclo e é uma aposta grande para o futuro
irlandês é Tara O’Hanlon, atleta de apenas 18 anos e que tem facilidade para
atuar como lateral-esquerda ou ala. Embora não faça parte do grupo que irá à
Oceania, ela desponta como um talento de futuro muito promissor.
O miolo da defesa contou com um
acréscimo importante para 2023: Aoife Mannion. Atualmente no Manchester United,
a atleta de 27 anos aceitou o convite da Federação Irlandesa para representar o
país e se destacou no duelo contra a China por ser uma liderança técnica e
anímica no setor defensivo. Entretanto, um problema no joelho a tiraria da
última data FIFA e também do mundial. Trata-se, sem dúvida, de uma perda significativa. Apesar de ser uma adição recente ao conjunto nacional, o encaixe de Mannion foi imediato.
De intocável, restou Louise Quinn, referência nacional no aspecto físico e que fez eliminatória bastante segura. Megan Connolly (também volante), Claire O’Riordan, Diane Caldwell e Niamh Fahey brigam pelas vagas restantes, com Connolly e Fahey parecendo estar à frente no momento. Além de organização e empenho, o sexteto defensivo irlandês precisará também de muita concentração diante de ao menos dois times do Grupo B que deverão ter maior posse de bola durante grande parte dos 90 minutos.
McCabe é a maior esperança irlandesa para o mundial. Destaque do Arsenal, ela faria também uma ótima eliminatória com a seleção alviverde. Foto: Brian Lawless (PA) |
Destaque – Katie McCabe
Nesse esquema intencionalmente
montado para povoar o espaço em linhas de defesa e meio campo e buscar
contra-ataques, McCabe torna-se essencial nessas rápidas movimentações ao campo
rival. A atleta do Arsenal já realizou todo tipo de tarefa pelo lado canhoto do
campo em seu período no clube, sendo ala e também lateral quando necessário.
No combinado europeu, até pelo
nível técnico diferenciado que possui quando comparada às companheiras de
posição, Katie McCabe ganha uma liberdade maior para avançar até os arredores
da área rival. Não soa exagerado dizer que o esquema tático é organizado justamente
para favorecer aquela que é o grande nome do time. Dessa forma, é comum ver a
meia-esquerda livre de qualquer exigência defensiva em determinados cenários.
Nessa variação que acontece
momentaneamente dentro dos confrontos, nota-se um 5-3-2 onde a valente jogadora
do Arsenal atua praticamente como uma companheira da solitária atacante na
linha de frente d’As Garotas de Verde.
Se o conjunto europeu quiser continuar sua jornada de estreia em mundiais
femininos além das três partidas protocolares da fase de grupos, vai precisar de
Katie McCabe (que foi a artilheira irlandesa nas eliminatórias e é a capitã
nacional) em sua mais completa forma.
Nigéria
Foto: AFP |
Sempre uma força do futebol feminino africano, a Nigéria chega ao mundial após um ciclo não tão animador. Muitas dúvidas ficaram no ar após uma campanha muito problemática na Copa Africana de Nações – competição que serviu também como eliminatória do continente à Copa do Mundo. O problema médico que tirou a estrela Asisat Oshoala logo na rodada inaugural do torneio ajudou a dificultar as coisas, é lógico.
Todavia, o nível das atuações ficou
muito aquém do esperado. É evidente que o elenco nigeriano pode apresentar muito mais
pelos nomes que tem à disposição. Para piorar o cenário, a seleção africana
emendou uma grande sequência negativa de resultados no período do final de 2022
e começo de 2023. Foram cinco derrotas seguidas e atuações que mostravam mais
problemas do que realmente evoluções.
A Nigéria voltaria a vencer em
Fevereiro, quando superou a Costa Rica. Dois meses mais tarde, emendaria
resultados positivos também contra Haiti e Nova Zelândia. O que se espera é que
o bom momento seja mantido para a Copa do Mundo, quando a equipe africana terá
pela frente três adversários duros. Levando-se em consideração os duelos mais
pesados que teve na Copa das Nações Africanas, as nigerianas venceram somente
Camarões.
Contra África do Sul, Zâmbia e o
dono da casa Marrocos, o conjunto do bastante contestado Randy Waldrum
sucumbiu. As derrotas acabariam deixando a equipe em quarto lugar na classificação
final, repetindo o pior resultado da seleção na história do torneio (ocorrido no
ano de 2012). Essa irregularidade nos atrapalha no momento de pensar até onde a
equipe pode ir. Qualidade existe, em especial no ataque.
Ranking da FIFA: 40º Lugar.
Participações Anteriores em Copas do Mundo: 8/8 (1991, 1995, 1999,
2003, 2007, 2011, 2015, 2019).
Melhor Campanha: Quartas de Final (1999).
Técnico: Randy Waldrum (desde Outubro de 2020).
Convocação
Goleiras: 1-Tochukwu Oluehi (36 anos – 02/05/1987; Hakkarigücü Spor-TUR), 16-Chiamaka Nnadozie (22 anos – 08/12/2000; Paris FC-FRA), 23-Yetunde Balogun (33 anos – 28/09/1989; Saint-Étienne-FRA);
Laterais: 2-Ashleigh Plumptre (25 anos – 08/05/1998; Leicester City-ING), 7-Toni Payne (28 anos – 22/04/1995; Sevilla FC-ESP), 20-Rofiat Imuran (19 anos – 17/06/2004; Stade de Reims-FRA), 22-Michelle Alozie (26 anos – 28/04/1997; Houston Dash-EUA);
Zagueiras: 3-Osinachi Ohale (31 anos – 21/12/1991; Deportivo Alavés-ESP), 4-Glory Ogbonna (24 anos – 25/12/1998; Beşiktaş JK-TUR), 5-Onome Ebi (40 anos – 08/05/1983; Abia Angels), 14-Oluwatosin Demehin (21 anos – 13/03/2002; Stade de Reims-FRA);
Volantes/Meio Campistas: 10-Christy Ucheibe (22 anos – 25/12/2000; SL Benfica-POR), 13-Deborah Abiodun (19 anos – 02/11/2003; Rivers Angels), 18-Halimatu Ayinde (28 anos – 16/05/1995; Rosengård-SUE), 19-Jennifer Onyi Echegini (22 anos – 22/03/2001; Florida State Seminoles-EUA);
Pontas: 11-Gift Monday (21 anos – 09/12/2001; Granadilla Tenerife-ESP), 12-Uchenna Kanu (26 anos – 20/06/1997; Racing Louisville-EUA), 15-Rasheedat Ajibade (23 anos – 08/12/1999; Atlético de Madrid-ESP), 17-Francisca Ordega (29 anos – 19/10/1993; CSKA Moscou-RUS);
Atacantes: 6-Ifeoma Onumonu (29 anos – 25/02/1994; NJ/NY Gotham-EUA), 8-Asisat Oshoala (28 anos – 09/10/1994; Barcelona FC-ESP), 9-Desire Oparanozie (29 anos – 17/12/1993; Wuhan Jiangda-CHN), 21-Esther Okoronkwo (26 anos – 27/03/1997; Saint-Étienne-FRA).
Lista de Suplentes: Não Divulgada.
Ausências Notáveis: Nicole Payne (LE – West Virginia Mountaineers-EUA; opção técnica), Akudo Ogbonna (ZAG – Rivers Angels; opção técnica), Peace Efih (MC – SC Braga-POR; opção técnica), Ngozi Okobi (MC – Levante Las Planas-ESP; opção técnica), Rita Chikwelu (MC – Levante Las Planas-ESP; opção técnica), Vivian Ikechukwu (PD – Besiktas JK-TUR; opção técnica), Chinwendu Ihezuo (AT/PE – Monterrey-MEX; opção técnica), Anam Imo (AT - Piteå IF-SUE; opção técnica).
Time-Base:
Chiamaka Nnadozie; Michelle Alozie, Osinachi Ohale, Onome Ebi ©,
Ashleigh Plumptre; Christy Ucheibe, Halimatu Ayinde, Jennifer Onyi Echegini;
Rasheedat Ajibade, Asisat Oshoala, Francisca Ordega.
Os testes que ocorreram em diferentes momentos do ciclo mostraram que a Nigéria possui um time titular interessante e com alternativas de alto nível para determinadas funções do campo. O que parece faltar mesmo é ajuste, já que em muitos momentos a equipe apresenta falhas de posicionamento e permite generosos espaços para os rivais. De quebra, a falta de intensidade nos momentos sem a bola também é algo que precisa ser corrigido para a Copa do Mundo.
No mais, as africanas parecem estar
bem servidas. Suas defensoras centrais contam com bastante experiência em torneios
internacionais e ainda são capazes de transmitir segurança num nível. Já o
setor de meio campo pode muito bem realizar um eficiente trabalho na marcação
além de demonstrar qualidade em transições e também nos passes curtos e longos.
Por consequência, esse bem abastecido ataque tende a marcar gols e
desequilibrar partidas.
As alternativas para compor esse setor de frente são inúmeras, e com a maior parte delas acrescentando diversos estilos de jogo também. Aliás, tanta qualidade no ataque faz com que um trio muitas vezes se transforme em quarteto. Mas isso é algo que veremos mais adiante. Vamos por partes. Chiamaka Nnadozie está afirmada como a goleira titular da Nigéria para a Copa do Mundo. Desde o ciclo passado a atleta já chamava a atenção pela tranquilidade e também a eficiência apresentada debaixo das traves. O tempo e uma maior sequência de partidas ajudariam nessa tarefa, e Nnadozie passou a apresentar um evidente crescimento em fundamentos específicos do jogo.
De boas atuações no mundial de 2019, Chiamaka Nnadozie chega ainda mais consolidada na meta nigeriana para esta Copa do Mundo. Foto: Soccrates Images |
A jovem de 22 anos se afirmou definitivamente na meta nigeriana após a participação de destaque que teve na mais recente Copa das Nações Africanas. Mesmo com toda a equipe sofrendo com irregularidade, a goleira conseguiu manter seu excelente nível. O futuro parece lhe reservar um tempo bastante duradouro dentro da seleção africana.
Vale a pena relembrar que foi Chiamaka Nnadozie a arqueira titular em três das quatro partidas disputadas pelo seu país no mundial de quatro anos atrás. Lá, e então com apenas 18 anos de idade, ela seria uma das principais responsáveis por guiar a Nigéria à segunda fase de uma Copa pela primeira vez neste século. Atualmente no Paris FC, a goleira tem longa passagem pelas seleções de base do seu país, tendo disputado mundiais Sub-17 e também Sub-20 nos anos de 2016 e 2018.
Agora, ela entra na Copa do Mundo como um dos nomes indiscutíveis na equipe de Randy Waldrum. Se a meta nigeriana é defendida por uma jovem, o centro da zaga é um dos mais experientes de toda a competição. Osinachi Ohale e Onome Ebi atuam juntas em mundiais desde a edição de 2011, e trazem na bagagem uma rodagem muito importante em torneios dessa relevância. A polivalente Ohale já foi lateral em ciclos passados, mas hoje parece confortável neste papel de zagueira.
Osinachi Ohale continua sendo uma peça importante no setor defensivo da Nigéria, ainda que agora atue em outra posição. Foto: FIFA |
De quebra, ela ainda mostra qualidade no momento de sair do campo defensivo através de passes curtos. A capitã Onome Ebi tem 40 anos de idade e chega à sua sexta Copa, uma verdadeira façanha. Entretanto, vale a pena ficar de olho na situação física da defensora africana, visto que sua passagem no futebol da Espanha não lhe rendeu muitos momentos em campo. Nos últimos meses, o que se viu foi Ebi realizando trabalhos por conta própria, buscando se manter em forma.
Lances em velocidade costumam
complicar a já experiente zaga nigeriana, mas ambas costumam compensar essa
fraqueza ao prevalecer em movimentos de antecipação e também de posicionamento.
Quem ganhou um posto na equipe nacional após se destacar em torneios de base
foi Oluwatosin Demehin, de 21 anos e membro de um time Sub-20 que realizou ótima campanha no mundial da categoria realizado no ano passado.
Hoje, ela parece estar em vantagem
na briga contra Ashleigh Plumptre e Glory Ogbonna, outras opções para o centro
da defesa nigeriana. Mas elas ainda podem atuar juntas. Isso porque essa dupla é comumente utilizada para a função na lateral-esquerda também. A escalação de uma delas por ali serve também para aumentar o
poderio aéreo da seleção africana, já que a dupla costuma se sobressair nesse
ponto.
Onome Ebi fará história ao disputar a sua sexta Copa do Mundo. Ao lado de Ohale, ela forma uma dupla de zaga de bastante experiência em competições internacionais. Foto: The Guardian |
Outro detalhe: por serem zagueiras de origem, Ogbonna e Plumptre têm por característica aparecer com menos frequência no campo de ataque. Isso dá margem para que a comissão técnica utilize uma jogadora mais ofensiva pelo lado oposto. Toni Payne, uma ponta-direita nata, é a alternativa principal para soltar a equipe de vez. Mas é comum que Michelle Alozie, de maior cuidado defensivo, também apareça por ali.
Destaque nos últimos anos e
novidade para o ciclo atual, normalmente é Tony Payne (atleta do Sevilla) a escolhida para
ir a campo quando Randy Waldrum opta por soltar de vez pelo menos uma lateral
com boa frequência à intermediária de ataque. O curioso é que a irmã dela,
Nicole Payne, também fez parte de convocações das nigerianas em tempos recentes.
Entretanto, essa última não seria convocada para a Copa do Mundo.
Nicole foi usada na
lateral-esquerda, algo que ocorreu também com a novata Rofiat Imuran, mais uma
que chamou a atenção pelo desempenho no Mundial Sub-20 do ano passado. Inclusive,
a defensora do Stade de Reims e companheira de Demehin na equipe de base nacional e também no conjunto francês venceria a batalha pelo lugar remanescente na
lista final de Waldrum.
Voltando ao setor direito, vale ressaltar a qualidade de Michelle Alozie, grande novidade para o presente ciclo. No caso, ela é uma alternativa que mantém a ofensividade e as características de Toni Payne, já que é comum vê-la atuando mais avançada no estadunidense Houston Dash. Vale dizer que tanto Alozie quanto as irmãs Payne nasceram no país do continente americano, mas optaram por defender as Super Falcons com o desenrolar da carreira.
Esperava-se que centro do campo fosse
o posto responsável por manter uma boa base de ciclos anteriores, mas alguns
cortes na lista final chamaram a atenção. A começar pelo da habilidosa Rita Chikwelu,
importante para qualificar a saída de bola à frente como uma volante pelo lado
esquerdo. Porém, sua falta de sequência de jogo no Levante Las Planas
certamente foi um fator importante para a decisão da comissão técnica.
Outras ausências importantes foram
as de Ngozi Okobi e Peace Efih. A primeira já vinha perdendo o posto de titular
e era cada vez mais frequente uma opção no banco de reservas, mas se esperava
que a meio campista de 29 anos estivesse no grupo principalmente pela
experiência adquirida em torneios de maior relevância internacional nos últimos
anos e a importância que teve em diferentes momentos do ciclo passado.
Independentemente de ser utilizada como lateral ou ponta, certo é que Toni Payne costuma dar muito trabalho quando acionada pela faixa direita do campo. Foto: Goal |
Idade diferente e problema semelhante para Peace Efih, que não conseguiu se firmar no SC Braga. Sua ausência será sentida especialmente pelo que a jogadora era capaz de transmitir ao time em matéria de qualidade técnica. Ela não chamava a atenção pelo número de gols marcados, mas dava um maior equilíbrio a um time que tem vocação para atacar (pelo menos se pensarmos nas características das atletas que vão a campo).
Dentre as remanescentes, Halimatu
Ayinde geralmente é a volante mais presa em frente à linha defensiva, cumprindo
as tarefas de proteger as zagueiras e coordenar os ataques da seleção quando
essa tem a posse de bola. Sua companheira tende a ser Christy Ucheibe, atleta
que passou a ganhar minutos importantes nos últimos anos e surge como titular
indiscutível após as ausências mencionadas acima e pelo que vem apresentando no
Benfica.
Uma alternativa interessante que
deu as caras na virada de 2022 para 2023 foi Jennifer Onyi Echegini. De apenas 21 anos,
a meio campista foi bem no campeonato universitário dos Estados Unidos aos
poucos foi conquistando seu espaço no meio campo nigeriano. Ainda que ela
pareça ter mais a característica de uma camisa 10, Echegini já foi escalada
mais atrás e tende a não sofrer tanto com um possível ajuste tático.
Rasheedat Ajibade surgiu como atacante, mas foi se acostumando a exercer novas funções e se transformou em uma jogadora capaz de ajudar bastante quando escalada no meio campo. Foto: Molatsportgist |
O ponto aqui é que nenhuma dessas é realmente uma jogadora de transição, o que na teoria favorece uma forma de jogo baseada na troca paciente de passes nesse setor de meio campo. Inclusive Deborah Abiodun, que foi a grata surpresa na lista final. O nome que rompe com esse estilo mais cadenciado é Rasheedat Ajibade. Se ela é utilizada em uma zona mais central, as africanas praticamente abandonam o 4-3-3 e passam a atuar num 4-2-3-1.
Seu toque refinado para esse posto
de criação e a inteligência para criar e gerar espaços costumam fazer a
diferença quando ela recebe maior liberdade para aparecer da intermediária
ofensiva em diante. Mas não é só isso. Ajibade é bastante versátil e rende
muito bem também quando atua numa linha mais ofensiva, sendo parte do trio de
ataque. Quando isso ocorre, ela normalmente ocupa a faixa direita do gramado,
atuando como meia/ponta.
O fato de a Nigéria conseguir trocar de esquema tático sem necessariamente alterar os nomes, aliás, passa muito pela jogadora do Atlético de Madrid. Sem contar que a sua escalação mais centralizada ajuda a resolver um “problema” que a seleção tem: o excesso de boas atacantes. Dessa forma, Ajibade é parte importante de um quarteto que é capaz de assombrar qualquer adversário do Grupo B. Sem contar que, dependendo das parceiras postas em campo, a jogadora pode tranquilamente buscar algum lance específico pelos lados do campo e transformar esse 4-2-3-1 num 4-4-2 com duas meias-laterais bastante abertas e ainda duas atacantes. Ou seja: praticamente um 4-2-4.
Desire Oparanozie continua sendo uma opção bastante interessante ao forte setor de ataque nigeriano. Foto: GoalBall |
Mesmo no período onde a Nigéria não contou com uma atleta completa e com facilidade para jogar em qualquer posto ofensivo como Asisat Oshoala, a comissão técnica não pôde reclamar de falta de opções para compor o seu trio de frente. Francisca Ordega, Chinwendu Ihezuo, Gift Monday, Esther Okoronkwo, Desire Oparanozie, Ifeoma Onumonu e Uchenna Kanu são atletas de muito bom nível e capazes de desequilibrar confrontos. E, dessas todas, somente Ihezuo não estará na Copa.
Outro detalhe que corrobora para a
boa expectativa criada em relação ao setor de frente das Super Falcons é que um bom número dessas jogadoras se notabiliza
por diferentes características. Isso naturalmente acrescenta um estilo
diferente ao ataque nigeriano. Dependendo da formação escolhida por Randy
Waldrum, a equipe alterna movimentações, esquemas e também formas de buscar
vantagem nos lances diante das defensoras adversárias.
Durante os últimos anos, o que se
viu foi uma variação bem grande. Oparanozie, Oshoala e Ordega foram titulares
em 2019, mas hoje é difícil bancar que o trio seja mantido na equipe de maneira
intocável. A craque do Barcelona é uma escolha óbvia, mas as suas companheiras
tendem a variar com o decorrer da Copa. Essa rotação de jogadoras evita o
esgotamento físico e faz com que a Nigéria seja forte em todos os momentos do
jogo e em todas as partidas do Grupo B.
Seus muitos gols no futebol mexicano transformaram Uchenna Kanu em uma opção das mais interessantes para o setor de ataque nigeriano no atual ciclo. Foto: Twitter (@UcheOfficial_) |
Se bem estruturada atrás e com pelo menos duas atletas desse trio ou quarteto realizando um bem organizado trabalho de recomposição quando necessário, trata-se de um time candidato a avançar. Indiscutivelmente, as Super Falcons são o conjunto africano com o maior número de boas opções para esse setor ofensivo.
O maior problema vem sendo encontrar
um meio termo entre investir fortemente naquele que é o ponto mais forte da
equipe sem jogar toda a criação no talento individual das suas atacantes. Isso
por não conseguir apresentar um jeito mínimo de atacar e não insistir em lances
mais elaborados, com auxilio de meio campistas. Esse é o ponto onde mais se
contesta o trabalho da atual comissão técnica.
O que se notou especialmente no
período de resultados ruins e na Copa das Nações Africanas foi uma dependência
enorme de um lampejo gerado por qualquer atleta do setor de frente para que a
equipe conseguisse criar algo. E, apesar do ingresso de novas jogadoras no meio
campo, o cenário não sofria grandes alterações naquele momento.
Francisca Ordega vai para o seu quarto mundial. Embora não seja nome garantido no time titular, ela apresenta qualidades de drible e velocidade que podem fazer a diferença. Foto: Omar Vega |
A Nigéria dependeu demais das suas individualidades para alcançar a classificação ao mundial, algo que deveria ter acontecido com apresentações mais convincentes. Não é errado dar todo o poder de decisão a quem tem mais capacidade de desequilibrar confrontos, outras seleções na Copa fazem isso. O problema é não apresentar nenhuma variação minimamente eficiente como alternativa.
O fato de ter tantas atletas em
condições de decidir fez com que em vários momentos do ciclo a Nigéria
desistisse de construir seus lances com maior paciência e optasse por um
lançamento longo, praticamente se livrando da bola. Em alguns momentos até
funcionou, visto a qualidade que as atletas do ataque possuem em matéria de
inteligência, movimentação e explosão física.
Entretanto, o meio campo é habilidoso
o suficiente para participar mais e melhor da criação de jogo. Ao mesmo tempo, o
time de Waldrum se apresenta pouco agressivo ao rival quando esse tem a posse
de bola. Dessa forma, o adversário frequentemente se sente à vontade para tocar
a bola sem ser realmente incomodado e vai aos poucos ganhando espaço no campo defensivo
das nigerianas.
Uma maior pressão na região central
do campo, coisa que pode acontecer com esse rejuvenescimento maior das atletas
do setor, certamente facilitaria o trabalho das experientes zagueiras (que já
não se veriam tão expostas assim) e também serviria para a equipe construir lances
de contra-ataques ao roubar a bola mais longe da própria área. Esses ajustes
tornariam a Nigéria uma seleção com ainda mais poderio. Pelo que vem apresentando, ela parece somente brigar
com as irlandesas pelo posto de terceira força do grupo. E só.
Longe das lesões, Asisat Oshoala é uma das melhores jogadoras do mundo. Com ela bem fisicamente, é possível ver a Nigéria brigando por uma vaga na segunda fase. Foto: Sports News Africa |
Destaque – Asisat Oshoala
A estrela do Barcelona é a cereja
do bolo em um conjunto individualmente interessante e que tem um setor ofensivo
recheado de excelentes opções. Os problemas médicos a atrapalharam nos últimos
tempos, mas ela segue sendo a principal referência da Nigéria e chega novamente
a uma Copa do Mundo como uma das principais jogadoras da competição.
E vale destacar que em muitos
momentos a craque literalmente assume o posto de referência, já que Oshoala aos
poucos passou de uma atleta de lado de campo para assumir um papel mais solto
no comando de ataque africano. Óbvio que com a frequente movimentação que tão
bem a destaca no time catalão, mas sem qualquer incumbência de marcação.
Sua capacidade de drible, a
inteligência para atacar os espaços deixados por defensoras e a velocidade para
vencer jogadas diante de marcações adversárias a torna uma das mais perigosas
atacantes do futebol mundial. Em sua vitoriosa carreira profissional (tanto em
resultados obtidos por seus clubes quanto em marcas individuais), a chave
dourada seria uma campanha de grande destaque em Copas do Mundo.
Canadá
Foto: Andre Penner (AP Photo) |
O Canadá chega à Copa do Mundo com uma responsabilidade ainda maior após vencer o ouro olímpico em Tóquio. Em solo japonês, um time extremamente organizado correspondeu e fez com o que o futebol do país alcançasse o maior momento de toda a sua história. A meta agora é emendar uma boa sequência em competições internacionais e superar a campanha de 2015, quando a seleção nacional parou nas quartas de final em torneio realizado em solo canadense.
O maior problema a ser solucionado durante
o ciclo aconteceu fora dos gramados, visto que o grupo ameaçou até mesmo não disputar
um torneio internacional no começo deste ano por desacordos com a Canada Soccer Association quanto às
condições financeiras e estruturais oferecidas. No final de Junho, a CSA esteve
perto de declarar falência após descobrir que esses cortes em gastos com as
equipes nacionais não tinham sido suficientes para melhorar o caixa. Tudo isso
após o futebol alcançar seu auge no país, já que o conjunto feminino é o atual
campeão olímpico enquanto o masculino vem de participação em Copa após 36 anos.
Dentro das quatro linhas, a seleção
segue sendo guiada por Christine Sinclair, a maior artilheira da história do
futebol feminino internacional e atleta símbolo deste crescimento canadense no
Século XXI. Esta edição da Copa do Mundo deve ser a última página de sua
vitoriosa carreira, e é lógico que todos esperam uma participação digna dela e
também da sua seleção.
O restante do plantel, todavia, é forte
e maduro, já tendo demonstrado qualidades mesmo sem sua capitã em campo. O Grupo
B não é nada simples e vai exigir diferentes comportamentos do conjunto
comandado por Bev Priestman ao longo dos três duelos, mas é inegável que o
Canadá aparece como um favorito a avançar até a fase final, fazendo companhia à
anfitriã Austrália.
Ranking da FIFA: 7º Lugar.
Participações Anteriores em Copas do Mundo: 7/8 (1995, 1999, 2003,
2007, 2011, 2015, 2019).
Melhor Campanha: Quartas de Final (2015).
Técnica: Bev Priestman (desde Outubro de 2020).
Convocação
Goleiras:
1-Kailen Sheridan (28 anos – 16/07/1995; San Diego Wave-EUA), 18-Sabrina
D’Angelo (30 anos – 11/05/1993; Arsenal FC-ING), 22-Lysianne Proulx (24 anos –
17/04/1999; Torreense-POR);
Laterais:
2-Allysha Chapman (34 anos – 25/01/1989; Houston Dash-EUA), 8-Jayde Riviere (22
anos – 22/01/2001; Manchester United-ING), 10-Ashley Lawrence (28 anos – 11/06/1995;
Paris Saint-Germain-FRA), 16-Gabby Carle (24 anos – 12/10/1998; Washington
Spirit-EUA);
Zagueiras:
3-Kadeisha Buchanan (27 anos – 05/11/1995; Chelsea FC-ING), 4-Shelina Zadorsky
(30 anos – 24/10/1992; Tottenham Hotspur-ING), 14-Vanessa Gilles (29 anos –
11/08/1993; Lyon-FRA);
Volantes/Meio
Campistas: 5-Quinn (27 anos – 11/08/1995; OL Reign-EUA), 7-Julia Grosso
(22 anos – 29/08/2000; Juventus FC-ITA), 13-Sophie Schmidt (35 anos –
28/06/1998; Houston Dash-EUA), 17-Jessie Fleming (25 anos – 11/03/1998; Chelsea
FC-ING), 21-Simi Awujo (19 anos – 23/09/2003; USC Trojans-EUA);
Armadoras:
12-Christine Sinclair (40 anos – 12/06/1983; Portland Thorns-EUA), 23-Olivia
Smith (18 anos – 05/08/2004; Penn State Nittany Lions-EUA);
Meias/Pontas:
6-Deanne Rose (24 anos – 03/03/1999; Reading FC-ING), 15-Nichelle Prince (28
anos – 19/02/1995; Houston Dash-EUA), 19-Adriana Leon (30 anos – 02/10/1992;
Portland Thorns-EUA);
Atacantes:
9-Jordyn Huitema (22 anos – 08/05/2001; OL Reign-EUA), 11-Evelyne Viens (26
anos – 06/02/1997; Kristianstads DFF-SUE), 20-Cloé Lacasse (30 anos – 07/07/1993;
Arsenal FC).
Lista
de Suplentes: Não Divulgada.
Ausências Notáveis: Desiree Scott (VOL – Kansas City Current-EUA;
não se recuperou a tempo de uma lesão no joelho sofrida em Dezembro de 2022), Janine
Beckie (MD/ME – Portland Thorns-EUA; lesão no ligamento cruzado anterior do
joelho direito sofrida em Março de 2023), Jade Rose (ZAG/LD – Harvard
Crimson-EUA; lesão não divulgada sofrida em Julho de 2023), Bianca St. Georges
(LD – Chicago Red Stars-EUA; opção técnica), Marie Levasseur (LE – FC Fleury
91-FRA; opção técnica), Victoria Pickett (MC - North Carolina Courage-EUA;
opção técnica); Jenna Hellstrom (ME/MD/AT - Dijon FCO-FRA; opção técnica), Marie-Yasmine
Alidou (MA – SL Benfica-POR; opção técnica), Clarissa Larisey (AT – BK Häcken
FF-SUE; opção técnica).
Time-Base:
Kailen Sheridan; Jayde Riviere, Kadeisha Buchanan, Vanessa Gilles,
Allysha Chapman; Jessie Fleming, Julia Grosso; Ashley Lawrence, Christine
Sinclair ©, Nichelle Prince; Jordyn Huitema.
O Canadá conta com um plantel bastante interessante e também com atletas capazes de atuar em diferentes funções do campo. Por conta disso, muito provavelmente o conjunto titular terá mudanças a cada partida. Até mesmo no esquema tático, que costuma variar entre 4-3-3 e 4-2-3-1 dependendo das atletas que estão em campo e do que o rival oferece como ponto forte no campo de ataque e também no aspecto da marcação.
Certo é que as canadenses costumam
utilizar bastante as suas laterais no apoio. Especialmente Ashley Lawrence,
importantíssima na vitoriosa campanha olímpica e que parece aumentar seu nível
ano após ano também pelo que apresenta no Paris Saint-Germain. De quebra, ela é
símbolo dessa virtude canadense de poder executar diferentes funções em campo,
já que pode aparecer em qualquer um dos lados com a mesma eficiência e
qualidade.
Durante a SheBelieves Cup e também
em outros momentos do ciclo, Lawrence, inclusive, chegou a ser escalada até
mesmo em uma linha de meio campo. Especialmente em momentos onde o Canadá não contou com lesionadas atletas que costumam atuar mais à frente. Isso valoriza sua alta qualidade no momento
ofensivo e ainda diminui a necessidade de ela fechar a linha de defesa após efetuar
um grande esforço físico na intermediária adversária. É óbvio que tamanho vai e
volta causa um maior desgaste à atleta.
Essa posição de lateral, aliás, é uma das que oferece mais alternativas de alta qualidade para a comissão técnica canadense. Jayde Riviere, Bianca St-Georges e as versáteis Marie Levasseur e Gabby Carle receberam oportunidades com Bev Priestman durante os últimos anos e brigaram até o final por posições na lista final. A primeira parece ser a atleta mais pronta para assumir o papel pelo setor direito, sendo presença constante no apoio e se assemelhando muito à Ashley Lawrence pelo fato de conseguir render também quando joga mais à frente.
A chegada dela ao Manchester United
no começo de 2023 serviu para dar uma bagagem ainda mais interessante à lateral,
agora em uma das Ligas referência no mundo. O problema é que sua estreia no
clube demorou a acontecer por conta de uma lesão sofrida ainda no mês de
Setembro. Plenamente recuperada, espera-se que Riviere ganhe bons minutos
nessa Copa do Mundo e seja parte, quem sabe, de um lado direito dos mais
interessantes caso vá a campo com Ashley Lawrence.
A lesão da outrora meia-direita
titular Janine Beckie pode contribuir para que a dupla acima dê as caras no
mundial com uma frequência maior do que se previa. Outro nome consolidado no
Canadá é o da experiente Allysha Chapman, que cumpre seu papel de lateral
especialmente no setor esquerdo. São boas opções para Bev variar as atletas em
campo sem perder qualidade e fôlego.
Kailen Sheridan foi o nome escolhido para assumir a posição na meta após a aposentadoria das experientes Stephanie Labbé e Erin McLeod. Seu rendimento mais recente no campeonato dos Estados Unidos e também as atuações muito seguras na SheBelieves Cup chamaram a atenção, e a credenciam a ser um nome de segurança na defesa canadense. Sua sombra para a função é Sabrina D’Angelo, mas a agora goleira reserva do Arsenal recebeu poucas chances no conjunto inglês e também na seleção em épocas recentes.
Mesmo assim, ela se mostrou
competente no momento em que foi exigida e não representaria uma queda de nível realmente grande em comparação à titular. No centro da defesa, duas jogadoras brigam por uma
vaga. Kadeisha Buchanan é a intocável, e o tempo tratou de confirmar todas as
expectativas que existiam sobre o seu potencial desde as aparições na Copa do
Mundo de 2015.
Vale relembrar: Buchanan recebeu o
prêmio de Melhor Atleta Jovem nesse campeonato de oito anos atrás. Hoje ela
defende o Chelsea, ainda que por muitos anos tenha formado uma das mais sólidas
duplas de defesa do futebol mundial ao lado de Wendie Renard no Lyon. E o
detalhe é que Buchanan acrescenta bastante à equipe quando tem a bola no pé.
Trata-se de uma zagueira de excelente recurso técnico para iniciar a saída ao
campo adversário através de passes curtos e longos.
Kadeisha Buchanan estreou em Copas na edição de 2015 já chamando a atenção. Oito anos mais tarde, ela continua sendo uma referência importante no centro da zaga canadense. Foto: Goal |
Shelina Zadorsky e Vanessa Gilles disputam o posto remanescente na zaga do Canadá. No atual momento, a defensora do Lyon parece ser a favorita para pelo menos iniciar a Copa do Mundo como companheira de Buchanan. O que adiciona pontos importantes a Gilles junto à comissão técnica foi o ótimo rendimento apresentado na reta final da última Olimpíada, quando a atleta foi alçada ao posto de titular nos confrontos mais pesados e correspondeu.
Mas, vale destacar que Zadorsky
sempre deu conta do recado quando necessário e vem de exibições consistentes no
Tottenham. Além disso, a defensora de 30 anos é uma das principais lideranças
do conjunto londrino e também da equipe nacional do Canadá. Uma alternativa das mais interessantes seria Jade Rose, de
grandes exibições pelos times de base do país, de muito bom potencial
e que vem recebendo oportunidades com a comissão técnica desde 2021.
Ela seria uma alternativa também
para o posto de lateral-direita, ainda que apresente uma característica
distinta se comparada à grande parte das convocadas que atuam na função. Isso
pelo fato de acrescentar qualidade em matéria de solidez defensiva e marcação,
e não por contribuir com dribles e lances em velocidade no campo ofensivo. Jade
Rose foi titular em dois duelos de peso na última SheBelieves Cup e parece ter
agradado Bev Priestman. O problema foi a lesão sofrida em Julho, às vésperas do
mundial. Ela acabaria cortada da relação final.
Dona de uma canhota habilidosa, Julia Grosso é uma alternativa das mais interessantes para cenários onde o Canadá é protagonista e tem maior tempo de posse de bola. Foto: Canada Soccer |
O centro do campo foi um ponto vital para o Canadá durante toda a última década, e desta vez não é diferente. O fato de utilizar a capitã Christine Sinclair como armadora ou atacante móvel faz com que a equipe em muitos momentos vá a campo com duas volantes caracterizadas pela boa marcação. Quinn e Desiree Scott surgiam como naturais candidatas a esse posto em frente à própria área, mas Scott (de 35 anos) não se recuperou a tempo de um problema no joelho sofrido na reta final do ano passado.
Em confrontos mais equilibrados e
que exigissem uma maior intensidade na região central do campo, elas poderiam
até mesmo formar uma dupla. As habilidosas Julia Grosso e Simi Awujo e a
experiente Sophie Schmidt cumprem esse papel também, mas com maior qualidade nas
subidas à intermediária adversária e sendo capazes de acrescentar talento ao
time canadense no momento da posse de bola. Schmidt, bem como Scott, esteve no grupo que disputou a Copa do Mundo no já distante 2011. Com o adicional de que a volante do Houston Dash havia participado e marcado gol no mundial de 2007.
Outra opção durante o ciclo foi
Victoria Pickett, meio campista de bons momentos no futebol dos Estados Unidos
em anos passados. Porém, ela acabaria fora da lista de convocadas para a Copa. Jessie
Fleming é o maior símbolo dessa mudança constante que o Canadá costuma ter e
também a facilidade de alterar esquemas sem necessariamente mudar atletas em
campo. A jogadora do Chelsea já foi volante de saída de bola, armadora e também
atacante em competições passadas.
Jessie Fleming já atuou em todas as funções centrais do meio campo e até mesmo no ataque. Ela é uma das atletas com maior recurso técnico no time comandado por Bev Priestman. Foto: Goal |
Versatilidade também é o forte de Olivia Smith, normalmente uma meia-atacante, mas que pode atuar no centro do ataque ou pelos lados do campo. Aos 18 anos, ela foi a grande surpresa na lista final, visto que deixaria para trás rivais de maior experiência internacional. Smith chamou a atenção da comissão técnica especialmente pelo Mundial Sub-20 de 2022. Por conta dessa facilidade na troca de funções por parte de diferentes atletas, é difícil prever uma “equipe-base” para a competição inteira. As escolhas técnica e tática de Bev provavelmente vão ocorrer de acordo com o que for proposto pelo time rival.
Sempre importante lembrar: a
escolha das meio campistas influencia muito o estilo de jogo do Canadá. Recordemos
que pelo menos uma lateral é figura marcante no campo ofensivo, então é
provável que uma volante de maior poder de marcação seja utilizada nos duelos
ante Nigéria e Austrália. Isso porque essas dois conjuntos contam com muita movimentação
de suas atletas de frente e normalmente utilizam meio campistas capazes de
frequentar os espaços entre as linhas de defesa e meio campo.
Contra a Irlanda, entretanto, não
seria nada surpreendente ver o Canadá em uma formação com Fleming e Grosso, dupla
que se sente bem confortável com a posse de bola e que é capaz de pensar o jogo
com maior velocidade e qualidade. Num 4-2-3-1, Christine Sinclair normalmente
atua atrás da isolada centroavante (ela sendo Jordyn Huitema ou Evelyne Viens),
mas com total liberdade para recuar no espaço das volantes para participar mais
da construção.
Ainda que não seja titular absoluta, Jordyn Huitema é uma jogadora que já mostrou qualidade nos momentos ofensivos. Trata-se de uma alternativa interessante para o Canadá. Foto: Maddie Meyer |
Certo é que, sem a bola, a craque troca de posicionamento com a atacante central, ficando sem tantas responsabilidades defensivas. Além disso, a capitã se encarrega do passe decisivo para quem aparece em velocidade pelos lados do campo assim que a equipe retoma a posse de bola e organiza o contra-ataque. Uma alternativa é utilizar Sinclair como referência no ataque, em um 4-3-3 que se assemelha a um 4-3-1-2 em losango.
Neste cenário, já utilizado em
confrontos amistosos, podemos esperar a artilheira canadense atuando como atacante
de mobilidade e não guardando posição fixa na frente. Seu nível técnico e
também a inteligência para ocupar e abrir espaços diante de defesas adversárias
fazem a diferença e dificultam bastante uma possível marcação individual
proposta pela outra equipe. Sem contar que, com Sinclair ocupando uma zona do
campo mais avançada, o combinado da CONCACAF ganha em matéria de recomposição
com suas duas atletas de lado do campo.
Se recordarmos que Lawrence/Riviere
é uma lateral-direita bastante ativa no apoio, essa tática serve para o Canadá
ter um meio mais preenchido e com jogadoras acostumadas e capazes de realizar o
papel de se projetar à frente quando a seleção ataca e de recuar e fechar espaços
quando se defende. Para esse importante trabalho de lado de campo, sobram nomes
de qualidade na equipe comandada pela inglesa Bev Priestman. Apesar de as
lesões afligirem a continuidade de algumas delas durante o ciclo, é fato que o
time canadense conta com opções muito interessantes para esse setor do campo.
Nichelle Prince foi mais um nome do elenco que vai à Copa que sofreu com lesões num período recente. De qualquer forma, ela será alternativa para o torneio. Foto: Francisco Seco (AP) |
Nichelle Prince e Adriana Leon largam na frente por serem alternativas para o lado esquerdo e direito. Além de serem bastante eficientes na frente com seus respectivos estilos de jogo, elas se destacam pelo trabalho duro que fazem também na fase defensiva. Prince se machucou em um dos amistosos realizados contra o Brasil em Novembro do ano passado e perdeu o início da temporada com o estadunidense Houston Dash por conta desse problema na perna direita.
Em seus melhores momentos, a
jogadora de 28 anos adiciona potência física e velocidade, além de levar perigo
em lances aéreos. Já Leon acrescenta movimentação e tem um estilo de jogo mais
próximo ao de uma atacante do que propriamente ao de uma ponta. Outra atleta
afetada com problemas médicos na reta final do ciclo foi Deanne Rose. Mais uma
alternativa para o lado do campo, a jogadora do Reading sofreu grave lesão no
tendão de Aquiles no mês de Setembro e desde então passou a correr contra o
tempo para estar disponível até a Copa do Mundo.
O seu time acabaria rebaixado no
campeonato inglês ao final de uma temporada onde Rose só atuou por 25 minutos
de Setembro até o final de Maio, quando retornou aos gramados para os duelos
contra Tottenham e Chelsea. Por conta dessa longa ausência, suas reais
condições físicas são incertas. Mesmo assim, sua importância e a moral que tem com a comissão técnica certamente influenciaram a decisão de Priestman pela convocação da atleta.
As temporadas recentes de Cloé Lacasse no Benfica chamaram a atenção do Arsenal. Uma artilheira nata, é bastante possível que ela ganhe bons minutos dentro da Copa. Foto: Canada Soccer |
Quem não se recuperou a tempo de disputar o mundial por conta da gravidade da lesão foi a titularíssima Janine Beckie. Trata-se de uma perda gigantesca para o Canadá, já que a atual jogadora do Portland Thorns era um dos nomes mais versáteis do elenco e rendia muito bem como meia ou lateral (independente do lado onde atuava). Dribladora e veloz, Beckie se caracterizava também pelos cruzamentos em direção à área adversária, já que pega bem na bola.
De qualquer forma, eficiência,
esforço e bons nomes não faltam no setor ofensivo canadense. Isso pelo fato de
a comissão técnica contar, durante o ciclo, com a dupla formada por Cloé
Lacasse e Jenna Hellstrom. Ambas encontraram facilidade para atuar como
meia/ponta em um 4-2-3-1 ou num 4-3-3 e também como atacante em um possível
4-3-1-2, esquema que tem Christine Sinclair como o ponto de ligação entre
centro do campo e dupla de ataque. Entretanto, somente Lacasse está na lista
final. Hellstrom apresentou números mais discretos desde que se transferiu para a França.
E, de maior importância para Bev
Priestman do que essa polivalência, é a fase vivida por Lacasse.
Ou melhor: no ciclo como um todo. A agora atleta do Arsenal marcou nada menos
do que 102 gols pelo Benfica desde o início da temporada 2019/20. Curiosamente,
o seu mais alto número foi obtido no recém-concluído campeonato, onde a canadense
balançou as redes rivais 35 vezes em 43 partidas realizadas. Seu desempenho a
coloca no mínimo como uma boa opção à Jordyn Huitema ou Evelyne Viens para o
andamento da Copa.
Destaque – Christine Sinclair
Os mais de 100 gols marcados pela
seleção nacional falariam por si só. Porém, reduzir Sinclair a uma “goleadora”
não é condizente com o que se viu e vê dela em campo. Tecnicamente muito acima
da média, é possível notar que os 40 anos de idade não influenciam no nível
altíssimo da atleta. Que já foi centroavante, armadora e que hoje praticamente
escolhe onde quer aparecer em campo.
Por vezes uma atacante de
mobilidade e por vezes uma meio campista a mais (bem próxima das volantes), é
certeza que todas as movimentações ofensivas do Canadá devem ter sua participação
em algum momento. A conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio
serviu como um merecido prêmio a uma das grandes atletas da história da
modalidade e que teve justamente em Olimpíadas os seus melhores momentos, visto
que ela venceria dois bronzes nas edições de 2012 e 2016.
É chegado o momento de Canadá e Sinclair
obterem algo histórico também em Copas do Mundo? Novamente o país não entra no
torneio como favorito ao título, mas é um candidato a surpreender – exatamente
como aconteceu na Olimpíada. Primeiramente, porém, é preciso pensar em avançar à fase final e superar esse Grupo B traiçoeiro.
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