 |
FIVB/Divulgação |
*Com Marcos Antonio, Mariana Alves e Paulo César Guimarães
O Brasil estreia na Liga das Nações de vôlei masculino na próxima quarta (7) contra a Alemanha em Ottawa, no Canadá, e o líbero Maique é um dos principais nomes da seleção que inicia sua trajetória na temporada de seleções em 2023.
O líbero conversou com o Surto Olímpico por e-mail e falou sobre a importância da VNL na briga pela titularidade da posição: "A Liga das Nações é de extrema importância para estar mostrar meu trabalho, tendo oportunidade de jogar, poder crescer e buscar uma evolução em um ritmo estando ali, dentro de quadra, que é um ritmo completamente diferente. Isso agrega muito."
Maique também falou sobre as expectativas do Brasil na competição, os prós e contras em disputar um pré-olímpico em casa, temporada no Minas, o acolhimento do vôlei para atletas LGBTQIA+ e Olimpíadas. Acompanhe abaixo a entrevista na íntegra:
- A posição de líbero titular da seleção é uma vaga muito disputada ao longo dos últimos anos. Acredita que a Liga das Nações acaba tendo uma importância a mais para essa busca para ser titular?
Pra mim tem uma grande importância. A Liga das Nações é um campeonato preparatório, que serve para os atletas, de modo geral, se prepararem para as principais competições que irão acontecer na temporada, até mesmo para as Olimpíadas. A Liga das Nações é de extrema importância para estar mostrar meu trabalho, tendo oportunidade de jogar, poder crescer e buscar uma evolução em um ritmo estando ali, dentro de quadra, que é um ritmo completamente diferente. Isso agrega muito.
- Você vê o Brasil como favorito para conquista do título? É importante conquistar o título para ganhar moral para as próximas competições ou o principal é que a equipe se acerte e encontre as peças que melhor se encaixam para as próximas competições?
A gente trabalha pra isso e sempre se vendo como favorito. Vai ser uma competição longa, dificílima e bastante equilibrada, até porque tem outras seleções muito boas, renovadas, mas nosso favoritismo sempre continua. É Brasil, né? As expectativas são sempre as melhores, independentemente, de qualquer competição que a gente jogue.
- Você se tornou um dos jogadores mais queridos pela torcida brasileira, onde muitos te pedem como titular absoluto da seleção e você também é muito respeitado pelos outros jogadores. Conta pra gente como se sente com todo este carinho.
É gostoso estar sentindo isso, todo esse carinho que vem da torcida por mim e pelo meu trabalho. É uma troca porque é algo que eu transmito também, além de jogar. Fico muito feliz ter esse reconhecimento, esse carinho, essa admiração das pessoas. É isso que nos move. Pessoas que se inspiram na gente, que acreditam no nosso trabalho e estão sempre com a gente, ganhando ou perdendo. E também se cria uma afinidade, um certo respeito também dentro do nosso grupo de jogadores.
- Com o pré-olímpico sendo disputado no Brasil, você vê o fator casa, torcida, como um diferencial para pegar a vaga para Paris ou esse mesmo fator casa pode jogar contra e causar uma pressão extra?
Depende. São dois pesos e duas medidas. Jogando em casa a gente tem a pressão de fazer uma boa competição, conseguir a vaga para as Olimpíadas. Mas também tem o fator casa o calor, carinho e energia que só o brasileiro tem. Isso agrega muito e vai nos ajudar para conseguir essa vaga para as Olimpíadas de Paris.
- Você começou como ponteiro e hoje é uma referência na posição de líbero. Como foi essa transição? Não sente falta de atacar (ou de bloquear como tentou Rogerinho)?
No início joguei como ponteiro. Uma boa parte da minha adolescência, do meu início jogando vôlei. Foi uma fase muito boa, mas já desde o começo em sabia que se quisesse jogar em alto rendimento a minha estatura não ajudaria muito. Por acaso acabei virando líbero. Não foi algo que eu queria. Era algo que eu imaginaria conhecer, mas não imaginava que iria jogar em alto rendimento como líbero. Pensava que seria um jogador mediano, atacando, ou nem pudesse vingar jogando como ponteiro. Mas a posição de líbero me encontrou e eu comecei a gostar, a ficar ainda mais apaixonado pelo voleibol. Aconteceu e aqui estou. Às vezes jogo atacando com os amigos, mas não sinto falta de atacar. Gosto muito da minha função.
 |
Orlando Bento/MTC |
- Como você avalia sua última temporada de clubes no Minas?
Pensando individualmente, eu vejo que fiz uma excelente temporada. Consegui evoluir em vários aspectos, não só dentro de quadra, mas poder transmitir e levar um pouco de experiência para os mais novos e evoluir também no aspecto mental. De uma forma geral, fiquei bem satisfeito também com os
resultados da nossa equipe, que foram conquistados pelos frutos do trabalho de cada um. A gente chegou, praticamente, nas finais de todos os campeonatos. Consegui um ciclo maravilhoso, com alguns destaques individuais e que marcam ainda mais a minha trajetória, sendo referência e mostrando para mim que estou no caminho certo, buscando minha auto evolução, sempre me cobrando. É claro que sempre uma coisa ou outra a gente pode evoluir.
- Você já afirmou da importância do Nery Tambeiro em sua carreira. Como é a relação com o treinador, e como é saber que na próxima temporada de clubes ele não estará no Minas?
O Nery, para mim, é um pai. Sempre deixei muito claro para todo mundo que foi ele quem me deu a luz de poder me guiar fazendo o que eu amo, porque eu tinha parado de jogar quando o projeto do Três Corações acabou. Ele simplesmente me tirou do buraco, acreditou no meu trabalho, confiou no meu potencial, e lapidou isso. Tenho muita gratidão por ele. Vai ser uma temporada atípica porque a gente se acostumou com o Minas em um padrão, com as pessoas da comissão técnica e os jogadores. Para a próxima temporada está mudando tudo, mas vem o Gui (Guilherme Novaes), que por muito tempo trabalhou com o Nery, foi seu assistente-técnico. É um cara maravilhoso, dedicado, e com quem já tive a oportunidade de trabalhar. Com certeza, ele virá para agregar muito pra a nossa equipe. Chateado porque o Nery saiu, mas faz parte de todo um processo e da vida que a gente leva como atleta.
- Você ainda não teve nenhuma experiência atuando por equipes fora do país. É algo que está no seu radar?
Pretendo jogar fora do Brasil, conhecer outras culturas, e trabalhar com outros técnicos, outras metodologias de trabalho, que vai agregar muito na minha vida. É um objetivo. Quem sabe, na temporada 2024/25, após as Olimpíadas de Paris?
 |
FIVB/Divulgação |
- Você é um dos poucos jogadores dentre os esportes masculinos que assumiu gay, algo que no esporte feminino vemos muitas mais atletas que assumem sua homossexualidade .Você vê que o esporte masculino ainda é hostil para receber um atleta gay? O vôlei é um esporte mais aberto para receber atletas LBGTQIA+?
O esporte masculino ainda é um círculo machista. No feminino já é um pouco mais aberto. Elas vão entender, apoiar. Não convivo, mas tenho amigas que se sentem seguras nesse ambiente em poder ser realmente quem elas são. Já no esporte masculino, no futebol e em outros esportes, isso acaba sendo bem mais difícil. No vôlei, apesar de a nossa comunidade ser minoria, temos o nosso devido respeito e somos bem acolhidos. Em outras modalidades ainda é questionável ser gay. Vai muito do medo de querer ser quem são, e serem retaliadas, excluídas, ou de não serem aceitas naquele meio. Você só vai se abrir para o que realmente você é aonde você se sente seguro, acolhido.
- Ainda é cedo para falar de Olimpíada, mas a gente sabe que é o sonho da grande maioria dos atletas disputar uma edição de jogos olímpicos. Qual sua relação com as olimpíadas e suas lembranças como espectador?
A Olimpíada remete muito a minha infância porque eu comecei a me apaixonar por esporte e, principalmente, pelo vôlei, assistindo a Olimpíada na tevê. Ficava assistindo o dia todo. Ficava brincando em casa, principalmente, ginástica, que também sou apaixonado. O sonho de todo atleta é ser um atleta olímpico, independentemente se vai ser campeão, medalhista, mas só pelo fato de estar presente no evento, de viver toda aquela energia, atmosfera, que nós buscamos, é algo magnífico. Sigo firme nessa luta de busca realizar esse sonho. Não sei quando, mas não vou desistir enquanto não alcançar esse sonho. Já passei por muitas coisas até aqui, não vai ser agora que eu vou desistir.
0 Comentários