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O Outro Lado da Muralha: A China Comunista (Parte I)





14 anos após sediar a Olimpíada de Verão, Beijing será responsável por receber a 24ª edição dos Jogos Olímpicos de Inverno. O que é histórico, já que a capital chinesa será a primeira cidade do mundo a receber as duas competições.

Dando continuidade à apresentação do território chinês, responsável por sediar os Jogos Olímpicos de Inverno em 2022, é hora de continuarmos nossa breve passagem pelo país para contar pontos cruciais sobre o período pós Guerra Civil. Em resumo: é chegado o momento de mencionar o período pós-1949, com a formação da República Popular da China sob o comando do Partido Comunista.

Porém, os acontecimentos foram tantos nesse período de mais de 70 anos que será preciso dividir em duas partes. No texto atual, partiremos de 1949 e vamos até 1976, ano da morte do primeiro real líder do partido: Mao Tsé-tung. Só no mês de Novembro será destacado o período do país sob o comando de Deng Xiaoping, tido até hoje como o grande responsável pelo crescimento chinês enquanto potência global e que colocou em prática a ideia de forte comércio com países estrangeiros.

Mao, lembremos, chegou ao poder com forte apoio popular após ter passado quase que toda a década de 30 nas áreas rurais, que correspondiam a maior parte do território nacional à época. O ápice dessa convivência do Timoneiro com a população agrícola foi durante o período da Grande Marcha (1934-1935), com os comunistas em fuga rumo ao Norte buscando sobreviver aos ataques organizados pelos nacionalistas de Chiang Kai-shek.


Esse período no campo foi fundamental para que o grupo ganhasse mais confiança da grande maioria população e conseguisse compartilhar seus ideais com os camponeses. Sempre importante recordar que, durante o período em que o grupo comunista estava em deslocamento para o Norte, a China vivia uma guerra civil. E a isso ainda seria adicionado um conflito com o vizinho Japão poucos anos mais tarde, ainda que a influência desses nunca tivesse de fato cessado desde a primeira guerra sino-japonesa.



Esse diálogo com as camadas menos abastadas era um ponto distinto em relação aos demais países que buscavam revoluções populares, já que o dito proletariado chinês era composto em sua maioria por trabalhadores da área rural e não operários de fábrica. Muito por isso, por mais que seja possível notar pontos em comum no movimento que se formou também na Rússia décadas antes, a China possui seus próprios elementos revolucionários.

Em um mundo que já vivia a Guerra Fria, era preciso escolher uma das potências para construir aliança. Os interesses comunistas de Mao se alinhavam muito mais com os da vizinha União Soviética, e foi essa a parceria que se estabeleceu desde o princípio. O líder chinês teria trabalho para reconstruir e também modernizar o país após a China passar pelo chamado “século da humilhação” e ter sobrevivido heroicamente a movimentos internos de diferentes pensamentos em anos anteriores.

Inicialmente, Mao deu ênfase a uma política de distribuição de terras e também buscou dar direitos maiores às mulheres na questão do casamento. Simultaneamente, o governo chinês reforçou o seu exército nacional para que houvesse resistência caso acontecesse um ataque estrangeiro e também para repelir possíveis movimentos internos. O chamado Exército de Libertação Popular ocupou territórios como a Ilha de Hainan e também o Tibete.


Quem escapou de uma invasão por parte dos comunistas foi Taiwan, comandada pelos nacionalistas e que tinha o generalíssimo Chiang Kai-shek como principal liderança. Até hoje a China popular trata a ilha como “China rebelde” e se recusa a admitir a existência do país. Visão que é compartilhada também pelos vizinhos, que se consideram “a única e legítima China”. No âmbito esportivo, Taiwan compete sempre com a alcunha de Taipé Chinês.



Pensa-se que Mao e o exército nacional teriam de fato entrado em guerra com Taiwan se não fosse o combate que estouraria na próxima península coreana em 1950. Vale a pena relembrar que os nacionalistas que viviam no território taiwanês mantinham relações diretas com os Estados Unidos, de interesses opostos aos da China. Até hoje, mesmo com a República Popular Chinesa mais aberta ao estrangeiro, as tensões entre os lados se mantém.

O violento conflito na Coreia já mencionado acabou gerando a formação de dois estados e é lógico que Mao cooperou com o regime do norte, comandado por um Kim Il-sung que mais tarde seria o governante máximo do lado ao norte do paralelo 38. A China já havia colaborado durante os combates, auxiliando o exército popular com armamento e também guerrilheiros. Isso num momento onde os chineses pareciam retomar a ordem interna após tantos anos de incertezas.

Os planos quinquenais foram outra marca importante daquele período, visto que faziam parte do planejamento soviético e vinham dando resultado no território chinês. Áreas rurais e também indústrias em estágio de desenvolvimento acabariam recebendo importantes investimentos, sempre tendo como base uma economia planificada. Porém, o tempo trouxe problemas. Esses tinham como resultado expurgos de membros e também atraso em prazos de crescimento estabelecidos.


Isso ficaria mais visível anos mais tarde, quando o famoso “Grande Salto Adiante” fracassou retumbantemente. A ideia era desenvolver a China rapidamente e com metas absurdas de crescimento ano a ano, o que acabou não acontecendo. Com os seguidos insucessos e também precisando pagar contas com os soviéticos, o país se viu assolado em um grande problema financeiro. Resultado: a grande fome gerada por tantos erros de execução dos comunistas.



O período de 1958 até 1961 vitimou milhões de habitantes mas não chega exatamente a ser um fato extraordinário na história do país. Desde o Século XIX, pelo menos dez grandes períodos de milhões de mortes foram registrados em todo o território por escassez alimentar. Esse foi um gravíssimo problema durante o período e continua em pauta até hoje. Muito por conta desse passado, não surpreende que o país tenha comemorado tanto a recente erradicação da pobreza extrema dentro de suas fronteiras.

Voltemos à década de 50. Sem estrutura para atingir as metas estabelecidas pelo alto escalão do partido e com denúncias graves de corrupção durante todo o período, o planejamento acabou deteriorando as relações também com o parceiro. Naquele momento, células dentro do partido culpavam o papel de subserviente da China aos soviéticos como a principal causa dos números abaixo do esperado e os consequentes problemas que vieram.

Afinal, a dívida com os vizinhos fizera com que os chineses exportassem seus mantimentos enquanto o próprio povo sofria. É possível ver que a política chinesa atingia um novo nível, já que Mao e todo o partido agora optavam por uma ideia de expansão do seu protagonismo no Leste da Ásia. Mais do que isso, o país mais tarde tentaria se desvencilhar do domínio soviético, representante principal do ideal socialista no mundo.

Os comunistas chineses percebiam a nação como uma potência capaz de guiar seus próprios rumos e não mais como um seguidor de ordens de outros. A própria interferência no conflito ocorrido na península coreana nos mostra isso, com a China passando a interferir diretamente em combates na sua região. A consequente guerra na Indochina também serve para mostrar que os chineses buscavam agora sua própria soberania e tinham agenda baseadas em seus interesses.


Esse clima conturbado e a troca de acusações fizeram com que os soviéticos deixassem a China no começo da década de 60 e não mais colaborassem com a estruturação do parceiro. Mao, líder dos comunistas, passou a sofrer com críticas internas e a sua liderança perante ao povo foi impactada com o fracasso no grande salto. Foi buscando uma retomada que ele lançou mão da Revolução Cultural no final daquela década.



O Grande Timoneiro afirmava que liberais e burgueses ainda estavam emperrando o crescimento nacional. Isso é adicionado ao que ocorreu anos antes, quando Mao incitou intelectuais a falarem o que realmente pensavam da revolução comunista até aquele momento. Devido a uma série de críticas que foram recebidas, o líder chinês começou uma perseguição ferrenha aos críticos. A Revolução Cultural foi tão somente uma continuação disso.

Na década de 70, a China passou a se abrir mais para o mundo. Principalmente através de Zhou Enlai, braço direto do governante da China e primeiro-ministro durante todo o período 1949-1976. Foi ele o responsável maior por dialogar com vizinhos como Japão e também a intermediar negociações com os outrora rivais ferrenhos norte-americanos. Por agora aceitar conversas com os ocidentais, percebia-se o quanto a amizade com os soviéticos havia se desgastado durante aquele período.

As relações entre Estados Unidos e China acabaram se fortalecendo com o passar do tempo, com a viagem até o Oriente de Henry Kissinger. Mais tarde, o próprio presidente americano Richard Nixon acabaria conhecendo o território chinês e manteria um diálogo dos mais pacíficos com o alto escalão do partido comunista. Ou seja, ainda com Mao em vida a China dava essa guinada e revertia as peças do tabuleiro, passando a manter relações amistosas com norte-americanos.

Porém, Mao acabaria morrendo em 1976, pouco tempo depois. Curiosamente, seu parceiro Zhou Enlai morrera naquele mesmo ano e obrigaria o país a uma reformulação grande no espectro alto da governança. Ainda que o partido tivesse outras evidentes lideranças, ambos haviam passado todo o processo de guerrilhas e também a formação da “Nova China” no topo da pirâmide partidária. Após períodos de incertezas, o país acabaria tendo em Deng Xiaoping o real sucessor de Mao.

Fotos: China.org

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