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Projetos de paragolfe criam espaços de inclusão e buscam desenvolvimento da modalidade no Brasil


Quando se fala em esporte adaptado, logo as pessoas pensam nas modalidades mais populares e que fazem parte do programa paralímpico. Mas alguns projetos no Brasil estão criando novos espaços de inclusão para pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em que buscam desenvolver o desporto, algo que está ocorrendo, por exemplo, no caso do paragolfe.

De acordo com a Confederação Brasileira de Golfe (CBGolfe), nosso país conta com aproximadamente 250 pessoas nos vários projetos que tentam fomentar o desenvolvimento do paragolfe. Estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul estão entre aqueles que contam com um trabalho de difusão da modalidade.

E um desses projetos é realizado na APAE de Bagé, no Rio Grande do Sul, e foi idealizado pelo professor de educação física, Thomaz Segredo. O pontapé inicial foi dado ainda em sua época de estudante universitário, como um trabalho de conclusão de curso. Mas o esforço ganhou reconhecimento e passou a ser implantado, chegando a ter 20 praticantes.



Vai além de só jogar. É uma oportunidade de viver algo novo, ver coisas que nunca foram vistas, ter melhor qualidade de vida, aumento de autoestima.

Além do golfe não ser um dos esportes mais populares dentro do Brasil, a modalidade exige ainda algumas adaptações para que a falta de estrutura seja superada. Quando começou o trabalho na APAE, Segredo realizava treinos num campo de futebol, sem as mesmas especificações de um campo de golfe. O professor ainda buscou parcerias, para que periodicamente pudesse levar seus alunos ao clube que há no município.

Outra dificuldade enfrentada é a falta de cadeiras especiais para a prática do esporte, problema enfrentado em outros locais do país. Equipamentos tecnológicos como este são importados e podem chegar a valores de até 20 mil dólares.

O paragolfe em nível competitivo no Brasil

Segundo o levantamento de dados da CBGolfe, cerca de 30 paragolfistas praticam regularmente o esporte, com participação até mesmo em torneios da modalidade. Um desses representantes brasileiros no paragolfe é Lucas Oliveira, um dos poucos que contam com uma cadeira especial para a prática, obtida por meio de uma doação.

Lucas Oliveira treina utilizando a cadeira específica para a prática do paragolfe. Foto: Arquivo pessoal

Um dos mais experientes no Brasil, Oliveira foi um dos sete representantes nacionais que jogaram o Campeonato Mundial de Paragolfe, realizado em Mallorca, na Espanha, no ano de 2018. Mas o paratleta revela que mesmo assim é difícil se manter no esporte e ele se divide entre treinamentos e atividades que lhe dão renda.

“Eu recebo apoio da CEJAM, uma entidade sem fins lucrativos. Mas ainda faltam parceiros para o desenvolvimento do esporte. Temos necessidades em que às vezes precisamos ter um dinheiro reservado para fazer manutenção da cadeira, ou para ir para campeonatos e com apoiadores esse caminho seria mais fácil”, disse Oliveira, que trabalha em uma empresa prestadora de serviços de tecnologia. Para complementar a renda, o golfista ainda auxilia sua esposa, que vende cachorro-quente.

E para conseguir treinar em um campo específico de golfe, o dia a dia de Oliveira é “uma viagem”, como o próprio atleta constata. Ele mora em Osasco e se desloca usando as linhas paulistanas do metrô (todas com elevadores, que proporcionam acessibilidade), para chegar no São Paulo Golf Club, no bairro de Santo Amaro. São 13 estações percorridas, só contando a ida, fora o deslocamento na rua, que adicionam mais 20 minutos no caminho até chegar ao destino.

“É gostar do esporte, porque se eu não gostasse mesmo, não tava mais não”, disse Oliveira, com bom humor. “Eu faço toda essa ‘caminhada’ então eu sei. Mas a gente não pode desistir né”.

A curiosidade e motivação levaram Lucas Oliveira ao paragolfe. Procurando formas de começar a jogar, ele passou a ser apoiado pela Federação Paulista de Golfe (que já tinha um projeto no golfe adaptado), o que lhe rendeu suas primeiras experiências com a modalidade, em 2017.

Foto: Arquivo pessoal
Me sinto bem praticando paragolfe. Tanto no lado físico, como no emocional. Hoje sou uma pessoa mais concentrada, equilibrada, coisas que foram proporcionadas por esse esporte. Mas assim, eu não uso o golfe só como um passatempo e eu entendo todos os benefícios que ele me traz. Mas estou na luta diária para representar o Brasil e quem sabe um dia disputar os Jogos Paralímpicos.

A modalidade não faz parte do programa paralímpico, que por enquanto não apresentou mudanças ou adições para Paris 2024, em relação ao que foi organizado em Tóquio, neste ano. Porém, órgãos reguladores do paragolfe, como a própria CBGolfe, acreditam que em breve o esporte fará parte do megaevento.

O que é feito pela entidade que regula a modalidade no Brasil?

Atualmente a CBGolfe conta com um setor específico para cuidar do desenvolvimento do esporte. Entre outros desafios, a diretoria de inclusão e paragolfe da entidade terá pela frente a tarefa de retomar eventos após o auge da pandemia de covid-19 e criar novas oportunidades para dar competitividade aos atletas mais experientes, algo que já está nos planos de Juracy Barros, diretora da pasta.

Teremos ações efetivas para o fomento e desenvolvimento do esporte, apoiando e fortalecendo projetos já existentes e levando modelos de sucesso para outros campos, clubes e instituições, adaptando para a realidade local dos interessados. Precisamos também apoiar e capacitar professores interessados em iniciar os projetos em suas cidades, buscando cada vez mais o aumento no número de praticantes do paragolfe.

Além de fazer com que mais pessoas possam usufruir dos benefícios físicos e psicossociais proporcionados pela modalidade, como uma melhor qualidade de vida, outro objetivo da diretoria é formar uma equipe fixa para representar o país em torneios de nível internacional.

“Esperamos também que cada vez mais surjam novos projetos sociais que levem o golfe para pessoas com deficiência, pois assim vamos ver mais paragolfistas nos campos”, disse o presidente da CBGolfe, Osmar da Costa Sobrinho. “A criação de uma diretoria de inclusão dentro da entidade faz parte de um plano estratégico para o desenvolvimento do paragolfe no nosso país”.

Foto: Arquivo pessoal/Lucas Oliveira

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