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Atletas e dirigentes se unem para salvar canoagem brasileira de crise


*Com Mateus Nagime

No começo desta semana, na segunda-feira (21), a canoagem brasileira se reuniu por um triste motivo, o encerramento das atividades da CBCa. Corpo técnico e os principais atletas da modalidade, como os medalhistas de ouro em Tóquio na canoagem velocidade, Isaquias Queiroz e Fernando Rufino, além das estrelas do slalom, Ana Sátila e Pepê Gonçalves, participaram de uma coletiva de imprensa com o intuito de esclarecer a situação da Confederação Brasileira de Canoagem, pedir ajuda para a sociedade e mostrar união na tentativa de resolver os problemas.


Na semana passada, a entidade anunciou a demissão de todos seus funcionários em razão de uma dívida "impagável" que ameaça a entidade e seus programas.  Com o intuito de não entrar em dívida, a entidade preferiu honrar os compromissos e  anunciar os problemas pelos quais passa.


De 1998 a 2002, a CBCa recebia patrocínio dos bingos de São Paulo, através da então Lei Zico. O presidente da Confederação, Jonathan Maia, afirmou que no contrato estipulado com a empresa administradora dos bingos, esta seria responsável por todos os recolhimentos de ISS (impostos de São Paulo). 


Contudo, tais impostos não foram pagos e a dívida ficou no nome da confederação, que cedeu seu CNPJ. A CBCa, foi notificada judicialmente em 2005, quando começou o processo. Atualmente, o valor atualizado da dívida está, aproximadamente, em 6 milhões de reais, “um valor impagável para a situação atual”, de acordo com Maia.


Jonatan Maia, Presidente da CBCa (Foto: Divulgação/CBCa)

Segundo Maia, todos os recursos e tentativas de reverter o processo já se esgotaram. “Lamentavelmente, estamos herdando uma herança, após os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em que tivemos resultados excelentes. Não temos muitas escolhas, a não ser buscar as soluções”, disse o dirigente.


O advogado da CBCa, Jean Gorski Cordeiro, explicou que o processo foi encaminhado para o Supremo Tribunal Federal (STF) e STJ. “Todas medidas judiciais cabíveis foram tomadas", segundo ele. Assim, deverá acontecer um bloqueio de contas da entidade, após tentativas sem sucesso de evitar isto na Justiça de São Paulo. 


Ainda em sua fala, Jonatan disse que não existe uma perspectiva de quando o bloqueio acontecerá e as medidas tomadas agora foram feitas justamente para que "não fossemos pegos de surpresa e ficássemos de mãos atadas. Se o bloqueio acontecesse com dinheiro em conta (oriundos do COB ou CPB), eles não poderiam nos ajudar pois estaríamos inadimplentes com eles”.


O presidente ainda destacou o comprometimento desta gestão, em não deixar os funcionários e colaboradores da CBCa sem os seus direitos de trabalhadores. Sendo assim, todos foram demitidos pela confederação para que tivessem a oportunidade de receber os devidos pagamentos. Ainda assim, diversos empregados da confederação se disponibilizaram em trabalhar, de forma voluntária, durante o processo de recuperação da entidade esportiva.


A criação de uma nova entidade, com CNPJ diferente, como já aconteceu com outras confederações seria uma opção que precisa de "um consenso de uma assembleia geral e de um processo jurídico para saber se esse andamento seria válido”, como afirmou o presidente.


A preocupação maior é com a base, já que a CBCa auxilia atletas que fazem parte do centro de treinamento e da manutenção deles, mas existe a perspectiva que o COB e CPB auxiliem nesta parte. Os eventos nacionais também foram cancelados, como o Campeonato Brasileiro que seria realizado de 23 a 25 de setembro, e que seria seletiva para campeonatos internacionais.


Atletas pedem ajuda e relembram importância da CBCa

Durante a coletiva, todos os atletas presentes tiveram um momento para falar de suas preocupações e comentar o momento vivido pela entidade. Eles atletas mostraram a tristeza pela situação na qual a CBCa se encontra, e o medo de que a decisão tomada pela confederação, e uma possível falta de apoio no futuro próximo, possam afetar o trabalho de base do esporte.


Presentes como representantes de todos os canoístas do Brasil, os canoístas ressaltaram durante suas falas o pedido de união entre os membros e colaboradores da canoagem do Brasil, e a colaboração dos meios de mídia, para que possam ajudar na divulgação e esclarecimento de todas as questões que envolvem esta dívida milionária da CBCa.

Ana Sátila foi finalista olímpica e é dona de títulos de Copa do Mundo (Foto: Wander Roberto/COB)

Ana Sátila acredita na união da comunidade da canoagem.


Confesso que foi um choque muito grande quando eu recebi a notícia, acho que nós atletas sempre soubemos, querendo ou não, um pouco dessa dívida da CBCA com os bingos. E sempre imaginei quando isso iria chegar à tona, e não demorou muito.


Mas eu acho que a união vai fazer a diferença nesse momento, a gente têm que continuar junto, trabalhando pelo bem da canoagem entre os clubes, e entre os próprios atletas.


Tenho esperança que vamos sair dessa com muita união, com muito trabalho; é uma situação difícil e muito complicada, mas acredito que a canoagem já passou por muita coisa nos últimos anos, sobrevivemos à muitas tempestades, então, acho que juntos, focados, surgirá uma luz no fim do túnel.



Fernando Rufino, campeão paralímpico e mundial, relembrou o ano importante para a canoagem e da importância de continuar as atividades em alto nível. 

Esse ano foi um ano muito glorioso para canoagem e para a paracanoagem. Nós temos esse momento maravilhoso e queremos continuar ele pra esse próximo ciclo em Paris 2024.

Eu já tinha um conhecimento do que vinha acontecendo e uma das maiores preocupações pra mim é sanar essa dívida o mais rápido possível, voltar às atividades da CBCa, uma vez que temos tanta gente precisando.


Fernando Rufino foi campeão paralímpico e mundial em menos de duas semanas (Foto: Miriam Jeske/CPB)


Este foi o tom também da fala de Pepê Gonçalves, mencionando o aumento de interesse de crianças e jovens na prática do esporte e que a interrupção das atividades pode significar o desaparecimento de novas estrelas do esporte.

A canoagem têm tudo nas mãos nesse grande momento que a gente está. Todo mundo está olhando pro Isaquias, a criançada tá querendo pegar um caiaque e entrar na água e remar, só que tudo isso fica mais difícil com o que está acontecendo nesse momento.

 

Foi feito errado lá atrás, tem que pagar, a gente não tá pedindo pra ninguém perdoar as dívidas, ou esquecer isso, mas a gente quer também que seja justo.  Na minha concepção, que não entendo tão profundamente disso, acho que foi errado castigar a canoagem por conta disso... gente tá pagando por um erro do passado.


Isaquias Queiroz comentou ainda que se os atletas ficaram quietos sobre o problema no passado, foi porque "o nosso silêncio era em função do treinamento, e por conta disso, conquistamos quatro medalhas em Tóquio”.

Pra mim, é uma coisa muito triste ver a canoagem desse desse jeito hoje, até pelos resultados que tivemos agora... a minha vontade é que isso acabe logo para que a gente, os atletas, possam treinar com tranquilidade e felicidade.


Isaquias também comentou sobre a possibilidade de colaborar na realização da seletiva brasileira marcada, até então, para o mês de outubro. Evento que serviria na seleção dos atletas convocados para o próximo Sul-Americano da categoria.


Foto de capa: Jonne Roriz/Divulgação/Comitê Olímpico Brasileiro

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